Em Brasília, na Embaixada da Palestina, o ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, reuniu-se com o Conselho de Embaixadores da Liga dos Estados Árabes em um encontro classificado como de alto nível. A agenda tratou de comércio, protocolos sanitários, certificações e novos nichos para exportadores e importadores. Participaram representantes do governo brasileiro, diplomatas de países árabes, dirigentes da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira (CCAB), empresários do agro e adidos agrícolas. O foco foi ampliar as relações econômicas, com ênfase em proteína com certificação halal, grãos, açúcar e soluções logísticas para fortalecer o fluxo bilateral.
Ministro Fávaro participa de encontro de alto nível com Conselho de Embaixadores da Liga dos Estados Árabes
Ao lado do embaixador da Palestina, Ibrahim Alzeben, Fávaro ressaltou que as relações diplomáticas entre o Brasil e a Liga dos Estados Árabes completam oito décadas. Segundo ele, o país tornou-se um parceiro relevante e hoje lidera a exportação mundial de alimentos com certificação halal. O ministro citou carnes de aves e bovinos, açúcar, milho e mel como destaques do embarque brasileiro para a região, que responde por grande parte do intercâmbio entre as partes. O tom da fala buscou reforçar a imagem do Brasil como fornecedor confiável, com arcabouço sanitário reconhecido e indústria capaz de atender volumes elevados com regularidade.
Fávaro afirmou que 75% do que o Brasil vende para a Liga tem origem no agronegócio, e defendeu uma pauta mais ampla, com compras brasileiras de fertilizantes e de outros itens ofertados pelos países árabes. A proposta é aproximar governos, empresas e entidades para acelerar habilitações, reduzir gargalos e diversificar contratos. Em paralelo, a equipe do ministério destacou oportunidades recém-viabilizadas, como ovos férteis para a Arábia Saudita, açaí para o Egito e a ampliação do consumo de café e de suco de laranja nos Emirados Árabes Unidos.
Contexto do encontro e objetivos imediatos
A reunião ocorreu na sede da Embaixada da Palestina, em Brasília, com a presença de embaixadores e encarregados de negócios de países que integram a Liga dos Estados Árabes. Representantes do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), da CCAB e adidos agrícolas ouviram demandas e apresentaram prioridades. No curto prazo, a meta é consolidar fluxos já existentes de proteínas e açúcar, alinhar cronogramas de auditorias sanitárias e criar rotas para itens com potencial, como lácteos com certificação específica, ingredientes, farinhas e produtos de valor agregado para varejo e food service.
Do lado brasileiro, o recado foi o de previsibilidade. O governo enfatizou que a indústria conta com plantas aptas a cumprir exigências de bem-estar animal, rastreabilidade e segregação necessárias à certificação halal. Também houve sinalização para acelerar canais de comunicação entre autoridades sanitárias, reduzir prazos de análise de dossiês e estimular missões técnicas. Entre os embaixadores, a tônica foi manter o fornecimento estável e reforçar a qualidade de cortes bovinos e de frango, além de negociar preços competitivos com contratos de médio e longo prazos.
O que disseram os participantes e os principais recados
Ibrahim Alzeben elogiou a qualidade dos alimentos brasileiros, com destaque para a proteína halal, reconhecida nos mercados árabes e islâmicos. A fala do embaixador reforçou a importância de manter especificações religiosas e sanitárias com rigor. Ele mencionou o papel de centros de pesquisa brasileiros, citando a Embrapa como referência em soluções para cadeias pecuárias e agrícolas, e apontou que a cooperação técnica é um ativo para os países importadores, que buscam ampliar a produção local de forma alinhada a padrões internacionais de qualidade.
O presidente da CCAB, William Adib Dib, estimou que o comércio bilateral movimenta cerca de US$ 33 bilhões por ano. Segundo ele, existem espaços abertos para ampliar parcerias em fertilizantes e em economia halal, que não se limita a carnes, mas abrange alimentos processados, cosméticos, medicamentos e serviços. O embaixador e secretário de África e Oriente Médio do Itamaraty, Carlos Duarte, disse que o intercâmbio com os países árabes registrou crescimento expressivo em relação a 2023, com alta superior a 130% de acordo com sua avaliação, e defendeu uma agenda contínua de habilitações, missões empresariais e harmonização de procedimentos sanitários.
