Não se sabe quem influenciou quem, mas na ficção e na realidade já é possível encontrar casos de romance entre pessoas e robôs ou inteligências artificiais. Em relação ao mundo fictício, o filme Her (Ela), lançado em 2013, narra a história de um escritor que se apaixona por Samantha, um software de computador.
O longa-metragem mostra os efeitos psicológicos no homem gerados pela “relação” entre os dois, que incluem sua dificuldade de se relacionar com mulheres e baixa autoestima.
No mundo real, o Japão é uma das nações que mais têm verificado esse crescente movimento. No caso, as chamadas “bonecas sexuais” têm ganhado a simpatia principalmente de homens jovens que têm dificuldade de se relacionar com outras pessoas.
A empresa Dutch Wives revelou, em um documentário produzido pela agência russa RT, que em 2017 mais de 2 mil bonecas sexuais foram vendidas somente para o país nipônico. Além disso, é muito comum relatos na imprensa de japoneses que se casam com esses objetos e até hologramas, como foi o caso de Akihiko Kondo. Em 2018, ele se casou com o holograma de uma personagem chamada Hatsune Miku.
Perigo à sociedade?
Com a evolução da tecnologia e a presença de inteligências não humanas se tornando cada vez mais comum entre nós, especialistas discutem se há algum perigo nesse fenômeno. E a constatação de alguns é que sim, principalmente os robôs sexuais com inteligência artificial representam um perigo em potencial para a humanidade.
Christine Hendren, pesquisadora da Duke University, disse à BBC que “os riscos são altos” nessas novas relações. Ela defendeu que os equipamentos representam uma “ameaça moral” para os seres humanos.
“Alguns (robôs) são projetados para parecer crianças. Um desenvolvedor desses robôs no Japão é um pedófilo assumido, que diz que esse dispositivo é profilático, ou seja, pode ser usado para impedir que ele machuque uma criança real”, argumentou Hendren.
O engenheiro catalão Sergi Santos, fundador da empresa Synthea Amatus, ao lado da boneca sexual Samantha.
Além do debate moral e ético, os robôs representam uma ameaça à psicologia humana. Em entrevista ao Blog Plástico de Engenharia, Carla Cecarello, sexóloga do site de encontros casuais C-date, afirmou que uma relação prolongada desse tipo pode causar grandes problemas emocionais.
“Isso vai perpetuar o desenvolvimento de uma pessoa alienada. Ela não vai aprender a se desenvolver nas relações interpessoais, vai continuar cada vez mais ausente em uma relação de pele com pele, de fazer o ato da conquista e de se mostrar para o outro. Se as pessoas se acostumarem a se relacionar com os robôs e bonecas, teremos muita gente isolada dentro de suas casas e escritórios, não querendo mais se relacionar ao vivo e a cores com ninguém”, salientou a especialista.
Cecarello explicou que, a longo prazo, relacionamentos com robôs e inteligências artificiais podem criar cada vez mais pessoas fechadas em “seu próprio mundinho”. Os indivíduos também estarão mais propensos a desenvolver doenças diversas, como a depressão.
Mas é possível se apaixonar por um robô?
Apesar de ser ainda uma incógnita e motivo de muito debate filosófico, a paixão deixa sinais físicos e psicológicos nos seres humanos. Nesse sentido, será que é possível se apaixonar por um robô? A sexóloga Carla Cecarello diz que sim.
“É muito possível, mas é importante lembrar que essa pessoa já tem componentes de carência e baixa autoestima. Por causa desses e outros fatores, ela acaba se apaixonando por uma coisa, um objeto, que ‘dá’ um pouco de atenção para ela”, argumentou em entrevista ao Blog Plástico de Engenharia.
A especialista disse que uma pessoa que se apaixona por um robô ou uma inteligência artificial apresenta uma fragilidade emocional muito grande, não acredita na própria capacidade de conquistar e de se mostrar sensualizada para outro humano.
Cecarello defendeu que não considera o afeto entre uma pessoa e um robô uma doença, a não ser que o indivíduo já tenha sido diagnosticado com um quadro depressivo, por exemplo.
Por último, ela lembrou que as pesquisas já têm apontado que as pessoas têm feito menos sexo. Um dos fatores apontados pelos levantamentos é o aumento da nossa interação com a tecnologia e a substituição do afeto real pelo digital. Contudo, essa não é a única justificativa.
“A gente também tem que lembrar do fato de que o mercado de trabalho está muito mais exigente, e as pessoas precisam se desenvolver em diferentes competências. Isso faz o tempo que elas dispensam para se desenvolverem profissionalmente ser muito maior do que o que elas utilizam para conquistar alguém. É como se toda a libido sexual fosse canalizada para o desenvolvimento pessoal por causa do trabalho”, alertou a sexóloga.
Última atualização em 5 de junho de 2021