Hidrogênio enfrenta entraves e biocombustíveis ganham força no setor marítimo, diz IMO.

Hidrogênio enfrenta entraves e biocombustíveis ganham força no setor marítimo, diz IMO.

Hidrogênio vs. Biocombustíveis: A Eficiência Decide o Futuro Marítimo

Em um debate acalorado sobre o futuro dos combustíveis marítimos, Flávio Mathuiy, assessor da Comissão Coordenadora para os Assuntos da Organização Marítima Internacional (IMO) na Marinha do Brasil, levantou sérias questões sobre a viabilidade do hidrogênio como principal vetor de descarbonização para o setor. Durante o Energy Summit 2025, Mathuiy argumentou que a ineficiência na produção e utilização do hidrogênio verde pode tornar os biocombustíveis uma alternativa mais atraente e imediata.

A declaração de Mathuiy, dada em entrevista exclusiva ao estúdio redação, aponta para uma análise crítica da aplicação do hidrogênio verde em larga escala no transporte marítimo. Ele questiona se o investimento massivo em hidrogênio verde para uso marítimo realmente se justifica, considerando a disponibilidade de alternativas como os biocombustíveis, que já podem ser implementados em um futuro próximo. A discussão central gira em torno da busca por soluções práticas e eficientes para reduzir as emissões de carbono no setor marítimo, um dos grandes desafios globais da atualidade.

Desafios do Hidrogênio Verde no Setor Marítimo

A principal preocupação de Mathuiy reside na complexidade e nos custos associados à produção e utilização do hidrogênio verde. A produção de hidrogênio verde, embora promissora, ainda enfrenta desafios significativos em termos de eficiência energética e infraestrutura. Transformar esse hidrogênio em um combustível viável para navios requer adaptações complexas e investimentos consideráveis em novas tecnologias e infraestrutura portuária.

Além disso, a densidade energética do hidrogênio é um fator limitante. Mathuiy destacou que o hidrogênio ocupa um volume sete vezes maior do que o óleo combustível para fornecer a mesma quantidade de energia. Essa diferença de volume impõe um desafio logístico significativo para os navios de carga, que precisam maximizar o espaço disponível para a carga transportada. Reduzir a capacidade de carga para acomodar o hidrogênio pode tornar o transporte menos eficiente e economicamente inviável, impactando o comércio global.

Vantagens Estratégicas dos Biocombustíveis

Em contraste com os desafios do hidrogênio, Mathuiy enfatiza as vantagens dos biocombustíveis como uma solução de curto e médio prazo para a descarbonização do setor marítimo. Uma das principais vantagens dos biocombustíveis é a sua compatibilidade com a infraestrutura existente. Biocombustíveis como o biodiesel são “drop-in fuels”, o que significa que podem ser utilizados diretamente nos motores dos navios sem a necessidade de grandes modificações ou investimentos em novas tecnologias.

Essa característica “drop-in” permite que os armadores comecem a reduzir as emissões de carbono de suas frotas de forma imediata, utilizando percentuais de mistura de biodiesel nos navios já a partir de 2028. A implementação gradual dos biocombustíveis oferece uma transição suave e economicamente viável para um futuro mais sustentável. Além disso, a produção de biocombustíveis pode ser descentralizada, utilizando matérias-primas regionais e gerando empregos e renda nas comunidades locais.

O Fator Tempo na Descarbonização Marítima

A urgência da crise climática exige ações rápidas e eficazes para reduzir as emissões de carbono em todos os setores da economia. Mathuiy argumenta que esperar até 2040 para ter a infraestrutura e a produção de hidrogênio verde e amônia verde em escala suficiente para atender à demanda do setor marítimo pode ser um erro estratégico. A demora na implementação de soluções de descarbonização pode ter consequências graves para o meio ambiente e para a saúde humana.

A proposta de criação de um fundo para financiar a transição para o hidrogênio e a amônia verde, embora bem-intencionada, pode se tornar ineficaz se a implementação dessas tecnologias demorar décadas para se concretizar. Nesse cenário, o fundo acumularia recursos financeiros sem gerar um impacto real na redução das emissões de carbono. A alternativa, segundo Mathuiy, é investir em soluções que já estão disponíveis e que podem ser implementadas em um futuro próximo, como os biocombustíveis.

Implicações Econômicas e Logísticas da Escolha do Combustível

A escolha do combustível para o futuro do setor marítimo tem implicações econômicas e logísticas significativas. A utilização de hidrogênio verde, com seu volume sete vezes maior em comparação com o óleo combustível, pode reduzir drasticamente o espaço disponível para a carga nos navios. Essa redução na capacidade de carga pode aumentar os custos de transporte e impactar o comércio global.

Para compensar a redução na capacidade de carga, seria necessário aumentar o número de navios em operação, o que aumentaria ainda mais as emissões de carbono e os custos operacionais. Nesse cenário, a utilização de hidrogênio verde pode se tornar economicamente inviável e ambientalmente contraproducente. Os biocombustíveis, por outro lado, oferecem uma solução mais equilibrada, permitindo que os navios transportem a mesma quantidade de carga com uma pegada de carbono menor.

Futuras Perspectivas

A discussão sobre o futuro dos combustíveis marítimos está longe de ser concluída. Embora o hidrogênio verde e a amônia verde representem promessas de longo prazo, os biocombustíveis emergem como uma alternativa viável e imediata para a descarbonização do setor. A decisão final sobre qual combustível será o dominante dependerá de uma série de fatores, incluindo avanços tecnológicos, políticas governamentais e incentivos financeiros.

É fundamental que os governos, a indústria naval e a comunidade científica trabalhem juntos para encontrar soluções inovadoras e sustentáveis que garantam um futuro mais limpo e eficiente para o transporte marítimo. A combinação de diferentes tecnologias e combustíveis, incluindo biocombustíveis, hidrogênio verde e outras alternativas, pode ser a chave para alcançar as metas ambiciosas de redução de emissões estabelecidas pela IMO e outros órgãos reguladores. O debate continua, e o futuro do setor marítimo está em jogo.





Última atualização em 3 de julho de 2025

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