Cooperativas têm ampliado sua presença na economia catarinense e mostrado que eficiência no uso de recursos pode caminhar junto com resultados consistentes para associados e territórios. Em Santa Catarina, o sistema cooperativista reúne mais de 4,7 milhões de pessoas, o que corresponde a uma parcela expressiva da população estadual, e movimenta cerca de R$ 91,2 bilhões por ano. Os números dão a dimensão de uma estrutura econômica capilarizada, com atuação em agroindústria, crédito, saúde, infraestrutura, produção industrial, transporte e serviços.
Esse alcance favorece a adoção de práticas de circularidade. Em vez de operar no formato linear — produzir, vender e descartar —, cooperativas vêm integrando reuso, reparo, remanufatura e reciclagem ao dia a dia. O resultado é redução de desperdícios, menor dependência de insumos virgens, ganho de produtividade e novas fontes de receita a partir de subprodutos antes pouco explorados. O movimento é pragmático: foca melhoria de processos, controle de custos e geração de valor para o associado.
O cooperativismo catarinense também cresce em participação. Apenas no último ciclo, o quadro social aumentou 9,8%, com a entrada de mais de 419 mil pessoas. A expansão amplia a malha de coleta de materiais, o poder de compra para negociar insumos secundários e a capacidade de financiar projetos de eficiência, especialmente por meio das cooperativas de crédito. Essa combinação cria terreno fértil para a economia circular sair do discurso e entrar no fluxo operacional.
Panorama do cooperativismo catarinense e por que ele favorece a circularidade
A organização em cooperativas permite escala com foco local. Unidades produtivas e de serviço estão distribuídas em diversas regiões, próximas de produtores, indústrias e consumidores. Essa proximidade torna viável a criação de rotas curtas de logística, essenciais para reuso de componentes, recolhimento de embalagens e separação de materiais com qualidade. A operação diária já acontece de modo descentralizado, o que reduz custos de coleta e triagem e melhora a rastreabilidade.
Outro diferencial é a governança. A tomada de decisão é colegiada e os resultados são distribuídos de acordo com a participação. Quando o associado percebe retorno direto de iniciativas que cortam desperdício e geram receitas novas, a adesão cresce. Assembleias e conselhos fiscais reforçam o acompanhamento de metas de produtividade, margem por unidade e aproveitamento de insumos, indicadores que se conectam com a circularidade e sustentam o investimento em novas linhas e tecnologias de reaproveitamento.
O que é economia circular na prática: fluxos, papéis e resultados esperados
Economia circular é um conjunto de estratégias para manter materiais e produtos em uso pelo maior tempo possível, em ciclos sucessivos. Na prática, isso significa desenhar processos para que resíduos se tornem insumos, componentes sejam recuperados e mercadorias sejam oferecidas como serviços quando fizer sentido. O objetivo central é extrair o máximo valor de cada recurso, diminuindo compras de matéria-prima primária e evitando perdas ao longo da produção e do consumo.
Em cooperativas, a circularidade aparece em rotinas como padronização de embalagens retornáveis, venda de sobras de processos para outros ramos, manutenção preventiva para aumentar vida útil de máquinas, redes de conserto de equipamentos e programas de logística reversa. O desenho parte de um mapa de fluxos: entradas, saídas, etapas de transformação, pontos de perda e oportunidades de retorno. A partir desse mapa, definem-se metas por unidade, por filial e por polo regional.
Casos e soluções que já funcionam em Santa Catarina
Na agroindústria, cooperativas têm convertido subprodutos em linhas comerciais específicas. Cascas, sementes, bagaços e lodos orgânicos entram em rotas de secagem, moagem e fermentação para originar ingredientes para ração, aditivos para o campo e insumos para solos. Em paralelo, a água de processo passa por sistemas de reuso interno em etapas não críticas, reduzindo captação e custos. Essa integração exige controle de qualidade, rastreabilidade por lote e monitoramento microbiológico, além de contratos claros para venda do material resultante a parceiros do mesmo sistema cooperativista ou a redes industriais próximas.
