O Futuro da Energia e do Alimento Tem Sotaque Brasileiro, Afirma CEO da JBS
O cenário global da produção de alimentos e energia está passando por transformações significativas, e o Brasil se posiciona como um ator chave nessa nova ordem. Gilberto Tomazoni, CEO Global da JBS, reforçou essa visão durante o 24º Congresso Brasileiro do Agronegócio, promovido pela Associação Brasileira do Agronegócio (Abag). Sua participação no painel “Alimentos, Energias e Inovação” destacou o potencial do país para liderar a produção sustentável e garantir a segurança alimentar em um mundo com crescente demanda.
Tomazoni enfatizou a importância de reconhecer o modelo de produção brasileiro e a metodologia nacional de mensuração de sustentabilidade. Ele argumentou que o Brasil possui uma combinação única de recursos naturais, tecnologia e expertise que o capacitam a produzir alimentos e energia de forma eficiente e responsável. A visão do CEO da JBS não é apenas otimista, mas também um chamado à ação para que o Brasil defenda seus interesses e fortaleça sua posição no cenário internacional.
Brasil: Um Gigante na Produção Global de Alimentos
O Brasil já é reconhecido como um dos maiores produtores globais de alimentos, desempenhando um papel vital no abastecimento do planeta. Sua vasta área agricultável, clima favorável e tecnologias avançadas permitem a produção em larga escala de grãos, carnes, frutas e outros produtos essenciais. A capacidade de produção do Brasil é crucial para garantir a segurança alimentar mundial, especialmente em um contexto de crescimento populacional e mudanças climáticas.
No entanto, o país enfrenta desafios para consolidar ainda mais sua posição. Tomazoni apontou que barreiras tarifárias e normas de regulação, especialmente as impostas pela Europa, dificultam a entrada de produtos brasileiros no mercado global. Superar esses obstáculos é fundamental para que o Brasil possa expandir suas exportações e contribuir ainda mais para a segurança alimentar global.
A Defesa da Metodologia Brasileira de Cálculo de Emissões na Pecuária
Um dos pontos centrais da fala de Tomazoni foi a defesa de uma metodologia de cálculo de emissões de carbono na pecuária que considere a capacidade de captura das pastagens. A metodologia tradicional muitas vezes foca apenas na emissão de metano pelos rebanhos, ignorando o papel fundamental das pastagens na absorção de CO2 da atmosfera. Essa abordagem incompleta pode levar a conclusões equivocadas sobre o impacto ambiental da pecuária brasileira.
Tomazoni destacou o papel crucial do ruminante no ciclo de carbono, explicando que o gado transforma carbono e fibras em proteína. Além disso, a gramínea consumida pelo gado sequestra CO2 do ar e o armazena no solo, enquanto os dejetos dos animais contribuem para melhorar a saúde da terra. Essa visão holística é fundamental para uma avaliação precisa do impacto ambiental da pecuária.
Pecuária Integrada: Solução, Não Problema Ambiental
Tomazoni enfatizou que a pecuária brasileira, especialmente quando integrada a sistemas de lavoura e floresta, representa uma solução para o ambiente, e não um problema. A integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) é uma prática que combina a produção de alimentos, a criação de animais e o cultivo de árvores em uma mesma área, promovendo a diversificação, a conservação do solo e a redução de emissões de gases de efeito estufa.
Essa abordagem inovadora permite a otimização do uso da terra, a melhoria da fertilidade do solo e a redução da dependência de insumos externos. Além disso, a ILPF contribui para a captura de carbono da atmosfera, ajudando a mitigar as mudanças climáticas. A pecuária integrada é um exemplo de como a produção de alimentos pode ser realizada de forma sustentável e em harmonia com o meio ambiente.
A Importância do Apoio às Entidades Representativas do Setor
Para fortalecer a posição do Brasil no cenário global, Tomazoni enfatizou a necessidade de apoiar as entidades representativas do setor. Essas entidades desempenham um papel crucial na defesa dos interesses do agronegócio brasileiro, na promoção de boas práticas e na interlocução com o governo e a sociedade.
Através das entidades representativas, o setor pode ter uma voz mais forte e influente na formulação de políticas públicas, na negociação de acordos comerciais e na disseminação de informações sobre a sustentabilidade da produção. O apoio a essas entidades é fundamental para garantir que o agronegócio brasileiro possa continuar a crescer e a contribuir para o desenvolvimento do país.
