Walter Celani Júnior
A Ascensão da Carne de Cordeiro no Brasil
A carne de cordeiro, antes vista como um produto exclusivo, está se popularizando entre os brasileiros. Enquanto boutiques, empórios e restaurantes focam na alta gastronomia, açougues e até uma rede de “atacarejo” parecem apostar em porções menores e mais acessíveis. Hoje, por exemplo, é possível encontrar embalagem com 300 gramas de tiras de costela por menos de R$22,00, algo antes inimaginável pela escassez na oferta e a histórica desorganização do setor.
Melhoria da Qualidade dos Cortes
Esse crescimento no consumo está relacionado à melhoria da qualidade dos cortes. Há alguns anos, a carne de cordeiro não seguia um padrão, o que resultava em cortes irregulares e forte rejeição. Muitas vezes, era proveniente de animais velhos, e o gosto considerado por muitos desagradável precisava ser mascarado por temperos fortes. Agora, com o investimento em raças específicas e processos mais eficientes, a história é outra. Hoje, os cordeiros são abatidos ainda jovens, com menos de seis meses, o que garante uma carne macia e saborosa, que pode ser temperada apenas com sal.
Inovações no Mercado
Além disso, a indústria tem se mostrado criativa ao desenvolver produtos especiais, como linhas para churrasco e hambúrgueres, conquistando novos admiradores até mesmo em bairros de classe média. Isso é crucial para elevar o consumo per capita, que é inferior a 1 kg por ano, principalmente no Sudeste.
Tendência, Inovações e Rentabilidade
O consumo de carne ovina é mais expressivo nas regiões Sul e Nordeste, que juntas concentram bem mais de 50% do rebanho nacional, estimado em 21,5 milhões de animais, segundo o Censo Agropecuário de 2022 do IBGE. A Bahia lidera a produção com 4,6 milhões de cabeças, seguida pelo Rio Grande do Sul com 3,4 milhões. No Sul, onde a lã sempre foi o principal foco, os criadores estão apostando em carneiros de alto desempenho para produção de carne de qualidade, atendendo também à indústria frigorífica, que paga até R$390 por arroba, além das bonificações para carcaças superiores.
Parcerias com Criadores
As parcerias com os criadores também fortalecem o sucesso desse crescimento. Um exemplo é a VPJ Alimentos, que abate 12 mil cordeiros por ano e abastece mais de 700 pontos de venda, incluindo restaurantes, boutiques e supermercados, através de uma produção verticalizada. Esse modelo colaborativo permite que o setor continue a se organizar, aumentando a oferta e melhorando o produto final.
Qualidade da Carne e Bonificações Atrativas
Com a indústria apostando em qualidade, bonificações atrativas para os criadores e no crescente apetite dos consumidores, o futuro da carne de cordeiro parece promissor. O setor está se ajustando à medida que o consumo aumenta, e isso deve refletir em uma produção cada vez mais consistente e acessível.
Influência das Raças Específicas
A escolha das raças específicas é fundamental para garantir a qualidade da carne. Raças como Dorper, Santa Inês e Suffolk são famosas pela pouca gordura e pelo sabor suave, atraindo consumidores que buscam uma carne de qualidade superior. Esse foco na genética auxilia na padronização dos cortes e na aceitação do produto final pelo mercado.
Desafios do Setor
Apesar dos avanços, o setor de ovinos ainda enfrenta vários desafios. A falta de frigoríficos especializados é um deles, pois muitos criadores precisam percorrer longas distâncias para abater seus animais, o que eleva os custos de produção. Além disso, a entrada de produtos importados de países vizinhos como Uruguai e Argentina, que possuem uma produção mais consolidada, gera concorrência acirrada.
O Papel das Cooperativas
Cooperativas têm desempenhado um papel essencial na organização do setor. Ao unir criadores, elas conseguem negociar melhores preços e condições de abate, além de facilitarem o acesso a treinamentos e tecnologias. Outro ponto positivo é a capacidade de criar uma marca forte, que agrega valor à carne de cordeiro brasileira.
O Consumo Regionalizado
Enquanto o Sudeste está começando a descobrir a carne de cordeiro, regiões como o Sul e o Nordeste já possuem uma tradição de consumo mais consolidada. Isso se reflete na culinária típica, onde a carne de cordeiro é ingrediente principal em pratos tradicionais como o “xis carneiro” no Rio Grande do Sul e a “buchada de bode” no Nordeste.
Gastronomia de Alta Qualidade
A presença da carne de cordeiro em restaurantes de alta gastronomia também tem impulsionado a sua popularidade. Chefs renomados fazem uso da carne em pratos sofisticados, destacando sua maciez e sabor único. Essa visibilidade ajuda a desmistificar a carne de cordeiro e torná-la mais desejável pelo público em geral.
Tendências de Consumo
Nos últimos anos, houve uma mudança no perfil de consumo, com os brasileiros se tornando mais exigentes quanto à origem e qualidade dos alimentos que consomem. A sustentabilidade e o bem-estar animal são fatores que têm influenciado as escolhas dos consumidores, e a carne de cordeiro, quando produzida de maneira ética e sustentável, se destaca nesse cenário.
Mercado de Exportação
Além do mercado interno, os produtores de carne de cordeiro veem potencial na exportação. Países do Oriente Médio e da Europa têm uma demanda crescente por carne de cordeiro, o que representa uma oportunidade para os criadores brasileiros. Para isso, é essencial que o setor continue investindo em qualidade e certificação, garantindo que a carne brasileira atenda aos padrões internacionais.
Conclusão: Um Futuro Promissor
O futuro da carne de cordeiro no Brasil é promissor. Com investimentos em qualidade, parcerias estratégicas e uma demanda crescente, o setor tem tudo para se consolidar e crescer ainda mais. Seja pela diversificação de produtos ou pela valorização das tradições regionais, a carne de cordeiro está ganhando espaço no coração e na mesa dos brasileiros.
Walter Celani Júnior é zootecnista e mentor do curso de ovinocultura de corte da plataforma de ensino MF Class (https://www.mfclass.com.br).
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Última atualização em 13 de setembro de 2024