O Governo do Paraná vai custear análises laboratoriais para pequenas agroindústrias e propriedades rurais de base familiar, com foco na regularização sanitária de produtos de origem animal. A iniciativa prevê investimento de R$ 740,8 mil e foi formalizada em carta de intenções assinada pelas secretarias da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (Seti) e da Agricultura e do Abastecimento (Seab) e pelo Instituto de Tecnologia do Paraná (Tecpar) durante a abertura da Feira Sabores do Paraná, em Curitiba, na quinta-feira (21). A medida pretende reduzir gastos dos produtores e ampliar a confiabilidade dos alimentos oferecidos ao consumidor.
O projeto está alinhado às exigências do Sistema Unificado de Atenção à Sanidade Agroindustrial Familiar, Artesanal e de Pequeno Porte (Susaf), coordenado pela Agência de Defesa Agropecuária do Paraná (Adapar). Segundo dados informados no anúncio, 193 municípios já aderiram ao Susaf e 136 agroindústrias estão cadastradas, aptas a participar do benefício. A expectativa é que o apoio à análise de amostras acelere registros, libere vendas legais e diminua riscos de não conformidade.
O que foi anunciado
O Estado bancará, de forma gratuita ou com desconto, ensaios laboratoriais essenciais para comprovar a qualidade de produtos de origem animal fabricados por pequenas unidades. O objetivo é facilitar o cumprimento das normas sanitárias, reduzir multas e interdições e fortalecer a presença desses empreendimentos no mercado formal. O apoio vale para agroindústrias registradas no Serviço de Inspeção Municipal (SIM) e cadastradas no Susaf, desde que atendam aos critérios de seleção do projeto.
Na prática, o Tecpar fará as análises em seus laboratórios, enquanto os produtores ficam encarregados de coletar e transportar as amostras seguindo orientações técnicas. Representantes da Adapar e da Seti destacaram que o custeio das análises tende a aliviar um dos pontos mais caros do processo de regularização, abrindo espaço para ampliação de portfólio e acesso a novos clientes.
Como vai funcionar
As amostras serão recebidas pelo Centro de Tecnologia em Saúde e Meio Ambiente do Tecpar. Cada lote deverá chegar acondicionado conforme orientação de temperatura, proteção contra luz e prazo máximo entre coleta e análise. O fluxo incluirá ficha de cadastro, identificação do produto, data e hora da coleta, responsável técnico e assinatura do representante da agroindústria, garantindo rastreabilidade.
O projeto prevê um período de apoio financeiro limitado, com referência de até dois anos para desoneração de custos de análises em parte das linhas contempladas. A seleção das agroindústrias levará em conta parâmetros como capacidade produtiva, histórico de inspeções, maturidade de controles internos e aderência aos requisitos do Susaf. Resultados deverão ser disponibilizados em laudos técnicos, com prazos definidos conforme o tipo de ensaio solicitado.
Os custos de transporte das amostras são de responsabilidade do produtor, e cada envio precisa manter o lacre e o controle de temperatura quando exigido. O Tecpar poderá orientar sobre volumes mínimos, recipientes adequados, materiais de conservação e preenchimento correto da documentação, reduzindo a chance de rejeição da amostra ou necessidade de reenvio.
Quem pode participar
Podem participar agroindústrias familiares registradas no SIM e cadastradas no Susaf, com estabelecimento em município aderente ao sistema. A prioridade recai sobre empreendimentos de pequeno porte que produzam alimentos de origem animal, como queijos, lácteos, embutidos, pescados e mel, entre outros. É necessário manter documentação sanitária atualizada e demonstrar condições básicas de boas práticas de fabricação.
Para ingressar, o produtor deve sinalizar interesse ao serviço de inspeção do seu município e acompanhar o edital ou chamamento que definirá prazos e critérios operacionais. Estar com o cadastro no Susaf regular, possuir responsável técnico quando exigido e ter rotinas mínimas de autocontrole já implantadas aumentam as chances de seleção.
- Registro ativo no Serviço de Inspeção Municipal (SIM);
- Cadastro no Susaf validado pela Adapar;
- Comprovação de produção regular e estrutura compatível com o tipo de produto;
- Disponibilidade para seguir protocolos de coleta e envio de amostras;
- Documentos sanitários e fiscais atualizados.
