ENTREVISTA: decisão de explorar novas fronteiras de óleo e gás “não é boa notícia para o clima”, diz embaixador da França
O embaixador da França no Brasil, Emmanuel Lenain, expressou preocupação em relação à decisão do governo brasileiro de explorar novas áreas de petróleo e gás, como a Foz do Amazonas, na Margem Equatorial. Em entrevista exclusiva, Lenain afirmou que essa escolha “não é uma boa notícia para o clima”, alinhando-se com o compromisso global de reduzir a dependência de combustíveis fósseis. A declaração ocorre em um momento crucial, onde as discussões sobre transição energética e o combate às mudanças climáticas ganham cada vez mais destaque na agenda internacional.
Apesar da ressalva sobre a exploração de novas fronteiras de petróleo e gás, o embaixador Lenain destacou a cooperação contínua entre França e Brasil em diversas áreas voltadas para a sustentabilidade. Ele mencionou a implementação de um corredor verde marítimo, o mapeamento de minerais críticos no Brasil, parcerias com empresas francesas para o desenvolvimento da energia nuclear e a conclusão de Angra 3, além da produção de biocombustíveis. Essa colaboração bilateral demonstra o compromisso compartilhado em buscar alternativas energéticas mais limpas e sustentáveis, mesmo diante de divergências pontuais em relação à política energética brasileira.
A Posição Francesa e o Compromisso com a Descarbonização
Lenain reforçou a posição da França, destacando que o país tem fortes evidências científicas que comprovam que a indústria fóssil é um dos principais contribuintes para as mudanças climáticas e o aquecimento global. Ele enfatizou a importância de uma ação coletiva para implementar a saída das fontes fósseis, conforme acordado na COP28 em Dubai. O embaixador lembrou que a França tem um compromisso firme com a eliminação total de combustíveis fósseis nas próximas décadas, com metas ambiciosas de abandono do carvão até 2030, do petróleo até 2045 e do gás até 2050.
O embaixador também fez questão de mencionar que a França foi o primeiro país do mundo a proibir a exploração e produção de hidrocarbonetos em seu próprio território, incluindo a Guiana Francesa, que faz fronteira com a Bacia da Foz do Amazonas. No entanto, Lenain reconheceu a soberania de cada país na definição de sua política energética, ressaltando que a decisão de explorar ou não seus recursos naturais é uma prerrogativa nacional. Essa postura equilibra o compromisso da França com a descarbonização e o respeito à autonomia de outras nações.
Cooperação Bilateral: Corredor Verde Marítimo e Hidrogênio Verde
Apesar das discordâncias em relação à exploração de combustíveis fósseis, França e Brasil têm intensificado a cooperação em diversos setores cruciais para a transição energética e a preparação para a COP30, que será realizada em Belém. Um dos destaques dessa parceria é o desenvolvimento de novos energéticos sustentáveis, como hidrogênio e biocombustíveis. Lenain acredita que esses energéticos podem garantir maior resiliência a países dependentes de combustíveis fósseis, especialmente em um cenário global marcado por conflitos e instabilidades geopolíticas que afetam as cadeias de fornecimento de energia.
De acordo com o embaixador, a parceria entre os dois países ganhou um novo impulso com a visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a Paris. Entre os acordos anunciados, destaca-se a declaração para a implementação de um corredor marítimo verde entre os dois países, que visa o uso de combustíveis sustentáveis para a navegação. A ideia é colaborar na adaptação de terminais portuários e investir na construção de navios movidos por combustíveis renováveis, além de avançar na infraestrutura necessária para o abastecimento dessas embarcações. Essa iniciativa demonstra o compromisso de ambos os países em promover uma economia marítima mais verde e sustentável.
Minerais Críticos e a Parceria Tecnológica
Outro ponto importante da cooperação entre França e Brasil é a parceria no campo dos minerais críticos, matérias-primas essenciais para o desenvolvimento de tecnologias como baterias e turbinas eólicas. Os dois países assinaram um acordo entre o Serviço Geológico do Brasil (SGB) e o BRGM (Bureau de Recherches Géologiques et Minières) com o objetivo de mapear reservas brasileiras ainda pouco conhecidas e cooperar no desenvolvimento de cadeias produtivas. Essa colaboração visa fortalecer a segurança do fornecimento de minerais críticos para a transição energética.