Peso do agronegócio nas vendas e composição da pauta exportadora
Na avaliação do Mapa, três frentes respondem pela maior parte do embarque do Brasil para os países árabes: proteína animal com certificação halal, grãos e açúcar. As carnes de frango e bovina, com plantas habilitadas por órgãos dos países importadores e auditadas periodicamente, seguem como carro-chefe. O açúcar refinado e bruto atende a refinerias e indústrias de bebidas e alimentos, enquanto milho e outros grãos entram como alternativa em períodos de entressafra regional, além de compor estoques de segurança e rações.
No campo das oportunidades, o governo e o setor privado observam demanda por produtos de maior valor agregado. Itens como cortes porcionados, processados prontos para consumo, cafés especiais em cápsulas ou torrados e moídos com blends exclusivos, sucos concentrados e polpas para indústria alimentícia ganham espaço. As empresas brasileiras também mapeiam nichos premium no varejo e no canal horeca, ajustando rotulagem bilíngue, gramaturas e portfólio para preferências locais, com mix que inclui temperos, massas, biscoitos e laticínios quando habilitados.
Halal em foco: requisitos, certificadoras e rastreabilidade na prática
A certificação halal atende a preceitos religiosos e a protocolos de qualidade exigidos por governos e consumidores nos países árabes. Na cadeia de proteína, envolve manejo, insensibilização quando prevista, abate por profissionais credenciados, supervisão religiosa, higienização e segregação de linhas. Do frigorífico ao transporte e ao porto, lotes precisam manter integridade e documentação comprovando que etapas foram executadas conforme o rito. O selo é emitido por certificadoras reconhecidas, auditadas regularmente e conectadas às autoridades dos países de destino.
No caso de processados, a atenção recai sobre ingredientes, aditivos e coadjuvantes de fabricação. As empresas revisam fichas técnicas, avaliam substitutos quando necessário e mantêm registros detalhados para inspeções. A rastreabilidade integra sistemas de gestão industrial, com amostras, relatórios e, em alguns casos, QR Codes que permitem verificar origens e etapas. Para o exportador, conformidade reduz risco de devoluções, destrava habilitações e favorece contratos de longo prazo em redes de varejo e distribuidores regionais, além de apoiar a imagem do Brasil como fornecedor confiável.
Importações em pauta: fertilizantes e diversificação da cesta de compras
Fávaro defendeu a ampliação de compras brasileiras junto aos países árabes, com ênfase em fertilizantes, insumo crítico para as lavouras nacionais. A proposta inclui diálogo sobre preços, logística e contratos que diminuam a exposição a oscilações de mercado. Também entrou na mesa a compra de outros itens de interesse comum, como produtos químicos de uso industrial, alimentos processados e bens de consumo com certificações demandadas pelo público brasileiro. A diversificação tende a fortalecer o equilíbrio da balança e a aproximar operadores logísticos em ambos os sentidos do tráfego marítimo.
Do ponto de vista operacional, o movimento favorece o aproveitamento de rotas, com navios que trazem insumos e retornam com cargas de maior valor agregado. Para empresas brasileiras, contratos estáveis de fertilizantes ajudam a planejar safras e a estruturar políticas de barter, instrumento usado por cooperativas e tradings na troca de insumos por parte da produção futura. Para fornecedores árabes, o Brasil oferece escala, previsibilidade e uma rede de distribuidores e misturadoras com capilaridade no campo.
Caminho Verde Brasil: recuperação de pastagens e ganhos de produtividade
Ao final da fala, o ministro apresentou o programa Caminho Verde Brasil, que prevê recuperar até 40 milhões de hectares de pastagens de baixa produtividade ao longo de dez anos. A ideia central é converter gradualmente essas áreas em lavouras ou sistemas integrados com maior rendimento, aproveitando terras já abertas. Para o investidor e para o produtor, a proposta significa encurtar o tempo de retorno com base em tecnologia, correção e manejo, sem necessidade de expandir a área ocupada. O plano envolve crédito, assistência técnica, sementes, calagem, gesso, adubação e mecanização ajustada à realidade de cada região.