Quais análises serão custeadas
O escopo abrange exames químicos e microbiológicos voltados a produtos de origem animal e insumos associados. Entre os exemplos estão contagem total de bactérias, pesquisa de patógenos de interesse em alimentos, verificação de pH, umidade, teor de gordura, proteínas e cloretos, além de testes de atividade de água quando aplicável. Para bebidas lácteas e similares, podem entrar densidade, acidez e conformidade rotulária com base em parâmetros físico-químicos.
Também estão previstos ensaios para detecção de resíduos de medicamentos veterinários conforme matrizes de risco, controle de qualidade de água utilizada no processamento, avaliação de superfícies e equipamentos por swab e verificação de procedimentos de higienização. Em embalagens, podem ser solicitados testes de migração específica e avaliação de integridade, conforme a necessidade de cada processo produtivo.
- Microbiologia: coliformes, Salmonella spp., Listeria monocytogenes, Staphylococcus coagulase positiva, entre outros parâmetros conforme o produto;
- Físico-químicos: pH, umidade, gordura, proteína, acidez titulável, atividade de água, teor de sal;
- Resíduos: triagem e confirmação de fármacos veterinários em leite, carne, ovos e mel, quando aplicável;
- Água de processo: potabilidade, cloro residual livre, turbidez, coliformes totais e E. coli;
- Superfícies: verificação de limpeza e higienização por contagem e indicadores específicos.
Programas de Autocontrole (PAC): o que muda na rotina
O subsídio às análises facilita a implantação de Programas de Autocontrole (PAC), que reúnem procedimentos padronizados para higiene, controle de pragas, manejo de água, rastreabilidade e validação de processos. Com laudos periódicos, o responsável técnico consegue ajustar pontos críticos de controle e comprovar que os limites operacionais estão dentro do previsto em norma.
Na prática, os PAC reduzem incertezas. Dados mensais ou por lote embasam decisões como troca de fornecedor, revisão do tempo de maturação de um queijo ou adequação do binômio tempo/temperatura de um defumado. A documentação organizada agiliza auditorias e minimiza interrupções na produção.
- Padronização de limpeza e desinfecção com registros de cada etapa;
- Plano de amostragem definido por produto e por risco;
- Rastreabilidade do lote desde a matéria-prima até a entrega;
- Treinamento periódico da equipe e registros de presença;
- Ações corretivas descritas para cada não conformidade.
Passo a passo para envio de amostras
Antes de coletar, o produtor deve checar o guia do Tecpar com orientações de volume, tipo de frasco, temperatura e tempo máximo de transporte. Embalagens precisam estar íntegras e identificadas com rótulo legível. A etiqueta deve conter nome do produto, lote, data de fabricação, data e hora da coleta e identificação do coletor. Em produtos refrigerados, usar caixa térmica com gelo reciclável ou gelo seco, conforme a matriz.
No envio, anexar a ficha de solicitação, cópia do registro no SIM e comprovante de cadastro no Susaf, quando cabível. O protocolo de recebimento indicará prazos de conclusão e contato para esclarecimentos. Se houver rejeição da amostra por violação de lacre ou temperatura inadequada, o laboratório comunicará a necessidade de novo envio.
- Solicite a lista de ensaios e requisitos de coleta;
- Planeje a coleta no início da semana para evitar atrasos logísticos;
- Use frascos estéreis e rotule antes da coleta;
- Mantenha a cadeia de frio durante o transporte;
- Envie a documentação completa junto com as amostras;
- Acompanhe o protocolo e registre os resultados nos PAC.
SIM, Susaf e Adapar: entenda a diferença
O SIM é o serviço municipal que fiscaliza e autoriza a produção de alimentos de origem animal para venda dentro do município. Ele avalia instalações, fluxo de processos e cumprimento de boas práticas. O Susaf é um sistema que permite a equivalência entre municípios e amplia a comercialização para além da cidade, conforme critérios de padronização e controle. A Adapar coordena e valida essa integração, garantindo que as regras sejam cumpridas de forma uniforme.
Para o produtor, a adesão ao Susaf, quando disponível, representa a possibilidade de ampliar o mercado. Entretanto, isso exige um nível de controle mais rigoroso, com registros, rotinas de amostragem e comprovação constante da qualidade do produto. O novo custeio das análises ajuda exatamente nesse ponto: dá fôlego financeiro e previsibilidade para manter o calendário de testes sem comprometer o caixa da agroindústria.
