Projeto testa tecnologia inédita para acelerar restauração de corais a partir do uso do Plástico
Estudo desenvolvido pela Carbono 14 em parceria com a UFBA e patrocínio da Braskem, na Baía de Todos-os-Santos pode contribuir para recuperação de recifes
Cobrindo menos de 0,1% do oceano mundial, os recifes de corais sustentam mais de 25% da biodiversidade marinha, sendo um dos ecossistemas de maior valor ecológico e econômico do planeta. Apesar da sua importância, estima-se que 50% dos recifes foram danificados por impactos locais e pelo aquecimento dos oceanos em decorrência das mudanças climáticas e que esse percentual deve aumentar para 90% até 2050. Para reverter esse cenário, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) recomenda a restauração planejada desses ecossistemas. Essa é a proposta do projeto Corais de Maré, que desenvolveu uma tecnologia inédita para recuperar recifes nativos testando o potencial do Plástico para acelerar o crescimento dessas espécies e utilizando o esqueleto do Coral-sol, que é um bioinvasor marinho presente em diversas regiões da costa brasileira.
A iniciativa, conduzida pela empresa Carbono 14 em parceria com a Universidade Federal da Bahia (UFBA), o Instituto de Pesca Artesanal de Ilha de Maré (IPA) e com patrocínio da Braskem, avalia a capacidade de diversos materiais, como Nylon, Polietileno e PET, de induzir o desenvolvimento mais rápido do coral nativo, contribuindo para que eles ganhem altura e com isso aumente a sua complexidade estrutural. “O recife tem uma estrutura tridimensional complexa construída e mantida pelos corais, que está relacionada à sua capacidade de abrigar diversas espécies marinhas, impactando diretamente na biodiversidade proporcionada por esse ecossistema. Por isso, a importância de investir em tecnologias que acelerem esse processo de restauração”, explica Igor Cruz, pesquisador de ecossistemas marinhos e professor de Oceanografia Biológica no Instituto de Geociências da UFBA, que coordena o estudo.
Testes preliminares conduzidos pela equipe do projeto indicaram que mudas da Millepora alcicornis, coral nativo na Bahia, instaladas em berçários na Baía de Todos-os-Santos, alcançaram a altura de 14 centímetros em dois meses, sendo que essa é a média de crescimento dessa espécie no período de um ano. “De forma empírica, percebemos esse crescimento mais acelerado com o uso do Plástico e esse ritmo pode ser ainda maior. Se os resultados iniciais desse estudo se confirmarem, podemos utilizar essa técnica na restauração do recife não apenas na Baía de Todos-os-Santos, mas também em outras regiões”, pontua o especialista.
Para a gerente de Relações Institucionais da Braskem na Bahia, Magnólia Borges, essa ação é um exemplo de como o Plástico tem potencial para mitigar os impactos negativos no meio ambiente. “O Plástico cumpre um papel significativo neste projeto, potencializando o processo de restauração desse importante ecossistema. Isso reforça os benefícios que esse material proporciona à sociedade. Acreditamos que com inovação e uso consciente, o Plástico oferece diversas soluções para construção de um futuro sustentável”, afirma.
Agenda positiva – A técnica aplicada neste projeto foi criada a partir da inquietação de José Roberto Caldas, conhecido como Zé Pescador, CEO da Carbono 14, que buscava uma forma de reaproveitar o esqueleto de calcário do Coral-sol na restauração do recife. “Essa espécie bioinvasora é uma das principais ameaças à biodiversidade marinha, mas seu esqueleto de carbonato de cálcio é um material natural e riquíssimo. Então, veio a ideia de transformar esse insumo em uma estrutura para recuperar o coral nativo, trazendo o Coral-sol para uma agenda positiva”, conta Zé Pescador.
Além disso, o projeto ajuda no controle desse bioinvasor, que chegou no Brasil na década de 1980 e tem se alastrado pela costa brasileira, tendo sido identificado em nove dos 17 estados litorâneos do país. “O Coral-sol é considerado uma praga em todo Brasil, que compete e causa danos aos corais nativos, principalmente por sua capacidade de proliferação que é superior, fazendo com que ele se alastre rapidamente, diminuindo os espaços disponíveis para as espécies naturais da região”, explica Zé Pescador.
Na técnica desenvolvida por ele, o esqueleto do Coral-sol é triturado, obtendo um pó de calcário que é utilizado na produção de sementeiras para cultivo de Millepora alcicornis. Em seguida, essas mudas são plantadas em berçários instalados na Baía de Todos-os-Santos.
Ciência cidadã – Todo o processo de construção de sementeiras e mudas de coral nativo é desenvolvido com participação da comunidade tradicional da Ilha de Maré. Para isso, pescadores e marisqueiros participaram de oficinas para aprender a técnica, integrando conhecimento científico ao saber popular.
“O projeto traz o saber comunitário e o acadêmico, que se unem com o intuito de recuperar o ecossistema marinho. Isso terá um impacto significativo na pesca e ajuda a comunidade a ter um novo olhar – de que precisa restaurar, e não apenas esperar a ação da natureza”, pontua Alessandra Silva, presidente do Instituto de Pesca Artesanal de Ilha de Maré (IPA).
Liderança na região, Milton Sales de Santana, de 82 anos, o Seu Naná, vê na restauração do recife uma esperança de dias melhores de pesca. “De 20 anos pra cá, a pesca se tornou muito difícil, principalmente quando se vê a olho nu várias espécies serem extintas”, afirma o pescador, que é acompanhado do filho e do neto na ação.
“Eu vou ter orgulho de contar para a minha filha que eu ajudei a plantar coral, por saber que isso vai ajudar bastante a gente e ao meio ambiente”, comemora Darlan Santana, o Bem-te-vi, neto de Seu Naná. Segundo a Braskem, estudos apontam que os recifes de corais beneficiam pelo menos um bilhão de pessoas em todo mundo por meio da pesca, pelo seu potencial turístico, como fonte de medicamentos e por fornecer proteção costeira contra a ação das marés e das ondas.
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Última atualização em 22 de dezembro de 2022