No segmento de reciclagem, cooperativas de catadores cumprem papel decisivo na coleta e triagem de papel, papelão, metais e plásticos. A chave está em padronizar etapas: pesagem na origem, classificação por tipo, prensagem correta, armazenamento em ambiente adequado e expedição com nota fiscal e laudo de qualidade. Quando essa rotina se torna previsível, compradores industriais pagam melhor, pois recebem material homogêneo e com baixa contaminação. Cidades com arranjos cooperativos maduros já mostram taxas de recuperação de materiais acima da média nacional, além de renda estável para milhares de famílias envolvidas na cadeia.
Passo a passo para implementar circularidade em cooperativas de diferentes ramos
1) Mapear fluxos de materiais: liste insumos críticos, volumes mensais, pontos de perda e destinos atuais. Use planilhas simples no começo. O objetivo é ter uma fotografia fiel do que entra, do que sai e do que é descartado, por unidade e por produto. 2) Selecionar três oportunidades com retorno rápido: exemplos comuns são embalagens retornáveis, venda de aparas limpas e recondicionamento de peças. 3) Definir metas e indicadores: percentual de reaproveitamento, redução de compra de insumo virgem, receita com subprodutos, custo por tonelada movimentada e tempo de ciclo.
4) Organizar a logística: rotas de coleta com horários fixos, veículos adequados e recipientes padronizados evitam contaminação e retrabalho. 5) Fechar contratos de fornecimento e compra: acordos com indústrias e entre cooperativas reduzem volatilidade de preço e garantem escoamento. 6) Ajustar processos: instale pontos de triagem próximos às linhas, revise procedimentos operacionais padrão e crie checklists de qualidade. 7) Treinar pessoas: explique metas, mostre como o ganho volta em sobras e benefícios e mantenha comunicação simples por quadros de gestão à vista. 8) Medir e divulgar: painéis mensais com indicadores por filial e por equipe sustentam a continuidade. 9) Reinvestir: parte do resultado deve voltar para modernização de equipamentos e expansão de rotas. 10) Escalar: após consolidar as três primeiras frentes, avance para novas categorias de materiais e produtos.
Ferramentas e métodos para tirar o plano do papel
A base é a medição. Balanço de massa, contabilidade de fluxo de materiais (MFCA) e mapeamento de fluxo de valor (VSM) ajudam a enxergar perdas e gargalos. Metodologias Lean e Six Sigma apoiam a redução de defeitos e retrabalhos, com impacto direto na geração de resíduos. Para projetos maiores, a avaliação de ciclo de vida orienta decisões sobre materiais e rotas de uso prolongado, somando dados de energia, água de processo e manutenção ao longo do tempo. ERPs e sistemas de business intelligence integram estoques, produção e vendas, permitindo acompanhar indicadores em tempo real.
Recursos digitais aceleram a rastreabilidade: códigos de barras, RFID e QR codes por lote, etiquetas resistentes e aplicativos de leitura em campo reduzem erros na triagem e na expedição. Em cadeias complexas, plataformas de contrato inteligente podem registrar transferências de materiais e comprovar origem. Já sensores IoT medem umidade, temperatura e peso em silos, baias e câmaras, sinalizando desvios que geram perdas. O segredo é começar simples, com planilhas e checklists, e migrar para soluções mais robustas conforme a operação se consolida e os ganhos se provam.
Modelos de negócio circulares adequados ao contexto cooperativista
A prestação de serviço em vez da venda do produto pode fazer sentido em ramos como máquinas agrícolas, equipamentos de refrigeração e ferramentas industriais. O modelo de locação com manutenção e atualização previstas estende a vida útil, padroniza peças e facilita a remanufatura. Em paralelo, marketplaces internos para sobras e excedentes aproximam cooperativas de diferentes ramos: apara de alumínio de uma linha metalúrgica pode se tornar entrada para outra planta; sobras de plástico limpo e classificado encontram compradores recorrentes com preço mais estável.