Com 193 municípios já inseridos no Susaf e 136 agroindústrias cadastradas para receber o benefício, a iniciativa atua no elo que muitas vezes trava a expansão: o custo fixo das análises. Com o laudo na mão, o produtor demonstra conformidade e acelera trâmites junto à inspeção.
Tecpar: estrutura e capacidade
O Tecpar tem tradição em ensaios laboratoriais aplicados à cadeia de alimentos, bebidas, embalagens, área agrícola e saúde. O complexo conta com laboratórios especializados, equipamentos de alta precisão e equipes técnicas treinadas em métodos reconhecidos. A instituição emite laudos que podem ser usados em processos de inspeção e em rotinas de verificação interna de cada agroindústria.
Além da execução dos exames, o instituto oferece orientação sobre adequação de processos. Isso inclui ajuste de parâmetros de pasteurização, verificação de pontos de risco em fluxos de produção e avaliação de fornecedores. A atuação se volta para problemas práticos do dia a dia, como variação de acidez, contaminação cruzada e controle de pragas no entorno do estabelecimento.
A parceria com as secretarias estaduais garante que a agenda de análises priorize demandas de pequena escala, com cronogramas compatíveis com a realidade do interior do Estado. O produtor ganha um canal de suporte técnico e um roteiro claro para atender às exigências legais.
Impacto econômico e competitivo
O custo de análises é um componente relevante no orçamento de pequenas fábricas de alimentos. Em muitos casos, o preço de um único pacote de exames inviabiliza a frequência ideal de testes. Com o custeio total ou parcial, o produtor consegue cumprir o plano de amostragem e manter a regularidade das verificações, o que reduz retrabalho e perdas por descarte de lotes.
O benefício também favorece a previsibilidade de caixa. Em vez de adiar análises por falta de recursos, a agroindústria mantém o calendário e evita rupturas de fornecimento. Com laudos atualizados, o produto circula com segurança jurídica e regularidade, abrindo portas para redes varejistas, compras públicas e plataformas de venda que exigem documentação em dia.
Para o consumidor, o ganho é direto: alimentos testados e procedimentos rastreáveis. Para o produtor, a consequência é maior competitividade e reputação mais sólida, fatores que ajudam a fidelizar clientes e a sustentar preços compatíveis com a qualidade entregue.
Exemplos práticos de aplicação
Uma queijaria familiar que fornece minas padrão e muçarela precisa comprovar o controle de bactérias indicadoras e a ausência de patógenos conforme a categoria do produto. Com o apoio do projeto, a unidade consegue testar lotes de forma contínua, ajustar a temperatura de coagulação e a cura quando necessário e registrar cada resultado no seu plano de autocontrole. Ao identificar um desvio de pH, a equipe revisa a cultura láctea e o tempo de maturação, evitando perdas maiores.
Em um pequeno frigorífico de embutidos, a análise de atividade de água e a verificação de nitrito/nitrato ajudam a padronizar salsichas e linguiças. Se a contagem de estafilococos sobe, verifica-se o processo de fatiamento e a higienização de facas e mesas. O laudo serve de base para treinar funcionários, redistribuir tarefas e reforçar o controle de temperatura de câmaras frias.
Para uma casa de mel, os testes de umidade e de resíduos são determinantes para a qualidade final. Caso o teor de água fique acima do recomendado, orienta-se ajuste no ponto de colheita e no desoperculado, além do controle de armazenamento antes do envasamento. Se houver indício de contaminação ambiental, são adotadas barreiras físicas e revisão do manejo no entorno do apiário.
No caso de granjas com processamento de ovos, a checagem da integridade da casca, a limpeza adequada e a pesquisa de microrganismos orientam a rotina de classificação e embalagem. Com o subsídio, torna-se viável manter o ciclo de análises por lote ou por período, reduzindo devoluções e garantindo padronização do produto final.
Dúvidas frequentes
O anúncio informa que o projeto atenderá agroindústrias familiares registradas no SIM e cadastradas no Susaf, com seleção pautada por critérios técnicos. Isso significa que a participação não é automática. O produtor precisa acompanhar o chamamento e enviar a documentação exigida. Em caso de volume elevado de interessados, poderão ser estabelecidas prioridades por risco e por capacidade de atendimento do laboratório.
