Semente mais cara eleva custo da safra de soja (e atrasa decisão de compra)
Antes da colheita é preciso semear. E no próximo mês, com o fim do vazio sanitário em algumas regiões, o Brasil começa o plantio da nova safra de soja.
A expectativa é positiva para o País, que pode alcançar um novo recorde de produção, mas entre os produtores, não faltam reclamações em função do preço mais baixo das commodities e do custo ainda elevado dos insumos, especialmente das sementes.
Dados revelam aumento nos custos das sementes
De acordo com o Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea), houve um aumento de 10% no preço médio da semente geneticamente modificada em junho deste ano, comparado ao mesmo mês do ano passado.
No relatório divulgado em julho de 2023 pelo Imea, constatou-se que o custo médio, apenas com sementes, para que o produtor de Mato Grosso plantasse um hectare de soja era de R$ 634,73. Em junho de 2024, esse valor subiu para R$ 699,10 por hectare.
Impacto regional profundo
O reajuste é ainda mais expressivo quando observamos outras regiões produtoras do Brasil. Em um levantamento recente, a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) apontou um aumento de 30,39% no custo médio com sementes e royalties da soja Intacta, entre maio e julho deste ano, em comparação ao mesmo período do ano passado. Esses dados foram baseados nas regiões do Mato Grosso, Paraná e Goiás – os três maiores estados produtores de soja no país.
O programa Campo Futuro da CNA mostrou que os produtores dessas regiões pagaram, em média, R$ 564 por hectare pelas sementes na safra 2023/24 e agora estão desembolsando R$ 735,38 para a implantação da safra 2024/2025.
Desafios adicionais para os produtores
O aumento nos custos das sementes representa um desafio adicional para os produtores. “A soja caiu (de preço) mas, basicamente, a semente não caiu nada,” expressa o agricultor Paulo César Pagotto, de Cambira, no norte do Paraná.
No mercado internacional, com boas expectativas de oferta norte-americana em 2024/25 e revisão para cima nos estoques globais, a cotação em Chicago (CBOT) para o contrato com vencimento mais curto (setembro/24) caiu 7,8% em 30 dias (até 21/8).
Efeitos na relação de troca
Nos últimos doze meses, a saca do grão recuou de R$ 147,19 para R$ 132,89, segundo o indicador Cepea (base do porto de Paranaguá), uma queda de 9,7% no período. O recuo só não foi maior porque o dólar valorizou em relação ao real.
“O preço do grão caiu muito mais do que o preço das sementes, tornando a relação de troca menos favorável para os produtores em comparação ao ano passado,” explica Lars Schobinger, CEO da Blink Inteligência Aplicada.
Decisões de compra atrasadas
Como consequência, assim como no caso de adubos e fertilizantes, houve um atraso nas compras das sementes este ano, devido à combinação de incertezas econômicas e climáticas.
Entre março e abril, a comercialização estava com cerca de 10% do mercado realizado, enquanto nos anos anteriores, seguindo um “fluxo natural,” esse número estaria em torno de 40% a 50%.
Impacto nas empresas de semente
A “espera” dos produtores para adquirir as sementes de soja da próxima safra refletiu no desempenho financeiro de algumas empresas do mercado durante o segundo trimestre deste ano.
Conforme reportado, a Boa Safra, importante sementeira brasileira, enfrentou um cenário desafiador no segundo trimestre de 2024, registrando uma queda de 34,9% em seu lucro líquido, impactada pelo ritmo lento do mercado de soja.
Perspectivas futuras: Previsão de queda de preços
A boa notícia é que, segundo Lars Schobinger, da Blink, a tendência agora é de queda no preço das sementes. O último levantamento do Imea já mostrou um recuo para R$ 627 por hectare no custo das sementes de soja.
“A percepção que a gente tem no mercado, tanto falando com a distribuição, quanto falando com os próprios sementeiros, é que existe uma pressão de preço de baixa e a gente entende que no final do dia, no final da safra, o preço vai ter uma redução média na casa de uns 10% sobre o preço praticado na safra anterior,” afirmou Schobinger.
Considerações Finais
O aumento no custo das sementes de soja vem sendo uma pedra no sapato dos produtores brasileiros. As margens já apertadas com a queda do preço do grão somam-se a essa nova realidade, criando um cenário de incerteza e adiamento de decisões de compra.
Contudo, as previsões de uma possível queda nos preços das sementes trazem uma esperança renovada para o futuro, possibilitando que os produtores possam retomar suas atividades com custos mais controlados. O tempo dirá se essas projeções se confirmarão, mas, por ora, é preciso planejamento estratégico e cautela para superar os desafios impostos por essa nova dinâmica de mercado.
Última atualização em 30 de agosto de 2024