O fundo dos oceanos é menos conhecido que a superfície da Lua. Ali podem ser encontrados de gigantescas estruturas a micróbios vivos cuja última refeição foi há 86 milhões de anos. Confira abaixo as coisas mais bizarras que os pesquisadores já encontraram debaixo d’água:
1. Criaturas abissais
Desde a antiguidade existem histórias sobre monstros imensos capazes de engolir navios inteiros. Com o advento da tecnologia (capaz tanto de preservar as criaturas bizarras que emergem das profundezas do oceano como também registrar imagens dela), os mitos deram lugar à ciência – mas nem tanto.
Enquanto os seguidores do pescador russo Roman Fedortsov se assustam com as criaturas que caem nas redes de pesca de sua traineira, cientistas que exploram as profundezas do mar ainda se espantam ao ver, ao vivo e a cores, criaturas cujos registros datavam do início do século e, mesmo assim, muitas vezes exageradamente retratadas.
O lendário monstro marinho conhecido como Kraken (na verdade, uma lula gigante), encontrado na província canadense de Terra Nova e Labrador, em 1877.Fonte: Wikimedia Commons/Reprodução
Um bom exemplo é a lula do gênero Magnapinna, que pode chegar a até oito metros e cujo primeiro registro que se tem notícia data de 1907. O primeiro animal adulto, porém, só foi filmado em setembro de 1988 pela tripulação do submersível Nautile, na costa norte do Brasil, a 4.735 metros de profundidade. Na maioria das vezes, os poucos espécimes foram encontrados nadando nas profundezas do Golfo do México e da costa da Austrália.
Imagem da lula gigante, capturada no Golfo do México em 2013. Avistamentos como esse são extremamente raros.Fonte: Shell Oil/Reprodução
Outros animais estranhos, gigantescos e de aparência monstruosa ainda se escondem nas profundezas dos oceanos. Um bom exemplo é o que você vê no vídeo abaixo. Alguns dizem ser uma ctenophora (conhecida como carambola-do-mar), outros discordam – mas certeza, não há nenhuma.
2. Poço maldito
O Sac Actun (yucateca maia para “sistema de cavernas brancas”) é um sistema de cavernas subaquáticas na península de Yucatán, no México, perto da vila de Tulum. Os moradores das redondezas sempre evitaram chegar perto do cenote (nome de poços profundos naturais comuns no país, resultado do colapso de camadas de calcário; o desmoronamento expõe lençóis de água que se ligam a cavernas marinhas).
A má fama do lugar remonta aos antigos maias – e foi isso que chamou a atenção do arqueólogo Bradley Russell, da Universidade de Albany, que conduziu, em 2013, uma expedição às profundezas do poço (antes que a equipe entrasse no cenote, um xamã conduziu uma cerimônia para acalmar o lendário guardião demônio do poço, uma enorme serpente emplumada).
A entrada do cenote seria guardada por um demônio, que afastaria intrusos.Fonte: National Geographic/Bradley Russell/Reprodução
Ao mergulhar na caverna submarina, Russell encontrou o chão das duas câmaras que compõem o sistema forrado de ossos humanos. Não se sabe quem eram as pessoas no fundo do poço ou como foram parar lá.
Restos humanos de indivíduos de diferentes idades foram encontrados no chão de duas câmaras.Fonte: National Geographic/Bradley Russell/Reprodução
O cenote, segundo Russell, é o único fora das muralhas da antiga cidade maia de Mayapán, a cerca de 40 quilômetros ao sul de Mérida, a capital do estado mexicano de Yucatán. “O que podemos supor é que as pessoas dentro do poço sejam vítimas da peste. Ninguém iria querer os infectados por perto, ou beber da água desse poço”, disse à época Russell.
Nenhum dos ossos têm marcas que indiquem a causa da morte; por isso, os arqueólogos não acreditam em sacrifício humano.Fonte: National Geographic/Bradley Russell/Reprodução
Na região, ainda prevalece a história do demônio, a serpente que se enrosca em um galho, salta no ar e, depois de três voltas, mergulha no poço amaldiçoado cuja má fama remonta ao século 12.
3. Uma supernova que virou jantar
Ao perfurar o fundo do Oceano Pacífico, um grupo de pesquisadores liderado pelo físico Peter Ludwig, da Universidade Técnica de Munique, encontrou os restos de uma supernova que explodiu há de 2,7 milhões de anos, depois de eles serem comidos por bactérias. Não foi uma estrela qualquer: supernovas tipo II terminam sua vida com o colapso gravitacional de seu núcleo, explodindo violentamente e ejetando, entre outros elementos, ferro 60 (um isótopo radioativo instável).
