Supersafra não vai aliviar inadimplência do produtor rural, analisa Serasa Experian
Uma safra recorde, que normalmente seria motivo de alívio para o bolso do produtor rural, não está conseguindo reduzir a crescente inadimplência que afeta agricultores e pecuaristas brasileiros. De acordo com Marcelo Pimenta, head de Agronegócio da Serasa Experian, a expectativa de que o aumento da produção traria mais receita e, consequentemente, maior capacidade de quitação das dívidas, enfrenta um cenário econômico desfavorável que mantém o produtor preso em um ciclo de endividamento.
Este levantamento recente, divulgado pela Serasa Experian, confirma que a inadimplência entre os produtores rurais atingiu 7,9% no primeiro trimestre de 2025, evidenciando uma persistente alta no indicador, apesar de uma supersafra e das medidas de crédito oficial colocadas em prática.
Contexto Atual da Inadimplência no Agronegócio
O índice de inadimplência de 7,9% representa um aumento de 0,3 ponto percentual em relação ao último trimestre de 2024, e 0,9 ponto percentual maior se comparado ao mesmo período do ano anterior. Este crescimento contínuo é um indicativo claro de que fatores macroeconômicos desfavoráveis têm impactado negativamente a saúde financeira do setor rural.
Marcelo Pimenta destaca que, mesmo com mudanças nas políticas de crédito por parte dos bancos, que passaram a exigir garantias maiores para diminuir riscos, o endividamento continua em alta. Isso demonstra que a demanda por crédito e os desafios enfrentados pelos produtores estão além dos ajustes institucionais, envolvendo também a conjuntura econômica mais ampla.
Impactos da Elevação dos Juros, Inflação e Câmbio no Endividamento
Os juros elevados são apontados como um dos principais vilões da situação atual. Com a taxa Selic atingindo 15% ao ano — um aumento significativo em relação ao ano anterior quando estava em 10,5% — o custo do dinheiro para o produtor rural tornou-se mais alto, dificultando o pagamento de dívidas e a obtenção de novos financiamentos em condições acessíveis.
Além disso, a inflação persistente e a desvalorização cambial pressionam os custos de produção, já que muitos insumos agrícolas possuem preços atrelados ao dólar. Isso aumenta o gasto dos produtores com fertilizantes, defensivos, máquinas e outros insumos essenciais, comprimindo margens e elevando o risco financeiro associado à atividade.
Ciclo de Endividamento e Restrições no Crédito
Marcelo Pimenta explica que muitos produtores que enfrentam inadimplência hoje estão pagando pelas decisões financeiras tomadas anos atrás, quando houve expansão dos negócios e a contratação de dívidas para garantir a produção e a aquisição de terras. Esse histórico de financiamento elevado, combinado com as condições atuais adversas, cria um cenário de dificuldade para renegociar ou quitar débitos.
Os bancos, ao perceberem o aumento da inadimplência, tornaram as condições de crédito mais restritivas, reduzindo o volume e o valor médio dos financiamentos concedidos. Assim, o produtor tem acesso limitado ao capital necessário para investir na próxima safra, alimentando um ciclo no qual menos investimentos levam a menor produtividade, menor receita e mais dificuldades para pagar dívidas.
Perspectivas para o Plano Safra 2025/2026
O Plano Safra 2025/2026, anunciado recentemente, trouxe taxas de juros que variam entre 8,5% e 14%, em alguns casos abaixo da taxa básica de juros, a Selic. Contudo, a quantidade de recursos disponibilizados é considerada insuficiente para atender a demanda dos produtores, que deverão buscar outras fontes de crédito com custos maiores e requisitos mais rígidos.
Mesmo com essa linha de crédito rural considerada mais barata, espera-se que os recursos do plano sejam rapidamente absorvidos pelo mercado, deixando muitos produtores em situação difícil para conseguir financiamento em volume e preço favoráveis para sustentar o ciclo produtivo.
Segmentos Mais Afetados e Futuras Perspectivas
O levantamento da Serasa Experian aponta que os grandes proprietários rurais são os mais impactados pela inadimplência, com índice chegando a 10,7% nesse grupo, enquanto os médios e pequenos produtores estão em níveis de 7,8% e 7,2%, respectivamente. A maior exposição dos grandes produtores a financiamentos extensos e investimentos de expansão os torna mais vulneráveis às oscilações econômicas e às dificuldades de crédito.
Para que a situação financeira dos produtores rurais possa melhorar, Marcelo Pimenta defende a necessidade de uma combinação de fatores macroeconômicos favoráveis — redução da inflação, manutenção do dólar em patamares estáveis e queda na taxa Selic — além de iniciativas locais, como a educação financeira e a reestruturação de dívidas dos produtores, que podem auxiliar na retomada do equilíbrio.
Última atualização em 9 de julho de 2025