Crescimento de data centers sobrecarrega rede elétrica e exige novo planejamento

crescimento de data centers sobrecarrega rede eletrica e exige novo planejamento

O crescente interesse em data centers no Brasil se materializa em números impressionantes: 40 pedidos de acesso à rede elétrica, totalizando 16 GW. Esse volume expressivo não apenas demonstra o apetite dos investidores, mas também expõe os desafios consideráveis para integrar essas cargas de alta intensidade ao Sistema Interligado Nacional (SIN). A Empresa de Pesquisa Energética (EPE) reconhece a urgência e já planeja incorporar os data centers ao Plano Decenal de Expansão de Energia, visando um planejamento mais estratégico e eficiente.

O consumo global de eletricidade por data centers deve mais que dobrar até 2030, atingindo 945 TWh, conforme relatório da Agência Internacional de Energia (IEA). No Brasil, o Rio Grande do Sul se destaca como um ponto crítico, concentrando 5 GW em pedidos, o que levou à criação de um grupo de trabalho exclusivo para lidar com essa demanda. Além disso, São Paulo concentra 6 GW e o Nordeste, 2 GW, com outros pedidos em sigilo, evidenciando uma distribuição heterogênea que exige soluções específicas para cada região.

Concorrência com Hidrogênio Verde

A Empresa de Pesquisa Energética (EPE), em colaboração com o Centro de Pesquisas de Energia Elétrica (Cepel), busca antecipar estudos do R1, com previsão de conclusão para dezembro. Esses estudos servirão como base para o Plano de Outorgas de Transmissão de Energia Elétrica (POTEE), com foco nas conexões de plantas de hidrogênio verde. O hidrogênio verde, assim como os data centers, demanda um fortalecimento significativo da rede, especialmente no Nordeste, exigindo uma abordagem integrada e inteligente no planejamento da infraestrutura.

A estratégia visa minimizar o risco de investimentos em infraestruturas de transmissão ociosas. Ao considerar as necessidades tanto dos data centers quanto das plantas de hidrogênio verde, a EPE busca otimizar os investimentos e garantir o desenvolvimento sustentável de ambas as indústrias no Nordeste. Essa sinergia pode impulsionar a economia local, gerar empregos e fortalecer a posição do Brasil como um player importante no cenário global de energia limpa e tecnologia.

A Transmissão Agora Segue a Carga

Tradicionalmente, o planejamento da transmissão no Brasil se concentrava no escoamento da geração de energia, ou seja, em levar a energia das usinas aos centros de consumo. No entanto, a crescente demanda por grandes consumidores como data centers e projetos de hidrogênio verde exige uma mudança radical nesse paradigma. Agora, o sistema precisa ser projetado para atender cargas concentradas, estáticas e de alto consumo, o que impõe desafios inéditos ao planejamento energético nacional.

O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) enfatiza que a margem no sistema de transmissão é finita, o que exige previsibilidade e planejamento estratégico. A EPE precisa expandir e planejar o sistema de forma segura e eficiente para os próximos anos, evitando qualquer tipo de falta de energia. A sociedade, cada vez mais dependente de energia para suas atividades cotidianas, não tolera interrupções no fornecimento, o que reforça a importância de um planejamento robusto e adaptado às novas demandas.

Especulação e Riscos de Ociosidade

A especulação em torno dos pedidos de conexão à rede elétrica é um ponto de atenção constante. O ONS, inclusive, já expulsou um agente por apresentar múltiplos pedidos com viés especulativo, demonstrando a seriedade com que o tema é tratado. A recente exigência de garantias financeiras para acesso à rede, proposta na CP23, visa filtrar investidores genuinamente interessados e evitar a ociosidade da infraestrutura, garantindo que os recursos sejam alocados de forma eficiente.

Outro desafio relevante é o desalinhamento entre o horizonte de contratação (atualmente limitado a 10 anos) e a escala de crescimento dos data centers, que expandem seu consumo gradualmente ao longo do tempo. O ONS defende a necessidade de ampliar a visibilidade para pelo menos 5 anos, permitindo um planejamento mais preciso e adaptado às necessidades específicas desses grandes consumidores. O modelo de autoprodução, comum entre data centers, também levanta preocupações sobre possíveis distorções tarifárias, com a MP 1300 buscando limitar os descontos e evitar que sejam rateados por outros consumidores.

Oportunidade para a Indústria Nacional

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) reconhece o potencial da indústria nacional para se beneficiar do crescimento do ecossistema de data centers. A instituição está mapeando fornecedores nacionais de equipamentos e componentes, buscando atuar com dívida, equity e fundos setoriais, como o FUSTE, para impulsionar o desenvolvimento da cadeia produtiva local. A nacionalização será um critério importante nos financiamentos, desde que haja fornecedores locais competitivos.

A WEG é citada como um exemplo de empresa brasileira com capacidade para competir globalmente nesse setor. O BNDES acredita que existe um “bloco bastante grande de oportunidades” em torno da cadeia produtiva de data centers, desde a fabricação de equipamentos e componentes até a prestação de serviços especializados. O apoio do banco pode ser fundamental para fortalecer a indústria nacional, gerar empregos e reduzir a dependência de importações.

Última atualização em 24 de junho de 2025

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