Expansão Planejada de Carvão Expõe Desafio de Ambições Climáticas
O mundo está em uma encruzilhada climática, com o carvão, o combustível fóssil mais sujo, representando um obstáculo significativo para alcançar as metas globais de emissões líquidas zero até 2050. Um novo relatório do Global Coal Mine Tracker revela que a expansão planejada da mineração de carvão ameaça comprometer os esforços para limitar o aquecimento global a 1,5ºC até 2100. A capacidade de mineração de carvão em desenvolvimento, estimada em 2.270 milhões de toneladas por ano (Mtpa), poderá liberar cerca de 1,3 bilhão de toneladas de CO2 equivalente na atmosfera, um volume que ultrapassa as emissões anuais de muitos países industrializados.
As emissões globais relacionadas aos combustíveis fósseis já estão em níveis alarmantes, tendo aumentado 0,8% em 2024, atingindo 37,4 bilhões de toneladas de CO2, de acordo com o Global Carbon Project. Para manter o Acordo de Paris ao alcance, essas emissões precisam ser drasticamente reduzidas em 43% até 2030. A persistência na expansão da mineração de carvão mina esses esforços, criando uma disparidade gritante entre as ambições climáticas e as ações concretas.
Concentração Geográfica da Expansão do Carvão
A maior parte da expansão planejada da mineração de carvão está concentrada em poucos países, com China, Índia, Austrália e Rússia respondendo por quase 90% de todos os projetos em desenvolvimento. Essa concentração geográfica significa que as decisões tomadas por esses países terão um impacto desproporcional no futuro climático global. A China, em particular, se destaca como o principal motor dessa expansão, com projetos que superam a capacidade de todos os outros países combinados.
Apesar de alguns sinais de desaceleração na aprovação de novos projetos e na entrada em operação de novas minas em 2024, a quantidade de carvão ainda em desenvolvimento é motivo de grande preocupação. Três quartos desses projetos são empreendimentos *greenfield*, indicando um forte compromisso da indústria em construir novas minas, garantindo uma produção de longo prazo e, consequentemente, emissões contínuas por décadas.
O Impacto das Minas *Greenfield* versus *Brownfield*
O relatório do Global Coal Mine Tracker destaca uma diferença crítica entre minas *greenfield* (novas) e *brownfield* (expansões de minas existentes). As minas *greenfield* tendem a ter uma vida útil significativamente maior, estimada em cerca de 54 anos a mais do que as minas *brownfield*. Isso significa que, embora a expansão de minas existentes possa ter um impacto imediato nas emissões, a construção de novas minas garante um fluxo constante de emissões por mais de meio século.
Essa distinção é crucial para entender a urgência de interromper completamente o desenvolvimento de novos projetos de carvão. A longo prazo, as emissões acumuladas de novas minas superam em muito as emissões das minas existentes, tornando-as um fator de risco ainda maior para o cumprimento das metas climáticas globais.
Desafios Climáticos da China
A China desempenha um papel ambíguo no cenário energético global, sendo simultaneamente o país que mais investe em energia renovável e o que mais expande a capacidade de mineração de carvão. Em 2024, a China registrou níveis relativamente baixos de projetos recém-aprovados e de nova capacidade operacional de carvão entrando em operação. No entanto, o país ainda possui uma enorme quantidade de projetos em desenvolvimento, com mais de 450 usinas em construção.
Essa dualidade representa um desafio significativo para as metas climáticas da China e do mundo. Ao concentrar 60% de toda a capacidade de mineração proposta no mundo, a China corre o risco de gerar 80% das emissões de metano vinculadas a esses projetos planejados. O sucesso ou fracasso da transição energética chinesa terá um impacto profundo no futuro climático global.
Incertezas nos EUA e o “Carvão Limpo”
Embora a América do Norte seja menos relevante em termos de emissões em comparação com a Ásia, desdobramentos políticos nos Estados Unidos podem atrasar ainda mais o abandono do carvão. A promoção do chamado “carvão limpo e bonito” por parte de algumas correntes políticas adiciona incerteza à trajetória da região rumo à eliminação gradual do fóssil nos próximos anos.
Com 45 projetos de mineração em desenvolvimento, a região enfrenta o desafio de equilibrar a necessidade de energia com a crescente pressão para reduzir as emissões. A incerteza política em torno das políticas energéticas e climáticas nos Estados Unidos pode impactar significativamente o ritmo da transição energética na região.
Impacto de Políticas Tarifárias e Comerciais
Mesmo com um governo que promova a produção de combustíveis fósseis, a viabilidade econômica do carvão continua sendo um fator determinante. A desaceleração da demanda e os preços baixos podem levar a uma hesitação por parte dos produtores em expandir a produção, apesar do apoio político. Mudanças nas políticas tarifárias e comerciais podem afetar o mercado de exportação de carvão, influenciando ainda mais as decisões de investimento.
A combinação de fatores políticos e econômicos cria um cenário complexo e incerto para a indústria de carvão nos Estados Unidos. O resultado dessa interação determinará o ritmo da transição energética e o cumprimento das metas climáticas na região.
Futuras Perspectivas
O relatório do Global Coal Mine Tracker oferece um panorama preocupante, mas também destaca a importância de ações coordenadas para limitar a expansão do carvão. A redução de 46% na capacidade adicionada em 2024 em relação a 2023 demonstra que é possível conter o crescimento da mineração de carvão. No entanto, o ritmo dessa desaceleração precisa ser acelerado para alinhar com as metas do Acordo de Paris.
A transição para fontes de energia limpa, o investimento em tecnologias de captura e armazenamento de carbono e o estabelecimento de políticas claras e ambiciosas são cruciais para garantir um futuro climático seguro. A colaboração internacional e o compromisso de todos os países são essenciais para superar o desafio da expansão do carvão e alcançar um futuro sustentável.
Última atualização em 31 de julho de 2025