Uma missão empresarial liderada pela ApexBrasil no México abriu caminho para ampliar as vendas de carnes brasileiras, com foco na região Norte. Segundo a agência, houve avanço nas tratativas para habilitar frigoríficos de Acre e Rondônia a vender carne bovina e suína diretamente ao mercado mexicano. A movimentação integra a estratégia do governo federal de buscar novos destinos e reduzir a exposição a tarifas impostas pelos Estados Unidos sobre parte dos produtos brasileiros.
Os números já refletem a mudança de rota. As exportações de carne bovina do Brasil para o México passaram de US$ 20 milhões em 2023 para US$ 200 milhões em 2024, com projeção de superar US$ 600 milhões neste ano, de acordo com a ApexBrasil. A carne suína, antes ausente da pauta, somou 41 mil toneladas em 2023, o equivalente a US$ 112 milhões. Nas aves, os embarques cresceram de 15 mil toneladas em 2020 para 212 mil toneladas em 2024, somando US$ 585 milhões. A expectativa é que o reconhecimento do Brasil como país livre de febre aftosa sem vacinação pelo governo mexicano acelere habilitações para plantas do Norte.
Brasil amplia relações comerciais com México e foca na exportação de carnes da região Norte
À frente da comitiva, o presidente da ApexBrasil, Jorge Viana, afirmou que a entrada de México e Chile no radar de carne bovina e suína “muda a geografia econômica” das vendas externas do setor. A leitura do governo é que a participação mais ativa da região Norte nessa pauta desconcentra as exportações e adiciona plantas de estados que historicamente tiveram menor presença em mercados premium. O vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, destacou o potencial do Acre e parabenizou o trabalho de articulação institucional para acelerar as habilitações necessárias.
A construção desse novo eixo comercial mira três resultados: aumento da base de frigoríficos aptos a vender, maior valor agregado por tonelada e diversificação de destinos. Na prática, isso significa encurtar o tempo para que empresas do Norte cumpram exigências sanitárias e documentais e possam aproveitar a janela de demanda mexicana. A ApexBrasil informou que, paralelamente, prepara missão ao Canadá com foco em abrir ou expandir canais para proteína animal, reforçando a busca por mercados alternativos.
Avanços na mesa de negociação: o que ficou encaminhado
A agenda no México incluiu encontros com autoridades sanitárias e compradores do varejo e do food service. Segundo interlocutores da comitiva, houve sinalização positiva para acelerar a análise de dossiês de plantas brasileiras e organizar inspeções técnicas adicionais quando necessário. Esse passo é decisivo para transformar interesse comercial em autorização efetiva de embarque. O movimento coincide com a expansão do consumo de proteína no país latino-americano e com a necessidade de fornecedores competitivos para abastecer redes de supermercados e distribuidores regionais.
O governo brasileiro também reforçou o alinhamento entre ApexBrasil, Itamaraty, Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA) e MDIC para atuar de forma coordenada. Na prática, Itamaraty cuida da diplomacia econômica e do diálogo regulatório, o MAPA trata de protocolos sanitários e habilitações, o MDIC apoia a estratégia de comércio e indústria, e a ApexBrasil conecta empresas a oportunidades concretas. O objetivo declarado é reduzir gargalos burocráticos e dar previsibilidade a exportadores que precisam planejar produção, logística e financiamento de pedidos.
Foco no Norte: o que muda para Acre e Rondônia
A prioridade por Acre e Rondônia aparece em dois níveis. No curto prazo, a meta é concluir habilitações para que frigoríficos desses estados possam vender carne bovina e suína ao México. No médio prazo, a ambição é consolidar fornecedores do Norte como alternativa consistente às plantas do Centro-Sul, ampliando a base exportadora nacional. Para isso, a interlocução técnica com as autoridades mexicanas precisa reconhecer o status sanitário vigente no Brasil e validar controles de rastreabilidade, bem-estar animal e padronização de cortes exigidos pelos compradores locais.
No Acre, a ApexBrasil cita ganhos diretos. Quando Jorge Viana esteve no governo estadual, as exportações acreanas somavam cerca de US$ 20 milhões. Em 2024, a marca chegou a US$ 87 milhões, com expectativa de superar US$ 100 milhões neste ano. Entre as empresas mencionadas, a Dom Porquito se move para acessar o mercado suinícola mexicano. Em Rondônia, a estrutura frigorífica e o rebanho oferecem escala, o que pode favorecer contratos de médio e longo prazo. A combinação de habilitações sanitárias, padronização de cortes e uma logística mais previsível é vista como ponte para transformar capacidade produtiva em faturamento recorrente.
