Juros ficam entre 8,5% e 14% ao ano e dominam discursos no anúncio do Plano Safra 2025/2026
O anúncio do Plano Safra 2025/2026 trouxe à tona um dos temas mais discutidos e sensíveis para o setor agrícola: a alta das taxas de juros. Com o teto do financiamento fixado em 14% ao ano, a nova safra terá custos maiores para o produtor rural, refletindo diretamente a taxa Selic elevada, que atualmente está em 15% ao ano. Esta elevação nos juros coloca em evidência os desafios financeiros enfrentados pelos agricultores, especialmente os médios e grandes, que dependem do crédito rural para custeio, investimento e comercialização.
Durante o lançamento oficial, realizado no Palácio do Planalto, as autoridades responsáveis apresentaram os números e ressaltaram as dificuldades para adequar o Plano Safra em meio ao cenário econômico. O ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, além de confirmar as taxas de juros, expressou críticas contundentes ao Banco Central e ao Comitê de Política Monetária (Copom) pela manutenção da Selic alta, considerada um entrave ao investimento no campo. O debate sobre juros dominou os discursos, refletindo a preocupação com o impacto financeiro sobre o setor.
Impacto das taxas de juros altas para o produtor rural
As taxas de juros que variam entre 8,5% a 14% ao ano significam um aumento significativo em relação ao ciclo anterior de 2024/2025, quando os juros ficaram entre 7% e 12%. Para muitos produtores, isso representa uma pressão extra sobre a viabilidade econômica das suas atividades. O custo maior do financiamento implica que os produtores terão que planejar com ainda mais cuidado as suas operações, buscando formas de otimizar recursos e reduzir desperdícios para garantir rentabilidade.
A alta da Selic tem repercussão direta no crédito rural porque encarece a captação dos recursos utilizados no financiamento agrícola. Com isso, há uma diminuição do apetite de investidores pela poupança, tradicional fonte de capital para o setor. Segundo o ministro Fávaro, o Brasil se transformou em um país “de rentistas”, em que os altos juros desviam recursos que poderiam ser aplicados no investimento produtivo, limitando o crescimento do agronegócio.
Críticas ao Banco Central e Selic: o cenário econômico e político
No discurso de apresentação, Carlos Fávaro manifestou insatisfação com a atual política monetária. Para ele, a manutenção da Selic em níveis próximos a 15% é incoerente diante dos indicadores econômicos positivos, como inflação controlada, crescimento econômico e redução do desemprego. Essa discordância evidencia um conflito entre as prioridades do governo e a política adotada pelo Banco Central, que tem como missão principal o controle da inflação.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva também entrou no debate ao criticar a alta da Selic e afirmar que o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, ainda está “ajustando o prato” e que a taxa deve sofrer redução. Lula atrelou a possível queda da taxa a fatores como a redução do dólar, do desemprego e da inflação, além do crescimento da economia, sugerindo uma visão otimista do cenário futuro.
Recursos alocados e suas implicações para o agronegócio
O Plano Safra para 2025/2026 dispõe de um valor total recorde de R$ 516,2 bilhões para financiamento, com aumento nominal, mas queda real quando considerada a inflação de 5,3%. Deste montante, R$ 414,7 bilhões são destinados ao custeio e comercialização, enquanto R$ 101,5 bilhões vão para investimentos, demonstrando um leve deslocamento nos recursos para as operações diárias do produtor.
Além disso, os valores para o Programa Nacional de Apoio ao Médio Produtor Rural (Pronamp) também aumentaram, passando de R$ 65,2 bilhões para R$ 69,1 bilhões. Para cooperativas e demais produtores, a elevação é discreta, de R$ 443,4 bilhões para R$ 447 bilhões. Esses números mostram um esforço governamental para manter o suporte financeiro, mesmo diante das pressões inflacionárias e monetárias.
Desafios e controvérsias em torno do volume de recursos e seu real impacto
Embora o governo destaque os recursos recordes em valores nominais, há controvérsias sobre o real impacto do Plano Safra. A oposição e parte do setor questionam se o aumento nominal é suficiente, especialmente quando se desconta a inflação. De fato, o crescimento real negativo pode dificultar o acesso efetivo ao crédito por parte de agricultores, impactando a produção e a competitividade do Brasil no mercado global.
Outra crítica recorrente envolve a comparação com o governo anterior, uma vez que apesar do salto nos recursos totais, o contexto econômico atual impõe uma cautela maior para otimizar o uso desses fundos. O debate inclui ainda a repercussão dos juros elevados no custo final dos produtos, influenciando preços ao consumidor, como foi destacado em relação aos preços da carne e dos ovos, que têm sofrido reajustes significativos.
Futuras perspectivas para o Plano Safra e o crédito rural
O cenário apresentado pelo Plano Safra 2025/2026 indica que o setor agrícola continuará enfrentando um ambiente financeiro desafiador, com taxas de juros elevadas que podem restringir o crédito e o investimento. No entanto, as falas do presidente e do ministro sugerem a esperança de ajustes na política monetária e, consequentemente, em redução dos juros no futuro próximo.
Com a possibilidade de queda da Selic amparada por indicadores econômicos positivos, os agricultores podem vir a ter melhores condições para financiar suas operações. O setor produtivo ficará atento às movimentações econômicas e políticas, buscando adaptar sua estratégia para continuar crescendo e colaborando com o desenvolvimento econômico do país.
Última atualização em 4 de julho de 2025