Fazenda Roncador: Um Modelo de Sustentabilidade Validado pela Embrapa
Tomazoni mencionou os estudos de 10 anos da Fazenda Roncador, no Vale do Araguaia, chancelados pela Embrapa, como um exemplo de sucesso de pecuária sustentável. A Fazenda Roncador é um projeto inovador que combina a produção de carne com a conservação da biodiversidade e a mitigação das mudanças climáticas.
Os estudos realizados na fazenda demonstram que é possível produzir carne de forma eficiente e rentável, ao mesmo tempo em que se preserva o meio ambiente. A intenção de Tomazoni é levar esses dados à COP30 e propor a inclusão do modelo de redução de carbono nas NDCs (Contribuições Nacionalmente Determinadas) do Brasil. A validação científica do modelo da Fazenda Roncador pode ser um passo importante para o reconhecimento da sustentabilidade da pecuária brasileira em nível internacional.
O Brasil como Agente de Segurança Alimentar Global
Tomazoni destacou a importância de o Brasil usar sua tecnologia e vantagem competitiva para fomentar o comércio global como agente de segurança alimentar. O país possui uma grande oportunidade de ser a ponte necessária para levar tecnologia de produção a países que enfrentam insegurança alimentar.
Com 2,3 bilhões de pessoas afetadas pela insegurança alimentar de forma severa ou moderada, a necessidade de aumentar a produção de alimentos de forma sustentável é urgente. O Brasil pode desempenhar um papel fundamental nesse processo, compartilhando sua expertise e tecnologia com outros países e ajudando a desenvolver sistemas de produção mais eficientes e resilientes.
Comércio como Porta de Entrada para a Tecnologia Brasileira
A visão de Tomazoni é que o Brasil pode usar o comércio como porta de entrada para levar a tecnologia desenvolvida no país para desenvolver a produção local em outros países. Em vez de simplesmente exportar alimentos, o Brasil pode exportar conhecimento e tecnologia, ajudando outros países a aumentar sua própria produção e a reduzir sua dependência de importações.
Essa abordagem inovadora pode gerar benefícios tanto para o Brasil quanto para os países que enfrentam insegurança alimentar. Ao compartilhar sua tecnologia, o Brasil pode fortalecer sua posição como líder global em produção sustentável e contribuir para a construção de um sistema alimentar mais justo e equitativo. Isso poderia envolver desde técnicas de plantio direto até o desenvolvimento de softwares de gestão agrícola, adaptados às realidades locais.
A COP30 e a Oportunidade de Apresentar o Modelo Brasileiro
A Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP) é um evento anual que reúne líderes mundiais, cientistas e representantes da sociedade civil para discutir e negociar medidas para combater as mudanças climáticas. A COP30, que será realizada no Brasil em 2025, representa uma oportunidade única para o país apresentar seu modelo de produção sustentável e defender seus interesses no cenário internacional.
Tomazoni mencionou que a pecuária será tema de debate na Blue Zone, durante o evento. A Blue Zone é a área da COP reservada para eventos oficiais e negociações. A participação do Brasil na Blue Zone representa uma oportunidade para o país apresentar seus estudos e projetos sobre pecuária sustentável e para influenciar as decisões e políticas climáticas em nível global.
Futuras Perspectivas
O futuro da energia e do alimento está intrinsecamente ligado à capacidade do Brasil de aproveitar seu potencial e de superar os desafios que se apresentam. A visão de Gilberto Tomazoni, CEO Global da JBS, ressalta a importância de reconhecer o modelo de produção brasileiro, de defender a metodologia nacional de cálculo de emissões na pecuária e de investir em tecnologias e práticas sustentáveis.
O Brasil tem a oportunidade de se tornar um líder global em produção sustentável e de contribuir para a segurança alimentar em um mundo com crescente demanda. Para isso, é fundamental que o país continue a investir em pesquisa e desenvolvimento, a promover a integração lavoura-pecuária-floresta e a apoiar as entidades representativas do setor. O futuro da energia e do alimento tem, sem dúvida, um sotaque brasileiro. O país está bem posicionado para moldar esse futuro, garantindo um sistema alimentar mais sustentável, resiliente e justo para todos. A colaboração entre os setores público e privado, juntamente com o engajamento da sociedade civil, será essencial para alcançar esse objetivo.
Última atualização em 13 de agosto de 2025