Na prática, a recuperação de pastagens exige diagnóstico do solo, análise química e física, definição de variedades adaptadas e um calendário de operações que inclui descompactação quando necessária, correção de acidez e adubação de base. Em sistemas integrados, a rotação com forrageiras melhora a cobertura, reduz pragas por quebra de ciclo e prepara o terreno para grãos na safra seguinte. Com assistência, produtores elevam o índice de lotação, reduzem custos por unidade produzida e aumentam a margem agrícola. A Embrapa e parceiros privados oferecem protocolos e cultivares que aceleram a transição com segurança técnica.
Casos práticos citados: novas vendas e abertura de nichos específicos
Entre os exemplos mencionados pelo ministro estão os embarques de ovos férteis para a Arábia Saudita, que exigem controles sanitários rígidos, logística aérea em temperaturas controladas e documentação detalhada junto às autoridades de destino. O açaí para o Egito ilustra a aposta em produtos com apelo sensorial e nutricional, que dependem de padronização, vida de prateleira e embalagens adequadas ao varejo local. Já o café e o suco de laranja nos Emirados Árabes Unidos mostram que há espaço para crescer em linhas premium, hotelaria e serviços, com marcas que comunicam origem, torra e perfil de sabor de forma clara ao consumidor.
Cada uma dessas operações demanda uma trilha regulatória. No caso de proteína animal, a habilitação de plantas é precedida por auditorias e visitas técnicas. Para frutas e processados, ganham relevância a stabilização, o controle microbiológico e a conformidade de aditivos. No café, a consistência do blend e a rastreabilidade do lote contam pontos. O suco concentrado requer padronização de brix e acidez, além de armazenamento em tanques isotérmicos até a industrialização no destino. Ao avançar nessas frentes, o Brasil amplia o portfólio vendido e reduz a dependência de poucos itens.
Papel da Embrapa e de centros de pesquisa nas parcerias
A presidente da Embrapa, Silvia Massruhá, ressaltou a importância da ciência para elevar produtividade e estabilidade de oferta. Pesquisas em genética, sanidade, manejo de pragas, tolerância a estresses abióticos e digitalização do campo encurtam ciclos e reduzem perdas. Em pecuária, trabalhos com índices zootécnicos, melhoramento e nutrição permitem mais arrobas por hectare ao ano e carcaças com padrão desejado pelos importadores. Em grãos, híbridos e cultivares de ciclo adequado ajudam a encaixar segundas e até terceiras safras em estados com janela climática favorável, garantindo volume.
A cooperação técnica com países árabes pode incluir intercâmbio de pesquisadores, projetos de adaptação de cultivares a condições de solo e água, sistemas de irrigação eficiente e manejo de salinidade em áreas específicas. Em logística, a troca de experiências alcança armazenagem, portos e monitoramento em tempo real de cadeias frias. O conjunto cria bases para investimentos cruzados e para a instalação de unidades brasileiras de processamento em zonas francas de países do Golfo, aproximando produção e consumidor final e encurtando prazos de entrega.
Regras sanitárias: passos para empresas que querem exportar aos países árabes
Empresas interessadas em vender para países árabes precisam cumprir etapas formais. O ponto de partida é verificar se o produto está habilitado para o destino desejado. Para proteína, é necessário que a planta figure na lista autorizada pelas autoridades locais. Em seguida, as companhias alinhadas ao rito halal devem contratar certificadora reconhecida e ajustar processos internos de abate, desossa e embalagem, com segregação de fluxos. Documentos como certificados veterinários internacionais, certificados halal e laudos laboratoriais precisam acompanhar cada lote, em conformidade com o que exige o importador.
No caso de processados, cosméticos e fármacos, a etapa regulatória passa pela aprovação de ingredientes e pela apresentação de dossiês técnicos. Rótulos devem atender às regras de idioma e de informação nutricional, além de conter selos de conformidade quando exigidos. A logística deve prever controle de temperatura, integridade de embalagens e prazos compatíveis com a validade do produto. Parcerias com distribuidores locais ajudam a adequar o portfólio às preferências do público e a posicionar as marcas nos canais certos de venda.