O que restou da supernova 1987A (uma supernova do tipo II), captada pelo telescópio espacial Hubble.Fonte: NASA/ESA/P. Challis/R. Kirshner
Pois foi esse elemento que os pesquisadores encontraram em bactérias magnetotáticas fossilizada – esses pequeninos seres se orientam ao longo das linhas do campo magnético da Terra e, graças a estruturas especializadas chamadas de magnetossomos, conseguem formar e armazenar diminutos cristais magnéticos. Por causa deles, mesmo depois de mortas, elas ainda se comportam como minúsculas bússolas – e foi assim que foram encontradas no fundo do oceano.
As imagens mostram minúsculos magnetofósseis contendo cadeias de cristais, onde foram encontrados os isótopos de ferro produzidos por uma supernova.Fonte: Technische Universität München/Marianne Hanzlik/Divulgação
Depois que as bactérias morreram, o material orgânico de decompôs. Os cristais em seu interior, porém, foram preservados e detectados, milhões de anos depois, por um espectrômetro de massa, revelando átomos de ferro-60 nas cadeias fossilizadas de magnetita produzidos pelas bactérias. Como a meia-vida do ferro-60 é de apenas 2,6 milhões de anos, depois de caírem sobre o planeta por 800 mil anos os isótopos em terra e no mar há muito desapareceram – mas foram preservados nos estômagos bacterianos.
4. Ruínas de três mil anos
Muitos dizem que as estruturas de Yonaguni, uma formação rochosa submersa na costa de Yonaguni, a mais meridional das ilhas Ryukyu, no Japão, são de origem natural; outros, vestígios de uma civilização desaparecida há dez mil anos. O geólogo marinho Masaaki Kimura diz ter identificado vestígios de uma cidade submersa, com um zigurate, estradas, monumentos e um estádio. (As imagens a seguir são do fotógrafo francês Franck Seguin, que acompanhou o mergulhador Guillaume Néry.)
O conjunto seria o que restou de Yamatai, um reinado da antiguidade japonesa cuja localização é incerta e centro de controvérsia entre historiadores.
Por outro lado, arqueólogos acreditam que a origem das estruturas seja natural. Outras formações rochosas na ilha de Yonaguni também têm a mesma disposição em degraus. Segundo geólogos, como a região é propensa a terremotos, estes podem fraturar as rochas regularmente.
Essa hipótese é refutada pelo grupo que defende a origem artificial: segundo eles, não há blocos soltos nas áreas planas da formação – o que é explicado pelos defensores da origem natural: fortes correntes marinhas seriam responsáveis por “limpar” o terreno em volta da estrutura.
5. Rios debaixo do mar
No fundo do Mar Negro, corre um imenso rio que, se estivesse em terra, seria o sexto maior do planeta, com um quilômetro de largura e até 35 metros de profundidade, e mais cachoeiras e redemoinhos ao longo de seu leito. Ele é formado pela água salgada que verte do Mediterrâneo para o Mar Negro, onde a água tem um teor de sal menor.
A imagem em 3D, feita por um radar, mostra o canal submarino do rio, no ponto em que o Estreito de Bósforo se encontra com o Mar NegroFonte: University of Leeds/Divulgação
Até agora, é o maior rio submarino ativo identificado – mas não, o mais famoso. (As imagens abaixo são do fotógrafo russo Anatoly Beloshchin.)
Esse título é do rio que corre abaixo do conjunto de cavernas submarinas acessíveis pelo cenote Angelita, na península Yucatán, no México. A água salgada, com uma grande quantidade de sulfeto de hidrogênio, se separa da água doce acima.
O resultado é um rio como os da superfície, inclusive com árvores caídas e folhas em suas “margens”.
6. Jejum jurássico
Enquanto algumas bactérias no fundo do oceano Pacífico se banquetearam com restos de supernovas, outras estão em jejum há 86 milhões de anos, à espera de um sopro de oxigênio e que saia o jantar. Uma equipe de pesquisadores dinamarqueses e alemães, liderada pelo microbiólogo Hans Røy, da Universidade de Aarhus, coletaram amostras de argila do fundo do oceano, ao longo da linha do equador e mais em regiões do Pacífico Norte, datando do Jurássico.
A argila recolhida mostrou colônias de bactérias que datam do período Jurássico.Fonte: Hans Røy/Divulgação
Ao testar as amostras, encontraram organismos vivos, respirando o pouco oxigênio restante muito lentamente. Quanto mais fundo as amostras foram coletadas, menos, menos comida e oxigênio havia.
Amostras do fundo do oceano foram coletadas em 30 pontos diferentes do Pacífico.Fonte: Hans Røy/Divulgação
Segundo Røy e seus colegas, as comunidades microbianas no subsolo do pacífico vivem no limite absoluto da sobrevivência, mantendo seus níveis de energia no mínimo necessário apenas para manter seu DNA intacto e o conjunto de proteínas funcionando. A equipe de pesquisadores calculou que os micróbios encontrados se dividam apenas uma vez a cada milênio.
Última atualização em 27 de maio de 2021