Outra dúvida comum recai sobre a abrangência dos ensaios. O escopo será definido conforme matrizes e riscos de cada cadeia produtiva, respeitando a legislação. Itens como rotulagem e testes complementares podem exigir etapas adicionais. A orientação é planejar a agenda de amostras com antecedência para evitar interrupções na produção.
- Quem paga o transporte? O produtor;
- Quem define o plano de amostragem? O responsável técnico, com base na legislação e nos PAC;
- Quanto tempo dura o apoio? Referência informada de até dois anos para desoneração de custos, conforme o projeto;
- O laudo serve para inspeções? Sim, os resultados são documentos de comprovação de conformidade;
- Preciso do Susaf para participar? É requisito de cadastro, aliado ao registro no SIM.
Boas práticas para reduzir não conformidades
Boas práticas simples ajudam a diminuir reprovações em laudos. A primeira é manter a higiene de instalações e equipamentos com cronograma definido. A segunda é organizar o fluxo de pessoas e matérias-primas, evitando cruzamentos entre áreas limpas e sujas. Outra frente é treinar constantemente a equipe para seguir procedimentos com rigor.
A validação de etapas críticas também é decisiva. Em lácteos, por exemplo, a pasteurização deve ter parâmetros registrados e checados. Em embutidos, a relação tempo/temperatura precisa seguir tabelas reconhecidas. Com o apoio às análises, o produtor acompanha tendências e corrige desvios antes que virem problema maior.
- Padronize POPs com linguagem simples;
- Implemente checklists diários por setor;
- Monitore água e gelo usados na produção;
- Mantenha equipamentos calibrados e registre as calibrações;
- Aplique ações corretivas sempre que um limite for excedido e documente.
Como se preparar para auditorias
Auditorias verificam documentos, práticas e resultados. Ter os laudos organizados por data, produto e lote agiliza a conferência. O auditor checa se as análises cobrem os perigos relevantes e se os resultados serviram para tomar decisão. Também observa se as correções foram aplicadas quando houve desvio.
É importante manter histórico de treinamentos, comprovar a origem da matéria-prima e garantir que o rotulário corresponda ao que está no produto. A coerência entre o que está escrito no POP e o que se faz no chão de fábrica é ponto de atenção. A equipe deve saber explicar o fluxo, os controles e onde encontrar cada registro.
- Separe laudos e protocolos por ano e por produto;
- Tenha mapas de rastreabilidade prontos para consulta;
- Garanta que o responsável técnico esteja presente;
- Simule perguntas de auditor e treine respostas objetivas;
- Atualize organograma e atribuições da equipe.
Cronograma e próximos passos do governo
A carta de intenções foi assinada na abertura da Feira Sabores do Paraná, em Curitiba, na quinta-feira (21). A partir desse marco, as secretarias envolvidas e o Tecpar trabalham no detalhamento operacional, incluindo a formalização de fluxos, a definição de escopo por cadeia produtiva e a divulgação de orientações aos municípios com SIM ativo e aderentes ao Susaf. O objetivo é começar o atendimento com cronograma pactuado e metas de execução mensais.
O montante previsto é de R$ 740,8 mil, proveniente do Fundo Paraná, instrumento estadual de fomento científico e tecnológico. Os recursos serão aplicados nos ensaios laboratoriais, na organização do atendimento e na emissão dos laudos. A comunicação com os produtores ocorrerá em parceria com as prefeituras e serviços de inspeção, que orientarão sobre prazos e documentação.
Onde buscar atendimento
O primeiro canal é o Serviço de Inspeção Municipal. É ele quem valida o cadastro da agroindústria, acompanha a rotina de fiscalização e fornece as informações sobre participação no projeto. As secretarias municipais de agricultura e as regionais da Seab também podem orientar sobre as exigências de cada cadeia produtiva e sobre os formulários necessários para o envio de amostras.
Produtores interessados devem reunir documentos, revisar os Programas de Autocontrole e conferir a lista de análises adequadas ao seu produto. Com a documentação organizada e o cadastro em dia, a participação tende a ser mais ágil. O laudo técnico é a peça central que comprova a conformidade do alimento, dá segurança jurídica ao produtor e informa o consumidor sobre a qualidade do que chega à mesa.
Última atualização em 1 de setembro de 2025