Logística e portos: rotas, tempos de trânsito e custos de frete
O escoamento para países árabes utiliza principalmente portos do Sudeste e do Sul, com conexões para o Mediterrâneo e o Golfo. Em proteína, a cadeia fria é determinante: contêineres refrigerados, monitoramento de temperatura e seguros específicos reduzem riscos. A sazonalidade influencia preços de frete, e contratos anuais com armadores podem trazer previsibilidade. No açúcar e nos grãos, terminais com alta taxa de carregamento reduzem a permanência no porto e ajudam a manter a competitividade do produto brasileiro diante de origens alternativas.
Para importações de fertilizantes, a logística reversa otimiza custos, com navios que chegam cheios e retornam carregados. Misturadoras regionais e armazéns próximos às principais fronteiras agrícolas aceleram a distribuição. Sistemas de gestão monitoram tempo de trânsito, disponibilidade de equipamentos e janelas de atracação, permitindo ajustar o embarque conforme a safra. Uma governança logística mais integrada beneficia tanto o exportador quanto o importador e reduz o risco de interrupções.
Negociação comercial: contratos, prazos e garantias usadas no setor
No comércio de alimentos com países árabes, contratos costumam combinar preço, janela de entrega e especificações técnicas. Em proteína, são comuns acertos de fornecimento contínuo, com volumes mínimos mensais e cláusulas de qualidade. Em açúcar e grãos, operações podem ser spot ou de longo prazo, com fixação de preço por fórmulas ligadas a bolsas internacionais e prêmios por qualidade. Cartas de crédito, seguros de crédito à exportação e garantias bancárias dão segurança às partes e viabilizam financiamentos com taxas mais competitivas.
Para quem está começando, a recomendação é contar com assessoria especializada em comércio exterior, certificações e barreiras técnicas. A leitura atenta de contratos, a negociação de Incoterms compatíveis com a capacidade logística e a definição de responsabilidades por documentos reduzem litígios. Em mercados sensíveis a prazos, atrasos logísticos podem gerar multas ou cancelamentos de pedidos, o que reforça a necessidade de planejamento e de comunicação constante entre vendedor, comprador e operadores.
Efeitos esperados para produtores, indústrias e varejo nos países de destino
Para produtores brasileiros, a expansão em mercados árabes tende a sustentar demanda por aves, bovinos, milho e açúcar, com impacto direto sobre preços pagos na origem e utilização da capacidade industrial. Indústrias com plantas habilitadas ao halal podem alcançar melhor aproveitamento de turnos e diluição de custos fixos. A diversificação de itens vendidos, com maior participação de processados, melhora margens e reduz a exposição a oscilações de commodities. Na outra ponta, importadores ganham regularidade de oferta e mix mais amplo para atender redes de supermercados, atacarejos e food service.
Para o consumidor nos países árabes, o efeito prático aparece nas gôndolas e nos cardápios, com cortes padronizados, cafés de diferentes perfis sensoriais e sucos com variedade de concentração. Exigências de rotulagem clara e informações sobre origem apoiam a decisão de compra. Do ponto de vista dos distribuidores, contratos estáveis com o Brasil permitem planejar estoques, negociar prazos com varejistas e reduzir rupturas, algo crucial em datas festivas e em períodos de maior movimento no comércio.
Quem participou: diplomatas e autoridades presentes na embaixada
O encontro reuniu embaixadores do Marrocos, Bahrein, Arábia Saudita, Síria, Catar, Líbia, Kuwait, Argélia, Mauritânia e da própria Liga dos Estados Árabes. Compareceram também os encarregados de Negócios do Iraque e da Tunísia, além de representantes das embaixadas da Jordânia e de Omã. Do lado brasileiro, estiveram o secretário-executivo adjunto do Mapa, Cleber Soares, o secretário-adjunto de Comércio e Relações Internacionais, Marcel Moreira, e a chefe da Assessoria Especial de Comunicação Social, Carla Madeira. Adidos agrícolas em países árabes e dirigentes de entidades do agro completaram a plateia.
A presença de diplomatas e de equipes técnicas permitiu cruzar informações de interesse imediato para o comércio. Em muitos casos, decisões sobre habilitações, modelos de certificados e auditorias são tomadas em instâncias técnicas que se beneficiam da troca direta. Ao aproximar as áreas de governo e o setor privado, a reunião buscou encurtar caminhos e esclarecer dúvidas que, em geral, encarecem e atrasam operações. O formato também abre espaço para encaminhar missões e roadshows empresariais nos dois sentidos.