Números da carne: desempenho recente e espaço para crescer
Os volumes e valores citados pela ApexBrasil indicam uma curva de alta. Na carne bovina, as vendas ao México tiveram salto de dez vezes entre 2023 e 2024, partindo de uma base de US$ 20 milhões e atingindo US$ 200 milhões. A projeção acima de US$ 600 milhões para este ano considera a ampliação de plantas habilitadas e a entrada de novos compradores. Na carne suína, a mudança é estrutural: de inexistente no governo anterior para 41 mil toneladas em 2023, somando US$ 112 milhões. No caso das aves, a trajetória de 15 mil toneladas em 2020 para 212 mil toneladas em 2024, movimentando US$ 585 milhões, mostra consolidação como fornecedor relevante no mercado mexicano.
A leitura do setor é que ainda há espaço para crescer. O México diversifica compras para garantir oferta estável e preços competitivos. Com habilitações adicionais, frigoríficos do Norte podem disputar nichos que exigem cortes específicos, padrões de resfriamento e prazos de entrega ajustados a redes varejistas e distribuidores de alto giro. A entrada de mais plantas eleva a concorrência entre fornecedores, o que tende a beneficiar o comprador e estimular ganhos de eficiência no lado brasileiro. O desafio está em manter previsibilidade sanitária e logística para sustentar contratos durante todo o ano.
Habilitação sanitária: como funciona a autorização para exportar ao México
Para vender carne ao México, os frigoríficos precisam cumprir protocolos sanitários reconhecidos pelas autoridades mexicanas, além de obter habilitação específica por planta. O Ministério da Agricultura e Pecuária coordena as tratativas governamentais e apresenta dossiês com informações sobre controles oficiais, autocontrole das empresas, rastreabilidade e resultados de auditorias. Em geral, o processo inclui inspeções documentais e, quando necessário, visitas técnicas a estabelecimentos, laboratórios e serviços de defesa. O reconhecimento do Brasil como livre de febre aftosa sem vacinação é um marco nesse diálogo, pois define o nível de exigência e os procedimentos de certificação zoossanitária aos embarques.
Na prática, o caminho de uma planta até a primeira venda envolve etapas encadeadas: adequação de procedimentos internos, comprovação de padrões de higiene e bem-estar animal, validação de controles críticos, emissão de certificados e, por fim, autorização de rótulos e especificações de cortes. Após habilitada, a empresa precisa manter o nível de conformidade para não perder o acesso. Auditorias periódicas e respostas rápidas a eventuais não conformidades são parte do jogo. Para as plantas do Norte, a presença de equipes treinadas em documentação internacional e a integração com o serviço oficial ajudam a reduzir retrabalho e acelerar aprovações.
Logística: rotas, prazos e custos até o mercado mexicano
Com as habilitações em curso, a logística vira variável-chave na formação de preço e na confiabilidade das entregas. Os embarques costumam ocorrer em contêineres refrigerados, com rotas que podem combinar modal rodoviário até portos e, a partir daí, navegação em direção a terminais com boa conexão ao mercado mexicano. Do Norte, alternativas incluem o uso de portos na região Norte e Nordeste ou, dependendo do lote e da janela de embarque, a saída por terminais do Sudeste. A escolha depende de capacidade, custo, tempo de trânsito e disponibilidade de contêineres. O planejamento precisa contemplar estoques, janelas de atracação e prazos alfandegários nos dois países.
Para carne resfriada, a previsibilidade do corredor logístico é ainda mais importante. Compradores exigem datas firmes de chegada para abastecer gôndolas e redes de restaurantes. Já no produto congelado, há ligeira flexibilidade de prazo, o que pode permitir consolidação de cargas e ganho de escala. Em ambos os casos, a negociação com armadores e a contratação antecipada de frete ajudam a reduzir oscilações. Empresas do Norte que estruturarem operações com menor manuseio, tempos de espera mais curtos e integração entre planta, transportadora e terminal tendem a ganhar competitividade e fidelizar clientes mexicanos.