Outro caminho são contratos de desempenho. O fornecedor é remunerado por hora de máquina disponível, por tonelada processada com qualidade ou por redução comprovada de perdas. Isso alinha incentivos ao resultado e encoraja o fabricante a projetar produtos de fácil manutenção e desmontagem. Por fim, há as centrais compartilhadas de triagem, prensagem e moagem, que reúnem volume de diversas cooperativas para ganhar poder de barganha, reduzir custo logístico por tonelada e atender exigências técnicas de indústrias transformadoras com consistência.
Financiamento: como tirar projetos do papel com segurança financeira
Cooperativas de crédito têm papel estratégico no financiamento de iniciativas de circularidade. Elas conhecem o ciclo de safra, a sazonalidade da produção e a realidade de fluxo de caixa do associado. Linhas destinadas à modernização de plantas, aquisição de prensas, moinhos, lavadoras, esteiras de triagem e sistemas de rastreabilidade costumam ter prazos compatíveis com o retorno esperado. O primeiro passo é construir um dossiê simples, mas completo: investimento total, economia anual projetada, receitas com subprodutos, custos operacionais, risco de mercado e garantias possíveis.
Uma boa prática é montar cenários. No conservador, use preços mínimos dos recicláveis e ganhos de eficiência menores; no moderado, números médios; no otimista, pico de preços e máxima ocupação da planta. Simulações devem incluir variação cambial e custos de transporte, que pesam na formação do preço final. Com esses cenários, a cooperativa negocia taxas, carência e cronograma de desembolso alinhado ao avanço da obra e à entrada em operação da linha. A governança cooperativa, com conselhos e assembleias, reforça a transparência e a confiança do financiador.
Métricas que importam: como medir, comparar e decidir com dados
Indicadores claros guiam o esforço de circularidade. Alguns exemplos funcionam bem em cooperativas: taxa de reaproveitamento por família de material; intensidade de insumos por unidade produzida; receita por tonelada de subproduto vendida; custo logístico por quilômetro por tonelada; perdas por contaminação; índice de retrabalho; disponibilidade de máquinas (OEE); tempo de ciclo da triagem à expedição. A ideia é conectar o mapa de fluxo a metas de redução de compra de insumo virgem e de aumento de renda com materiais recuperados.
Não basta medir; é essencial comparar. Painéis por unidade, por município e por microrregião criam saudável competição entre equipes. Publicar mensalmente os “top 5” e os “a melhorar” estimula ajustes rápidos. Quando um polo atinge padrões de qualidade que elevam o preço de venda do material, vale registrar o procedimento e replicar. A comparação com referências externas também é útil: verifique especificações técnicas exigidas por grandes compradores e adeque a triagem e a prensagem a esses parâmetros, sempre com verificação por amostragem e laudos periódicos.
Qualidade e rastreabilidade: o que muda na operação diária
Circularidade exige disciplina de qualidade. Na prática, isso significa evitar mistura de materiais, adotar recipientes identificados por cor e tipo, treinar para remover contaminantes e padronizar a prensagem. A rastreabilidade começa no recebimento, com pesagem e emissão de etiqueta por lote, segue para a triagem com registro de data, turno e equipe, e termina na expedição com nota fiscal associada ao lote e, quando aplicável, laudo de conformidade. Esses dados viabilizam contratos melhores, pois reduzem incertezas para quem compra.
Os procedimentos operacionais padrão precisam ser simples e visualmente claros. Quadros brancos nas áreas de triagem com metas do dia, padrões de qualidade por material e responsáveis por turno facilitam o acompanhamento. Pequenos investimentos em balanças, sensores de umidade e leitores de código reduzem perdas. A manutenção preventiva das prensas e dos moinhos evita paradas e degradação do material, preservando peso, cor e limpeza — fatores que elevam o preço por tonelada e abrem portas em mercados mais exigentes.
Logística reversa eficiente: desenho de rotas e contratos que funcionam
Coletar de forma previsível é metade do caminho. Defina calendários por bairro, por comunidade e por empresa parceira. Estabeleça pontos de entrega voluntária em locais de grande circulação, como sedes de cooperativas, escolas, associações e mercados. Use recipientes padronizados e resistentes, com identificação clara. Rotas devem considerar densidade de geração, tipo de material e condições de acesso, buscando lotes mínimos que viabilizem a viagem. Aplicativos simples podem agrupar pedidos e indicar a melhor combinação de coleta para cada dia.
