EPE Estima Queda de 10% nas Emissões dos Transportes Até 2034 Puxada por Biocombustíveis
A Empresa de Pesquisa Energética (EPE) divulgou dados preliminares de uma nota técnica crucial que analisa a intensidade de carbono dos energéticos utilizados no transporte rodoviário brasileiro. Este estudo, com uma visão abrangente do ciclo de vida dos combustíveis, servirá como pilar para a definição das metas do programa Mover (Mobilidade Verde), iniciativa liderada pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC). A expectativa é que as conclusões da EPE guiem políticas públicas mais eficazes na descarbonização do setor.
O anúncio foi feito durante um webinar promovido pelo Ministério de Minas e Energia (MME), intitulado "Integração dos programas RenovaBio e Mover: descarbonização do setor de transporte rodoviário". A relevância do estudo reside na sua capacidade de fornecer uma base científica sólida para a tomada de decisões, considerando o impacto ambiental das diferentes fontes de energia utilizadas no transporte. A integração entre o RenovaBio, programa já existente de incentivo aos biocombustíveis, e o Mover, que visa uma mobilidade mais sustentável, é essencial para alcançar as metas de redução de emissões.
Projeções de Redução da Intensidade de Carbono
A EPE projeta uma redução significativa na intensidade média de carbono da matriz de transporte rodoviário brasileira. Os números indicam uma queda de 72 para 65,5 gramas de CO2 equivalente por megajoule (gCO2eq/MJ) entre 2022 e 2034. Essa diminuição, que representa aproximadamente 10%, demonstra o potencial dos biocombustíveis e outras alternativas energéticas na mitigação das emissões de gases de efeito estufa (GEE).
Essa projeção de quase 10% é um sinal encorajador, mas a jornada para a descarbonização total é complexa e exige esforços contínuos. A chave para atingir essa meta reside na combinação de políticas públicas eficazes, investimentos em tecnologias limpas e uma mudança de mentalidade em relação ao consumo de energia. É importante notar que essa redução se refere à intensidade de carbono, ou seja, a quantidade de emissões por unidade de energia utilizada. A redução absoluta das emissões dependerá também da evolução da demanda por transporte.
Análise do Ciclo de Vida Completo dos Combustíveis
Um dos pontos fortes do estudo da EPE é a análise do ciclo de vida completo das diferentes fontes energéticas. Essa abordagem "do poço à roda" considera todas as etapas, desde a extração ou produção do combustível até o seu uso final no veículo. Isso inclui a avaliação das emissões geradas na produção, transporte e distribuição de gasolina, etanol, diesel, biodiesel, gás natural veicular (GNV), biometano e eletricidade.
Essa análise abrangente é crucial para evitar transferências de emissões entre as diferentes etapas do ciclo de vida. Por exemplo, um combustível pode ter baixas emissões na fase de uso, mas gerar um impacto ambiental significativo em sua produção. Ao considerar o ciclo de vida completo, é possível identificar as melhores opções em termos de redução de emissões e sustentabilidade. Além disso, a análise do ciclo de vida permite comparar diferentes fontes energéticas de forma justa e transparente, considerando todos os seus impactos ambientais.
Impacto nos Veículos Leves e Pesados
O estudo da EPE também apresenta projeções específicas para veículos leves e pesados. A expectativa é que os veículos leves reduzam sua intensidade de carbono de 64,7 para 57,4 gCO2eq/MJ até 2034, enquanto nos veículos pesados a queda estimada é de 81 para 74,7 gCO2eq/MJ. Essas reduções refletem a adoção de tecnologias mais eficientes e o aumento do uso de biocombustíveis em ambos os segmentos.
A diferença entre as reduções esperadas para veículos leves e pesados reflete as diferentes características e desafios de cada segmento. Os veículos leves, como carros de passeio, têm mais opções de eletrificação e podem se beneficiar da combinação de motores a combustão com sistemas híbridos. Já os veículos pesados, como caminhões e ônibus, enfrentam maiores desafios na eletrificação devido ao peso das baterias e à necessidade de longas autonomias. Nesses casos, o uso de biocombustíveis avançados, como o biometano, pode ser uma alternativa promissora para reduzir as emissões.
O Papel Estratégico da Nota Técnica
Heloisa Borges, diretora de Estudos do Petróleo, Gás e Biocombustíveis da EPE, enfatizou o papel estratégico da Nota Técnica na orientação das políticas públicas. Segundo ela, o documento traz estimativas robustas e atualizadas sobre a intensidade de carbono das fontes energéticas utilizadas no transporte rodoviário brasileiro, que responde por 50% das emissões de GEE de energia no Brasil.
A afirmação de Heloisa Borges ressalta a importância de dados precisos e confiáveis para a formulação de políticas públicas eficazes. A Nota Técnica da EPE fornece uma base científica sólida para a tomada de decisões, permitindo que os formuladores de políticas avaliem os impactos de diferentes cenários e escolham as melhores estratégias para a descarbonização do setor de transporte. Além disso, a transparência e a disponibilidade de dados abertos são fundamentais para promover o engajamento da sociedade e o acompanhamento dos resultados das políticas implementadas.