Coordenação institucional: papéis de ApexBrasil, Itamaraty, MAPA e MDIC
A expansão das vendas não depende apenas de esforço comercial do frigorífico. A articulação governamental tem papel decisivo. A ApexBrasil atua na promoção, organiza missões, conecta empresas a compradores e recolhe demandas que exigem solução pública. O Itamaraty conduz o diálogo diplomático e desarma barreiras não tarifárias quando regras são interpretadas de forma restritiva. O MAPA é responsável pelas equivalências sanitárias, pelos certificados e pelas negociações técnicas com a autoridade homóloga mexicana. O MDIC, por sua vez, baliza a estratégia industrial e comercial e ajuda a endereçar gargalos que impactam custo e previsibilidade de produção e exportação.
Quando esses atores trabalham de forma integrada, o tempo entre a intenção de vender e a primeira carga embarcada tende a diminuir. O alinhamento também permite priorizar dossiês de plantas que já atendem requisitos com margem e podem ocupar rapidamente prateleiras mexicanas. Foi nesse sentido que o vice-presidente Geraldo Alckmin afirmou que “o Acre tem todas as condições para exportar carne bovina e suína”, ao destacar o empenho da ApexBrasil e a importância de ampliar habilitações. O recado para o setor é que há ambiente para acelerar processos desde que os frigoríficos apresentem documentação robusta e mantenham indicadores consistentes de controle de qualidade.
Efeito econômico: renda, investimento e encadeamentos produtivos
O ganho de mercado abre espaço para novos investimentos em modernização de linhas, expansão de turnos e treinamento de equipes. Nos estados do Norte, o impacto se espalha pela cadeia: produtores, transportadores, serviços de manutenção e embalagens sentem a demanda crescer. A previsibilidade de pedidos favorece contratos com prazos maiores, o que incentiva o planejamento de compra de insumos e a atualização de equipamentos. Frigoríficos com acesso a clientes estáveis conseguem negociar melhores condições de financiamento e reduzir custos por escala, aumentando a margem e a capacidade de competir em preço e qualidade.
No campo, o efeito chega por meio de programas de padronização de carcaça, manejo e rastreabilidade, que costumam ser exigidos pelos compradores internacionais. Com calendário de entrega definido, a integração entre indústria e produtor rural melhora, reduzindo perdas e retrabalhos. Para o poder público, uma base exportadora mais ampla eleva a arrecadação e reforça a justificativa para investimentos em infraestrutura. Ao mesmo tempo, intensifica a necessidade de serviços oficiais bem estruturados, capazes de responder rapidamente a auditorias, consultas técnicas e certificações demandadas em mercados exigentes como o mexicano.
Próximos passos: habilitações, agenda no Canadá e consolidação de contratos
Com a missão ao México concluída, a ApexBrasil informou que prepara uma agenda ao Canadá com foco em abrir novas frentes para proteína animal. A intenção é manter o ritmo de expansão com mercados que valorizam preço competitivo e fornecimento contínuo. Paralelamente, a frente regulatória segue com o MAPA nas tratativas técnicas, buscando fechar pendências documentais e agendar inspeções quando necessárias. Para as empresas do Norte, o principal é manter equipes mobilizadas para responder rapidamente a exigências complementares e, assim, evitar filas ou atrasos nos processos de habilitação.
No lado comercial, a recomendação é avançar em memorandos de entendimento e contratos com cláusulas claras sobre especificações de cortes, padrão de embalagem, temperatura, prazos e penalidades. Varejistas e distribuidores mexicanos costumam valorizar fornecedores que dão previsibilidade de entrega e mantêm canais abertos para ajustes de programação. Com mais plantas habilitadas, o Brasil pode ampliar a participação em categorias de maior valor e estabelecer relações de longo prazo. A prioridade declarada pelo governo é assegurar que Acre e Rondônia tenham protagonismo nessa etapa, convertendo capacidade instalada em faturamento recorrente.
Perguntas e respostas: o que o exportador precisa saber agora
O que muda para quem já exporta para outros destinos?
Para frigoríficos com histórico de vendas a outros países, a entrada no México exige ajustes pontuais. Em geral, processos de controle e documentação estão estruturados, mas será necessário adaptar especificações a preferências do comprador mexicano, incluindo gramaturas, cortes e rotulagem. Também convém revisar fluxos de certificação e conferir a compatibilidade de formulários com as exigências do importador. A habilitação por planta é condição indispensável, e a comunicação com as áreas técnica e comercial do cliente ajuda a antecipar detalhes de embalagem e entrega.
