Day after do tarifaço tem mais perguntas do que respostas no agro
O clima de incerteza paira sobre o agronegócio brasileiro após o “tarifaço” anunciado pelo governo de Donald Trump. Este aumento nas taxas de importação afeta nações que, como o Brasil, dependem significativamente das exportações para o mercado norte-americano, colocando em cheque o futuro de diversos setores. Neste artigo, vamos explorar as reações do agronegócio às novas tarifas, os impactos esperados e as possíveis estratégias que poderão ser adotadas pelos produtores.
A resposta inicial do agronegócio
No dia seguinte ao anúncio das novas tarifas, as principais entidades do agronegócio brasileiro como a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e a Sociedade Rural Brasileira (SRB) se reuniram para discutir as possíveis repercussões da decisão americana. Apesar de cada setor ter características próprias que podem afetar a resposta à nova política tarifária, a maioria das associações mostrou-se cautelosa, optando por aguardar um entendimento mais claro sobre as implicações das alíquotas de importação.
A CNA declarou que, embora o impacto total ainda não pode ser mensurado, inicialmente parece que as cadeias de exportação que mais dependem dos Estados Unidos sofrerão os maiores solavancos. As áreas do café e do suco de laranja, que já tinham uma fatia substancial do mercado americano, foram citadas como as mais vulneráveis diante da nova tributação.
Os números que assustam: balança comercial e dependência
Os números falam por si. Em 2024, o Brasil exportou US$ 12 bilhões em produtos agrícolas para os Estados Unidos, enquanto importou apenas US$ 1 bilhão, evidenciando o desequilíbrio que favorece os produtos brasileiros. O café queimado e o suco de laranja, em particular, são altamente dependentes do mercado norte-americano, representando 17% e 31% de suas importações, respectivamente.
No entanto, esse panorama favorável pode rapidamente se inverter. A CNA já alertou que a elevação das tarifas pode reduzir a competitividade dos produtos brasileiros. O impacto financeiro imediato pode ser grave, especialmente para o suco de laranja, onde a produção interna dos EUA poderia ser favorecida pela decisão.
Setores altamente expostos: o que esperar?
A CNA categorizou os produtos mais expostos a este cenário como “críticos”, destacando itens como sebo bovino e carne bovina industrializada, que têm um altíssimo grau de dependência do mercado americano. As limitações para desvios de mercado tornam a situação ainda mais alarmante, pois a busca por compradores alternativos pode ser impossível.
Em contrapartida, produtos como calçados de couro e café solúvel, embora considerados de “alta exposição”, apresentam alguma possibilidade de diversificação de mercado. No entanto, a CNA avalia que o desvio de grandes quantidades pode ser um desafio significativo.
Os números das tarifas: como serão aplicadas?
As tarifas que o Brasil enfrentará são baseadas em patamares estabelecidos para todos os países, mas ainda assim apresentam uma vantagem relativa quando comparadas com alíquotas de países como a União Europeia e a China, que enfrentarão taxas superiores a 30%. Isso dá ao Brasil uma certa margem, mas nem por isso garante a tranquilidade dos produtores locais.
Um exemplo prático do impacto é a previsão de aumento das tarifas sobre o suco de laranja, que estão projetadas para saltar de 5% para até 15%. A elevação das taxas de importação para produtos como açúcar poderia atingir níveis alarmantes, chegando a 53% em alguns casos, o que certamente poderá afetar a competitividade das empresas brasileiras no mercado norte-americano.
Negociações e possíveis soluções: um futuro incerto
A CNA defende que é crucial buscar soluções diplomáticas para mitigar os efeitos das novas tarifas. Há sugestões de que o governo brasileiro continue a explorar canais de negociação com os Estados Unidos com a intenção de encontrar um terreno comum que possa beneficiar as relações comerciais entre os dois países.
Além disso, a proposta de leis que poderiam implementar reciprocidades tarifárias torna-se um fator de preocupação. As entidades do agronegócio ressaltaram que essas medidas devem ser vistas como última instância, apenas após o esgotamento das rotas diplomáticas, para evitar um cenário de retaliação que poderia agravar ainda mais a situação.
Observações de mercado: a posição de cada setor
As reações das entidades que representam os setores afetados apresentam um padrão bastante semelhante: todos estão no compasso da espera. A Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), por exemplo, reafirmou a posição de aguardar mais informações antes de tomar uma decisão. No mesmo tom, o Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé) sinalizou que mantém comunicação com a National Coffee Association, buscando alternativas para a taxação proposta.
O diretor do Cecafé, Marcos Antonio Matos, enfatizou que a relação simbiótica entre o Brasil e os Estados Unidos deve ser analisada cuidadosamente. Isso acontece porque, para cada dólar gasto com café importado, estima-se que US$ 43 sejam injetados na economia americana, o que transforma a taxação em um fator que pode não ser benéfico nem para o país importador.
Suco de laranja: uma questão de tempo
No setor do suco de laranja, as incertezas são similares. A Associação Nacional dos Exportadores de Sucos Cítricos (CitrusBR) está aguardando informações mais detalhadas em relação ao impacto que as novas tarifas trarão. Eles ressaltam que o mercado norte-americano é responsável por 32% das exportações de suco brasileiro, e dados de mercado mostram que a tarifa que poderá ser aplicada pode representar um aumento significativo nos custos.
De fato, a tarifa adicional de 10% poderia elevar o custo de importação para níveis que tornariam difícil a competição, principalmente considerando a alta volatilidade dos preços. Atualmente, o preço do suco no mercado internacional já bate níveis históricos, e as incertezas podem potencialmente alimentar uma pressão descendente nos preços finais dos produtos.
Açúcar e etanol: cenários divergentes
A questão do açúcar, que já enfrenta taxas de 160% a partir de uma cota, não parece ser tão preocupante em um primeiro momento, segundo a União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia (Unica). Isso ocorre porque as importações para o volume determinado ainda não ultrapassaram a expectativa do mercado. Contudo, qualquer extravasamento nas compras poderia resultar em efeitos negativos.
O etanol, um biocombustível importante na pauta de exportações, também apresenta suas peculiaridades. O biocombustível brasileiro, que penetra os Estados Unidos com uma taxa de 2,5%, estaria concorrendo desigualmente com etanol americano que tem umataxa de 18%. A defesa da Unica se concentra no menor nível de emissões do etanol brasileiro, apontando que isso deveria ser um critério de avaliação em possíveis tarifas.
Futuras Perspectivas
O futuro do agronegócio brasileiro no contexto das novas tarifas impostas pelos Estados Unidos está repleto de incertezas e desafios. A cautela é a palavra de ordem, e as entidades representativas se preparam para uma luta que pode envolver não apenas a defesa de produtos, mas também um aprofundamento nas negociações diplomáticas. A esperança é que, através de abordagens estratégicas e diálogo, seja possível minimizar os impactos das taxas ou mesmo reverter algumas delas.
Os próximos dias e semanas deverão trazer mais informações que ajudarão a entender melhor a magnitude dessa política tarifária e quais passos poderão ser dados por parte dos setores afetados. Neste cenário, a união entre os produtores e as entidades representativas é fundamental para assegurar um futuro mais promissor e sustentável para o agronegócio brasileiro.
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Última atualização em 6 de abril de 2025