Procedimentos para ampliar habilitações e evitar gargalos nas auditorias
A expansão de acesso de plantas brasileiras a mercados árabes depende de dossiês consistentes e da rotina de auditorias. Para frigoríficos, a preparação inclui revisão de POPs, treinamentos de equipes e simulações de abate com supervisão de certificadoras. Documentação fotográfica, registros de temperatura, rastreabilidade de lotes e evidências de segregação são fundamentais. Em alimentos processados, é comum a solicitação de especificações de ingredientes, fichas de fornecedores e amostras enviadas a laboratórios reconhecidos pelo país importador.
Outro ponto crucial é a comunicação entre o exportador e o importador sobre a janela de auditoria e as datas-limite de embarque. Ajustes finos em layout de fábrica, sinalizações e procedimentos de limpeza costumam ser resolvidos antes da visita final, evitando pendências que possam atrasar a habilitação. A presença de adidos agrícolas e de diplomatas acelera a troca de documentos e de informações técnicas, proporcionando previsibilidade e reduzindo custos operacionais.
Diversificação da pauta: além da carne e do açúcar, espaço para valor agregado
Embora proteínas e açúcar concentrem a maior parte das vendas, executivos presentes ao encontro citam espaço para cafés especiais, biscoitos, massas, molhos, temperos e polpas de frutas. A chave é adequar o portfólio ao hábito de consumo e à renda média dos mercados-alvo. Embalagens menores e rótulos bilíngues tendem a facilitar a entrada em redes de supermercados, enquanto embalagens institucionais favorecem o canal food service. O Brasil também mapeia demanda por ingredientes funcionais para a indústria alimentícia, com foco em padronização e constância de fornecimento.
Para consolidar essa diversificação, empresas investem em pesquisa de mercado, degustações e acordos com distribuidores locais. Plataformas digitais ampliam a exposição das marcas e encurtam o tempo entre o primeiro contato e o fechamento do pedido. Em segmentos premium, storytelling sobre origem e processo agrega valor. Já em linhas de maior volume, o diferencial costuma estar no preço competitivo aliado a serviço pós-venda confiável e resposta rápida a ajustes de qualidade.
Financiamento e seguros: como mitigar riscos em operações com prazos longos
Em contratos de maior duração, exportadores utilizam instrumentos de mitigação de risco. Seguros de crédito resguardam contra inadimplência, enquanto coberturas para transporte protegem a carga desde a origem até o desembarque no porto de destino. Bancos oferecem linhas de capital de giro atreladas a cartas de crédito, além de desconto de recebíveis. Para operações em moeda forte, é comum o uso de hedge cambial, que reduz a exposição a oscilações de câmbio e dá previsibilidade às margens da indústria e do produtor.
No caso de importações de fertilizantes, cooperativas e tradings combinam financiamento com barter, garantindo o insumo a produtores e recebendo parte da colheita futura como pagamento. Essa engenharia financeira pressupõe contratos claros, gestão de risco de preço e logística de entrega casada com o calendário de plantio. O resultado é uma cadeia mais previsível, capaz de honrar compromissos com menos sobressaltos, mesmo em períodos de maior volatilidade internacional.
Avaliação do governo: previsibilidade regulatória e ampliação de mercados
Ao longo do encontro, o Ministério da Agricultura e Pecuária ressaltou que a previsibilidade regulatória é elemento central para ampliar mercados. A manutenção de cronogramas de auditorias, a atualização de modelos de certificados sanitários e a rápida resposta a consultas técnicas são vistas como medidas de alto impacto. Do lado privado, o alinhamento entre certificadoras, frigoríficos, indústrias de alimentos e operadores logísticos ajuda a sustentar o padrão exigido, reduzindo retrabalho e custos operacionais que acabam embutidos no preço final.
A pasta também apontou que a diversificação de itens exportados abre espaço para pequenas e médias empresas, com linhas de produtos adaptadas a nichos locais. Ao somar grandes embarques de commodities com marcas de consumo, a relação comercial ganha densidade. A expectativa é que visitas técnicas recíprocas e rodadas de negócios programadas a partir do encontro acelerem habilitações e reduzam o intervalo entre a negociação e o primeiro embarque.