Implicações para o Programa Mover e o Futuro da Mobilidade
Pietro Mendes, secretário Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis do MME, destacou que o documento será fundamental para a formulação das metas do Mover. O programa Mover tem como objetivo promover a mobilidade verde no Brasil, incentivando o desenvolvimento de tecnologias e a adoção de fontes de energia mais limpas no setor de transporte.
A expectativa é que o Mover estabeleça metas ambiciosas de redução de emissões para o setor de transporte, alinhadas com os compromissos climáticos do Brasil. A Nota Técnica da EPE fornecerá a base para a definição dessas metas, considerando o potencial de diferentes tecnologias e fontes de energia para reduzir a intensidade de carbono da matriz de transporte. Além disso, o Mover deverá incluir medidas de incentivo à produção e ao consumo de biocombustíveis, à eletrificação da frota e à adoção de práticas de gestão mais eficientes no setor de transporte.
O Biocombustível como Pilar da Descarbonização
A projeção da EPE demonstra que os biocombustíveis desempenharão um papel central na redução das emissões do setor de transportes. A substituição de combustíveis fósseis por etanol, biodiesel e biometano contribui significativamente para a diminuição da intensidade de carbono da matriz energética. Além disso, o Brasil possui um grande potencial para aumentar a produção de biocombustíveis de forma sustentável, utilizando diferentes matérias-primas e tecnologias.
O sucesso da estratégia de descarbonização do setor de transportes dependerá da combinação de diferentes abordagens, incluindo o aumento do uso de biocombustíveis, a eletrificação da frota, a melhoria da eficiência energética dos veículos e a promoção do transporte público e da mobilidade ativa. Os biocombustíveis, no entanto, oferecem uma solução imediata e de baixo custo para reduzir as emissões, aproveitando a infraestrutura existente e a capacidade produtiva do país. Além disso, a produção de biocombustíveis pode gerar empregos e renda no setor agrícola, contribuindo para o desenvolvimento econômico e social do Brasil.
Outras Fontes de Energia e a Diversificação da Matriz
Embora os biocombustíveis sejam importantes, a diversificação da matriz energética é fundamental para garantir a segurança energética e reduzir a dependência de combustíveis fósseis. O gás natural veicular (GNV) e o biometano também podem desempenhar um papel importante na redução das emissões, especialmente em veículos pesados e frotas cativas. A eletricidade, por sua vez, apresenta um grande potencial para a descarbonização do transporte urbano, com a crescente disponibilidade de veículos elétricos e a expansão das redes de carregamento.
A combinação de diferentes fontes de energia permite aproveitar as vantagens de cada uma, maximizando a eficiência e minimizando os impactos ambientais. O GNV e o biometano podem ser utilizados em veículos que já utilizam gás natural, como ônibus e caminhões, aproveitando a infraestrutura existente. A eletricidade, por sua vez, pode ser utilizada em veículos leves e em sistemas de transporte público, como ônibus e trens, contribuindo para a melhoria da qualidade do ar nas cidades. A diversificação da matriz energética também reduz a vulnerabilidade do país a choques de preços e interrupções no fornecimento de combustíveis.
Políticas Públicas e Incentivos à Descarbonização
Para alcançar as metas de redução de emissões no setor de transportes, é fundamental que o governo implemente políticas públicas e incentivos adequados. O programa RenovaBio, que estabelece metas de descarbonização para os distribuidores de combustíveis, é um exemplo de política bem-sucedida que tem contribuído para o aumento do uso de biocombustíveis. O programa Mover, que está sendo formulado, deverá complementar o RenovaBio, estabelecendo metas mais ambiciosas e abrangendo diferentes modalidades de transporte.
Além dos programas de incentivo ao uso de biocombustíveis e à eletrificação da frota, é importante que o governo promova a pesquisa e o desenvolvimento de novas tecnologias, como baterias de alta capacidade e células de combustível. A regulamentação do mercado de carbono também pode ser um instrumento importante para incentivar a redução de emissões, permitindo que as empresas que reduzem suas emissões vendam créditos de carbono para aquelas que não conseguem atingir suas metas. A combinação de diferentes instrumentos de política pública é fundamental para criar um ambiente favorável à descarbonização do setor de transportes.
Futuras Perspectivas
As projeções da EPE apontam para um futuro mais verde para o transporte rodoviário brasileiro. A combinação de políticas públicas ambiciosas, investimentos em tecnologias limpas e o crescente uso de biocombustíveis pode levar a uma redução significativa das emissões de gases de efeito estufa. No entanto, é importante lembrar que a transição para uma mobilidade mais sustentável é um processo contínuo, que exige o engajamento de todos os setores da sociedade.
O acompanhamento dos resultados das políticas implementadas e a avaliação contínua das projeções da EPE são fundamentais para garantir que o Brasil esteja no caminho certo para cumprir seus compromissos climáticos. A transparência e a disponibilidade de dados abertos são essenciais para promover o debate público e o engajamento da sociedade na busca por soluções inovadoras para a descarbonização do setor de transportes. O futuro da mobilidade no Brasil depende da nossa capacidade de construir um sistema de transporte mais eficiente, sustentável e inclusivo.
Última atualização em 22 de junho de 2025