No contrato, detalhe responsabilidades: quem fornece o recipiente, quem faz a separação, qual o padrão de limpeza, qual o prazo de retirada e como será a pesagem. Defina preço por qualidade e crie bonificações para lotes acima do padrão. Para empresas que geram grandes volumes, vale propor auditorias periódicas e treinamentos in loco. A clareza contratual reduz litígios, melhora a previsibilidade de caixa e permite planejar investimentos em frota, prensas e galpões com mais segurança.
Tributação, conformidade e compras públicas: oportunidades e cuidados
Projetos de circularidade devem observar regras tributárias e de conformidade, especialmente quando envolvem materiais classificados, transporte interestadual e venda para órgãos públicos. Em geral, notas fiscais precisam discriminar material, peso e origem. Laudos de qualidade podem ser exigidos por compradores institucionais. É recomendável padronizar códigos e descrições para evitar divergências entre unidades e facilitar o cruzamento de dados em auditorias. Compras públicas podem priorizar materiais com conteúdo reciclado, desde que cumpridas as especificações técnicas dos editais.
Para reduzir custos e riscos, cooperativas podem formar centrais de serviços compartilhados para contabilidade, jurídico e compras. Isso aumenta o poder de negociação com fornecedores e garante uniformidade documental. Um calendário anual de obrigações fiscais, licenças, renovações e inspeções evita surpresas. Em paralelismo, políticas internas de integridade, com canais de denúncia e treinamento de colaboradores, reforçam a confiança de clientes e parceiros e agilizam a aprovação de cadastros em grandes empresas.
Roteiro de 12 meses para cooperativas que querem acelerar a circularidade
Meses 1 a 3: diagnóstico. Faça o mapa de fluxos, defina o baseline de perdas e compras de insumos, selecione três frentes de ganho rápido e crie metas mensais. Formalize a equipe do projeto, com um responsável por produção, outro por qualidade e um por logística. Meses 4 a 6: pilotos. Implante triagem padronizada, padronize prensas, feche contratos com dois compradores para cada material e inicie a medição diária dos indicadores. Revise o procedimento toda semana e ajuste o que for necessário, mantendo simplicidade e registros.
Meses 7 a 9: consolidação. Escale os pilotos para mais unidades, amplie a lista de materiais e crie treinamento recorrente. Negocie preço com base em laudos e previsibilidade de entrega. Meses 10 a 12: expansão. Avalie a abertura de uma central compartilhada, instale sensores, teste um marketplace interno de sobras e planeje os investimentos do próximo ciclo com base nos resultados. Ao final do ano, compare o desempenho com o baseline e defina novas metas. Reinvista parte do ganho em modernização e em capacitação, criando um ciclo de melhoria contínua.
Pessoas no centro: formação, segurança e comunicação que fazem diferença
Circularidade não avança sem gente bem treinada. Programas curtos, repetitivos e práticos funcionam melhor do que cursos longos e esporádicos. Faça demonstrações ao vivo na linha, use cartazes simples com fotos reais do padrão aceito e do que não é aceito e adote checklists de bolso. Reforce temas de ergonomia, uso correto de EPIs, sinalização e rotas seguras de circulação. Esses cuidados reduzem afastamentos, melhoram ritmo e aumentam a qualidade de cada lote preparado para venda ou retorno ao processo.
A comunicação com associados deve ser transparente e frequente. Mostre mensalmente quanto a cooperativa deixou de gastar com insumos e quanto ganhou com materiais aproveitados. Divida metas por equipe e reconheça publicamente os destaques. Resultados visíveis aumentam adesão, diminuem resistência à mudança e criam uma cultura em que evitar desperdício é parte do trabalho, não uma tarefa extra. Comportamentos consistentes ao longo do tempo se traduzem em contratos melhores e em estabilidade de caixa.