Lenain destacou que a França, apesar de possuir menos recursos minerais em seu território, tem uma tecnologia muito avançada no setor. Ele expressou a disposição do país em cooperar com o Brasil, ressaltando que essa parceria pode trazer muitos benefícios para ambos os lados. A colaboração tecnológica e o compartilhamento de conhecimento são fundamentais para impulsionar a exploração sustentável de minerais críticos e o desenvolvimento de tecnologias que contribuam para a transição energética global.
A COP30 em Belém e o Financiamento Climático
A proximidade da COP30, que será realizada em Belém, impulsiona ainda mais a cooperação entre França e Brasil em questões climáticas. O financiamento climático e a proteção de florestas são temas centrais na agenda comum dos dois países. A França tem se mostrado disposta a apoiar o Brasil na implementação de políticas de conservação ambiental e no desenvolvimento de projetos que visem a redução das emissões de gases de efeito estufa. A COP30 representa uma oportunidade crucial para o Brasil demonstrar seu compromisso com a agenda climática global e para fortalecer parcerias com países como a França.
A colaboração entre França e Brasil na preparação para a COP30 inclui o intercâmbio de experiências e o desenvolvimento de projetos conjuntos em áreas como a agricultura de baixo carbono, a restauração de ecossistemas degradados e o combate ao desmatamento. O objetivo é construir uma agenda ambiciosa e pragmática que possa contribuir para o avanço das negociações climáticas e para a implementação do Acordo de Paris. A COP30 em Belém representa uma oportunidade única para o Brasil se posicionar como um líder na agenda climática global e para impulsionar o desenvolvimento sustentável na região amazônica.
Desafios e Oportunidades na Transição Energética
A transição energética apresenta tanto desafios quanto oportunidades para o Brasil e para o mundo. A redução da dependência de combustíveis fósseis requer investimentos significativos em novas tecnologias e infraestruturas, além de mudanças profundas nos modelos de produção e consumo. No entanto, a transição energética também pode gerar novos empregos, impulsionar a inovação e promover um desenvolvimento mais justo e sustentável. O Brasil, com sua vasta riqueza natural e seu potencial para a geração de energias renováveis, tem a oportunidade de se tornar um protagonista nessa transformação global.
A exploração de novas fronteiras de petróleo e gás, como a Foz do Amazonas, representa um desafio para a transição energética, pois pode comprometer os esforços de redução das emissões de gases de efeito estufa. No entanto, o Brasil pode mitigar esse impacto investindo em tecnologias de captura e armazenamento de carbono e em projetos de compensação ambiental. Além disso, o país pode acelerar a implantação de energias renováveis, como a solar, a eólica e a biomassa, e diversificar sua matriz energética. A transição energética requer um planejamento cuidadoso e uma visão de longo prazo, que leve em consideração os aspectos econômicos, sociais e ambientais.
Futuras Perspectivas
A relação entre França e Brasil, apesar de tensões pontuais sobre a exploração de combustíveis fósseis, demonstra uma base sólida de cooperação em áreas cruciais para a sustentabilidade. O desenvolvimento de um corredor verde marítimo, o mapeamento de minerais críticos e a colaboração na produção de hidrogênio verde e biocombustíveis são exemplos concretos de como os dois países podem trabalhar juntos para enfrentar os desafios climáticos e promover um futuro mais sustentável.
O sucesso dessa parceria dependerá da capacidade de ambos os países de superar as divergências e de construir uma agenda comum ambiciosa e pragmática. A COP30 em Belém representa uma oportunidade única para o Brasil e a França demonstrarem seu compromisso com a agenda climática global e para impulsionarem o desenvolvimento sustentável. A colaboração entre os dois países pode servir de modelo para outras nações e contribuir para a construção de um mundo mais justo, próspero e ambientalmente saudável.
Última atualização em 4 de julho de 2025