A logística pode ser redesenhada para aproveitar rotas mais curtas e terminais com melhor frequência de navios com destino à América do Norte. Quem já opera com padrões rígidos de temperatura e rastreabilidade tende a transitar com mais facilidade, pois os registros exigidos são semelhantes em mercados de alta exigência. O ganho imediato está na diversificação de destinos, o que reduz dependência de um único mercado e dá mais margem para negociar preço e prazo sem interromper a produção.
Quando plantas do Acre e Rondônia poderão embarcar?
A autorização depende da conclusão das etapas de habilitação conduzidas entre as autoridades dos dois países. Com o avanço das tratativas e o reconhecimento do status sanitário brasileiro, a expectativa é de aceleração das análises. A ApexBrasil, o Itamaraty e o MAPA trabalham de forma coordenada para destravar pendências e dar previsibilidade às empresas. A ordem prática é manter dossiês atualizados, equipes treinadas para responder a pedidos complementares e, quando houver inspeção, ter transparência total em registros e procedimentos.
Enquanto a autorização não sai, empresas podem avançar em negociações comerciais, alinhando condições de fornecimento e preparando pilotos para os primeiros embarques. O histórico recente de crescimento nas vendas de bovinos, suínos e aves ao México indica apetite do mercado e espaço para novos fornecedores. Uma vez habilitadas, as plantas do Norte devem priorizar a consistência de entrega para consolidar contratos e construir reputação junto aos compradores locais.
Quais exigências os produtores rurais precisam atender?
Embora a habilitação recaia sobre a planta frigorífica, as exigências chegam ao produtor. Os principais pontos são padronização de manejo, documentação de origem, rastreabilidade e atendimento às orientações de sanidade animal. Programas de integração e assistência técnica ajudam a difundir protocolos e alinhar expectativas de carcaça, peso e acabamento. Em mercados como o mexicano, compradores valorizam previsibilidade e conformidade, o que demanda consistência ao longo do ano e registros fáceis de verificar.
Para abastecer a indústria com regularidade, produtores podem estabelecer calendários de entrega combinados com o frigorífico, ajustando lotes e janela de abate. A comunicação sobre eventuais variações de oferta e o compartilhamento de indicadores de desempenho reduzem surpresas na linha de produção. Em paralelo, cumprir orientações do serviço oficial e manter cadernos de campo atualizados fortalece a confiança na origem do produto e facilita auditorias.
Análise de mercado: por que o México entrou no radar da proteína brasileira
O México combina tamanho de mercado, poder de compra e proximidade logística com a América do Norte. A demanda por carne bovina e suína cresce com a recuperação do turismo, a expansão de redes de alimentação e a diversificação do consumo doméstico. Para o Brasil, que é grande exportador e mantém estrutura industrial com escala, o país mexicano surge como cliente estratégico capaz de absorver volumes relevantes. O diferencial está no preço competitivo, na capacidade de entrega contínua e no portfólio de cortes ajustado ao gosto local, incluindo opções para varejo e food service.
A diversificação geográfica também reduz o risco cambial e de políticas comerciais de terceiros. Ao ampliar a presença no México, o Brasil mitiga oscilações de demanda em mercados tradicionais e ganha espaço de negociação. Para a região Norte, esse movimento tem efeito multiplicador: atrai investimentos para modernização de plantas, melhora a qualificação de mão de obra e incentiva serviços associados, como transporte refrigerado e manutenção especializada. A soma desses fatores explica a ênfase da ApexBrasil em assegurar que Acre e Rondônia participem da nova etapa das exportações de proteína animal.
O que observar daqui em diante
A materialização do potencial depende de três frentes caminhando juntas. Na regulação, é crucial manter o ritmo das habilitações e a interlocução técnica transparente. Na logística, empresas precisam garantir rotas e prazos confiáveis, com capacidade para picos sazonais. No comercial, contratos claros e comunicação constante com compradores reduzem ruídos e evitam cancelamentos. O histórico recente mostra que, quando esses pontos avançam, os números reagem rapidamente, como ocorreu com a carne bovina em 2024 e com as aves desde 2020.
O recado do governo é de continuidade. “Estamos construindo novos caminhos para o Brasil em um cenário global desafiador”, afirmou Jorge Viana ao defender protagonismo do Norte. Para as empresas, a estratégia passa por se antecipar às exigências, calibrar produção e buscar acordos de fornecimento que privilegiem relacionamento de longo prazo. Com o México mais aberto à proteína brasileira e a preparação de novas agendas, como a do Canadá, o setor avalia que há uma janela de oportunidade a ser aproveitada com disciplina operacional e visão de mercado.
Última atualização em 7 de setembro de 2025