Pontos de atenção para empresas que pretendem entrar nesses mercados
Empresas em fase de prospecção para mercados árabes devem mapear requisitos por país e por produto. Mesmo dentro da Liga, normas variam e pedem leitura cuidadosa. O primeiro passo é validar se a certificadora escolhida é aceita pelo país-alvo e alinhar prazos de auditoria ao calendário de vendas. Em seguida, ajustar rotulagem, ingredientes e processos internos. Em bebidas e processados, testes de shelf life em condições de calor são recomendados. Em proteínas, é crucial prever o lead time de análise documental e o agendamento de vistorias.
Outro ponto é a negociação de logística compatível com o perfil do produto. Itens refrigerados exigem booking antecipado de contêineres, enquanto granel sólidos demandam janela de atracação em terminais específicos. Em cosméticos e medicamentos, a cadeia precisa contemplar liberações em autoridade sanitária local e eventuais exigências de registro. Por fim, a construção de relacionamento com distribuidores e importadores é decisiva, com visitas presenciais, participação em feiras regionais e amostragens dirigidas ao público-alvo.
Como ficam os preços e a competição com outros fornecedores globais
No cenário competitivo, o Brasil disputa espaço com outros grandes exportadores de proteína, açúcar e grãos. Preço, prazo e regularidade pesam na decisão de compra. Em carnes, cortes padronizados, rendimento em porção e embalagem contam tanto quanto a cotação. Em açúcar, a proximidade portuária e a capacidade de embarque com janelas curtas favorecem origens com terminais eficientes. Em grãos, a previsibilidade de safra e a oferta de contratos com hedge atraem indústrias de ração e alimentos no destino. A conversão de pastagens de baixa produtividade em áreas de maior rendimento tende a sustentar volume e a dar fôlego ao cumprimento de contratos.
A estratégia citada no encontro aposta na combinação de grandes volumes com nichos de valor agregado. Enquanto commodities asseguram escala, produtos com marca e certificações específicas elevam ticket médio e criam barreiras competitivas. Esse desenho reduz a vulnerabilidade a ciclos de preço e melhora a previsibilidade da receita de exportadores, frigoríficos e indústrias de alimentos, com reflexo para produtores no campo.
Serviço ao leitor: checklist rápido para exportar a mercados árabes
Antes de iniciar vendas, confirme: o produto é elegível no país-alvo; a planta e o CNPJ estão habilitados; a certificadora halal é reconhecida; rótulos atendem ao idioma e às regras locais; contratos definem Incoterms, prazos, especificações e modelo de pagamento; e a logística está compatível com o shelf life. Ajuste o planejamento de produção ao calendário de auditorias e de feriados no destino, que impactam janelas de entrega e picos de consumo. Em caso de dúvida, busque orientação técnica de órgãos competentes e de entidades setoriais.
- Verificar habilitação e exigências sanitárias por produto e por país.
- Selecionar certificadora halal aceita pelo importador e pela autoridade local.
- Adequar rotulagem, idioma e informações obrigatórias.
- Planejar logística com controle de temperatura quando necessário.
- Definir garantias financeiras e seguros de crédito e de transporte.
- Alinhar prazos de auditorias e inspeções com o cronograma de produção.
Perspectivas do relacionamento e próximos passos possíveis
O encontro em Brasília sinaliza continuidade da aproximação entre o Brasil e os países árabes em agendas comerciais e técnicas. Diplomatas e autoridades setoriais indicaram disposição para manter reuniões de trabalho, com ênfase na atualização de listas de plantas habilitadas, na revisão de modelos de certificados e na organização de rodadas de negócios. O setor privado acompanha a abertura de nichos e os calendários de auditorias para acelerar novos embarques. A expectativa é de que acordos iniciados nas conversas renderão visitas técnicas e contratos ao longo dos próximos meses.
Para os dois lados, previsibilidade e constância serão decisivas. O Brasil oferece volume, indústria consolidada e cadeia logística em evolução; os países árabes apresentam demanda crescente por proteína halal, ingredientes e produtos de consumo com padrão internacional. A agenda combinada de comércio, certificações e cooperação técnica tende a guiar os próximos movimentos, com espaço para projetos bilaterais e maior presença de marcas brasileiras nas prateleiras e nas mesas dos mercados da região.
Última atualização em 13 de outubro de 2025