Desafios comuns e como superá-los no dia a dia
Padronização é um desafio recorrente. Materiais chegam com níveis diferentes de limpeza e mistura, o que reduz o preço de venda. A solução passa por triagem na origem, recipientes adequados e comunicação clara com quem entrega. Outra barreira é a escala. Certos materiais exigem volumes mínimos para viabilizar a logística e a venda. A resposta está em consórcios entre cooperativas, centralização de etapas e programação de coleta para formar cargas economicamente interessantes. Quanto mais previsível o volume, melhor a negociação.
Também é comum a falta de mercado para certos subprodutos. Nesse caso, vale buscar usos internos, como substituição parcial de insumos, ou firmar parcerias com indústrias de outros ramos. Quando a oscilação de preço desorganiza o caixa, contratos com faixas de qualidade e gatilhos de ajuste ajudam a dar previsibilidade. Por fim, é importante registrar lições aprendidas e consolidar procedimentos em manuais simples. A cada novo ciclo, a cooperativa ganha velocidade para lançar frentes adicionais de circularidade com menor risco.
Papel das cooperativas de crédito na alavanca de projetos circulares
O crédito certo, no tempo certo, acelera ganhos. Cooperativas financeiras entendem a dinâmica local e podem criar produtos sob medida para aquisição de prensas, esteiras, lavadoras, moinhos, sensores e softwares de gestão. Linhas com carência até a estabilização do fluxo de caixa e amortização compatível com a vida útil dos equipamentos evitam estrangulamentos. A análise prioriza a capacidade de geração de valor do projeto, não apenas garantias reais. O histórico do associado e da cooperativa pesa na decisão, assim como a governança e a disciplina de medição de resultados.
Além do financiamento, essas instituições oferecem serviços de cobrança, antecipação de recebíveis e gestão de risco. Isso é útil quando há contratos com pagamento a prazo para venda de materiais recuperados. Ao integrar a operação produtiva com soluções financeiras, a cooperativa reduz custos administrativos, melhora previsibilidade e consegue reinvestir mais rápido no próprio negócio. Esse ciclo virtuoso fortalece o caixa e dá fôlego para expandir as rotas de reaproveitamento.
Tecnologia e dados: como acelerar a tomada de decisão
Sistemas simples de registro já trazem ganho imediato. Planilhas compartilhadas com colunas para material, peso, turno, equipe e destino permitem acompanhar tendências e detectar desvios. Quando a operação cresce, uma camada de business intelligence consolida dados por período, unidade e material, revelando onde estão os maiores ganhos e perdas. Alertas automáticos avisam quando lotes saem do padrão de umidade, quando a prensagem está fora da faixa ideal ou quando o volume de um material justifica renegociação de preço com compradores frequentes.
A automação contribui para produtividade. Sensores em prensas avisam sobre necessidade de manutenção, reduzindo paradas. Esteiras com controle de velocidade adaptam o ritmo ao fluxo real de entrada. Balanças conectadas eliminam erros de digitação e agilizam a emissão de notas. Em paralelo, etiquetas inteligentes facilitam rastreabilidade e evitam trocas de lotes. Em curto prazo, esse conjunto melhora a qualidade do material entregue. Em médio prazo, abre portas para contratos de maior valor agregado e para integração com cadeias industriais mais exigentes.
Compras, design de produto e padronização: onde nasce a circularidade
Muitas perdas começam no desenho do produto e na compra de insumos. Cooperativas podem especificar embalagens retornáveis ou facilmente recicláveis, pedir fichas técnicas com composição detalhada e exigir tolerâncias de processo que reduzam refugo. Em máquinas e equipamentos, a preferência por modelos com peças padronizadas facilita manutenção e remanufatura. Em contratos com fornecedores, cláusulas de desempenho e de retorno de componentes ao final de vida estimulam o reuso organizado e reduzem a necessidade de estoque de segurança.
