Geleiras da Groenlândia estão espalhando mercúrio nos oceanos

Um estudo da universidade americana Florida State, liderado pelo pesquisador Jon Hawkings e publicado na revista Nature em 24 de maio, revelou que uma camada de gelo na região sudoeste da Groenlândia está liberando grandes quantidades de mercúrio em rios próximos conforme derrete.

A descoberta é preocupante, já que o metal tóxico pode se acumular em animais marinhos que são componentes básicos da dieta das comunidades indígenas locais.

Comunidades que vivem próximas a geleiras da Groenlândia estão ameaçadas por altas quantidades de mercúrio na água.Comunidades que vivem próximas a geleiras da Groenlândia estão ameaçadas por altas quantidades de mercúrio na água.Fonte:  Unsplash 

O mercúrio é um metal naturalmente encontrado em algumas rochas. Conforme as geleiras fluem lentamente morro abaixo, trituram as rochas ao seu redor, potencialmente liberando mercúrio em sua água derretida. Para descobrir se isso está ocorrendo na região autônoma e gelada, Jon Hawkings e seus colegas analisaram o derretimento que vem da margem sudoeste de seu manto de gelo.

Como o estudo foi feito

Pesquisadores sugerem que pedaços de rochas com alto teor de mercúrio são arrastados junto com gelo na região da Groenlândia.Pesquisadores sugerem que pedaços de rochas com alto teor de mercúrio são arrastados junto com gelo na região da Groenlândia.Fonte:  Pixabay 

Hawking e sua equipe fizeram duas expedições à região, em 2015 e 2018, coletando amostras de água de três rios alimentados por derretimento – que recebem quantidades substanciais de água da camada de gelo da Groenlândia: até 800 metros cúbicos por segundo. As amostras foram filtradas para remover qualquer sedimento e mantidas a salvo de contaminação. Em seguida, os pesquisadores analisaram a concentração de mercúrio em cada uma delas.

O que os cientistas encontraram foi alarmante: as concentrações do elemento químico na região são ao menos 10 vezes maiores do que a média de um rio. Isso significa que a água do degelo é tão rica em mercúrio quanto a de rios altamente poluídos – mas neste caso, lembra Hawking, o mercúrio não foi introduzido na água diretamente pelos humanos. E ressalta: “A camada de gelo está derretendo muito mais rápido como resultado da mudança climática”.

Os pesquisadores à frente do estudo estimam que esta fonte de mercúrio está enviando quantidades significativas para fiordes – corpos de água longos e estreitos esculpidos por geleiras em movimento – que estão em seu caminho.

A região da Groenlândia pode estar sendo a responsável por enviar até 42 toneladas de mercúrio todos os anos aos oceanos – cerca de 10% da entrada global estimada do elemento provém de rios. Essas concentrações de mercúrio estão entre as mais altas já registradas na literatura científica para águas naturais não contaminadas pela atividade humana.

Perigos do mercúrio

Mercúrio líquido engarrafado.Mercúrio líquido engarrafado.Fonte:  Dennis s.k/Wikipedia 

O mercúrio é altamente tóxico, por isso é um dos principais elementos de preocupação global. “À medida em que você avança na cadeia alimentar, o mercúrio se torna mais concentrado”, disse Hawkings, ou seja: o mercúrio se acumula nas cadeias alimentares, chegando aos alimentos consumidos por humanos.

O mercúrio é o único metal que é sempre líquido em temperatura ambiente – ele só congela a 39 graus negativos. No estado líquido, como o encontrado em termômetros, é relativamente inofensivo, já que o sistema digestivo não é capaz de absorvê-lo. Mas sais de mercúrio são mais perigosos, pois se dissolvem em água e podem ser misturados a alimentos e bebidas.

Minutos depois da ingestão de uma grande dose, ocorrem vômitos e diarreia. Caso ocorra uma intoxicação aguda, surgem lesões em órgãos internos como o fígado – e na boca. O envenenamento por mercúrio pode levar à falência renal e afetar o sistema nervoso, tornando a pessoa irritada e até mesmo paranoica.

Para os membros de comunidades indígenas que vivem no Ártico – uma região que contém muitas geleiras derretidas e comunidades que dependem fortemente da colheita de animais marinhos nas águas locais como fonte de alimento –, o problema com o elemento químico se torna urgente.

Última atualização em 2 de junho de 2021

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