Com oferta em queda, primeiro trimestre tem sabor amargo para indústria do cacau
O primeiro trimestre de 2025 trouxe desafios significativos para a indústria do cacau, marcada por uma queda alarmante na oferta e uma volatilidade sem precedentes nos preços. A redução na produção dos principais países produtores, incluindo Brasil, Gana e Costa do Marfim, pressionou a demanda global, resultando em uma diminuição acentuada no volume de cacau moído. Os dados da Associação Nacional das Indústrias Processadoras de Cacau (AIPC) revelam um cenário complicado, com um recuo de 13% na moagem em comparação ao ano anterior, colocando a indústria em uma posição delicada.
Impacto das condições climáticas na produção
A cadeia produtiva do cacau tem enfrentado sérios desafios devido a variações climáticas severas. As lavouras em países como Brasil, Gana e Costa do Marfim sofreram com perdas significativas, refletindo na baixa produtividade. As chuvas irregulares e a longa estiagem nos últimos meses comprometeram o desenvolvimento das amêndoas, levando as indústrias processadoras a registrar uma queda de 67% no volume recebido em comparação ao trimestre anterior. Essa sequência de eventos adversos não só impactou a produtividade, mas também as expectativas de colheita para o restante do ano.
Estatísticas alarmantes no processamento de cacau
Dados da AIPC sobre o processamento de cacau mostram que o volume total moído das principais indústrias encarregadas do processamento foi de apenas 52.135 toneladas, um nível alarmante se comparado ao ano passado, quando o número era de 59.942 toneladas. Este é considerado o segundo menor volume de recebimento registrado em um trimestre nos últimos cinco anos. As principais empresas do setor, como Barry Callebaut e Cargill, reportaram uma redução drástica, recebendo juntas 17.758 toneladas, o que impactou diretamente na oferta de chocolate e outros produtos derivados no mercado.
Retração nas vendas e ajustes no portfólio de produtos
A diminuição na demanda pelas amêndoas de cacau reflete uma desaceleração no consumo de chocolate, especialmente em preparações para a Páscoa. Jaime Recena, presidente da Abicab, mencionou que a indústria deve produzir 45 milhões de ovos de Páscoa, o que representa uma queda de 22% em comparação com 58 milhões no ano anterior. Para lidar com esse cenário, as indústrias estão adaptando seus portfólios, introduzindo produtos que possuem um menor percentual de cacau e aumentando a quantidade de ingredientes alternativos, como castanhas e biscoitos, como estratégia para reduzir custos e estimular as vendas.
Os preços sobem: desafios e reações do mercado
O cenário peculiar da indústria do cacau é marcado por um aumento sem precedentes nos preços, influenciado pela baixa produção e pela inflação. A alta de 300% no cacau e a inflação de 10% no preço do chocolate nas prateleiras são reflexos diretos dessa crise. Para evitar onerar os consumidores, as empresas estão se consolidando para manter os preços o mais estáveis possível, embora a situação continue a ser desafiadora. A necessidade de equilibrar custos e manter a lucratividade está pressionando as indústrias a atuarem rapidamente para adaptar suas estratégias no mercado.
O papel das importações na balança comercial do cacau
Diante da drástica redução na produção interna, as indústrias brasileiras têm recorrido cada vez mais à importação de amêndoas para atender à demanda. No primeiro trimestre de 2025, as importações atingiram 19.491 toneladas, um aumento de 30% em comparação ao ano anterior. Essa dependência das importações destaca a fragilidade do sistema produtivo nacional e a dificuldade de atender às necessidades do mercado interno. As empresas precisam agora se ajustar aos desafios impostos pela escassez de oferta local e os altos custos associados a suas operações.
Busca pela autossuficiência: Inovações e investimentos no setor
Para mitigar a crise e buscar a autossuficiência na produção de cacau, o Brasil tem visto um aumento significativo nos investimentos no setor. O plano InovaCacau visa elevar a produção para 400 mil toneladas até 2030, com foco em expandir o cultivo em áreas não tradicionais e aumentar a capacidade produtiva por meio da modernização das práticas agrícolas. As iniciativas incluem a atualização de técnicas de manejo e a valorização de novas áreas com potencial para cultivo, além de atrair produtores de outros setores para diversificar a produção e aumentar a resiliência do mercado.
Expectativas futuras: Desafios climáticos e a recuperação do mercado
Enquanto a indústria busca se adaptar a este cenário desafiador, as previsões para a safra de cacau em 2025 ainda são incertas. Especialistas apontam que a combinação de fatores climáticos adversos e a necessidade de um planejamento mais robusto serão cruciais para a recuperação do setor. Anna Paula Losi, presidente da AIPC, sugere que a recuperação da oferta poderá ser percebida apenas no terceiro trimestre do ano, com a expectativa de um aumento gradual na produtividade conforme as condições climáticas melhorarem. O futuro da indústria de cacau depende, portanto, não apenas de uma resposta imediata aos desafios atuais, mas também da capacidade de se adaptar às condições do mercado e de melhorar a produção a longo prazo.
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Última atualização em 14 de abril de 2025