A área de compras também pode consolidar demanda entre várias unidades para conseguir melhores condições em recipientes, paletes, big bags e etiquetas. Isso eleva a qualidade da triagem e da expedição e reduz danos no transporte. Com um catálogo padronizado, treinamentos ficam mais simples, a operação se torna mais previsível e o controle de qualidade ganha precisão. No fim, o material sai com menos contaminação, melhor densidade e maior valor de mercado.
Como comunicar resultados a associados, parceiros e municípios
Relatórios curtos e visuais funcionam melhor. Mostre o que foi aproveitado, quanto se deixou de comprar em insumos primários, quanto se faturou com subprodutos e em que a cooperativa reinvestiu o ganho. Traga metas do próximo período e a lista de melhorias em andamento. Em reuniões com prefeituras e empresas parceiras, destaque regularidade de coleta, qualidade por material e histórico de cumprimento de prazos. Essa consistência facilita a assinatura de novos contratos e aumenta o tempo de relacionamento com clientes e fornecedores.
Histórias concretas também ajudam. Mostre como a padronização da triagem em uma unidade elevou o preço por tonelada, como a implantação de etiquetas por lote reduziu devoluções e como a central compartilhada permitiu atingir volumes que antes eram inviáveis. Quando pessoas enxergam resultados práticos, a adesão cresce e as iniciativas de circularidade deixam de ser vistas como projetos paralelos para se tornarem parte da estratégia principal da cooperativa.
Perguntas frequentes sobre circularidade em cooperativas
Circularidade é só reciclagem? Não. Reciclagem é uma peça importante, mas há outras frentes com retorno rápido, como reuso interno de componentes, reparo de equipamentos, remanufatura e modelos de serviço. O foco está em manter o valor do produto pelo maior tempo possível. Ao combinar várias estratégias, a cooperativa reduz custos, diversifica receitas e ganha previsibilidade operacional. O caminho começa com um diagnóstico simples e metas factíveis, evoluindo para soluções mais sofisticadas à medida que os resultados aparecem.
Preciso de grandes investimentos para começar? Não. Muitas melhorias exigem mais disciplina do que capital. Padronizar recipientes, ajustar procedimentos, treinar equipes e firmar contratos claros com compradores costumam trazer resultados em poucas semanas. Investimentos maiores, como prensas, moinhos e lavadoras, entram depois, quando o fluxo se mostra consistente e a cooperativa tem dados suficientes para negociar boas condições de financiamento.
Perspectiva regional: por que Santa Catarina tem condições de liderar
A presença de cooperativas em diversos ramos, a tradição de organização comunitária e a diversidade industrial do estado criam um ambiente propício. Há polos metalmecânicos, têxteis, de alimentos, de papel e de móveis em distâncias relativamente curtas, o que facilita sinergias. Subprodutos de um setor podem ser insumos para outro. Essa proximidade reduz custos de transporte e tempo de ciclo para fechar acordos, além de favorecer a padronização de qualidade exigida por compradores mais exigentes.
Com mais de 4,7 milhões de cooperados e um faturamento anual superior a R$ 91 bilhões, o sistema catarinense tem massa crítica para consolidar centrais de triagem, fomentar redes de manutenção e puxar cadeias de remanufatura. O crescimento de 9,8% no quadro social, com a entrada de 419 mil novos participantes no último ciclo, amplia a base de coleta e de consumo, criando o efeito de rede necessário para a circularidade ganhar tração e escalar com consistência.
O que observar nos próximos ciclos de planejamento
Empresas e cooperativas tendem a cobrar mais por previsibilidade do que por promessas de volume. Portanto, vale priorizar estabilidade de qualidade e pontualidade de entrega. A diversificação de compradores por material reduz riscos e melhora o poder de negociação. Em paralelo, a padronização de dados — pesos, umidade, densidade e contaminação — facilita auditorias e contratos de longo prazo. Ferramentas digitais devem ser vistas como apoio, não como fim. O que sustenta resultados é o processo bem desenhado, com pessoas treinadas e metas claras.
A médio prazo, arranjos intercooperativos podem avançar em logística compartilhada, hubs de manutenção, pools de equipamentos e marketplaces de sobras com regras transparentes. Essas estruturas agregam volume e reduzem custos fixos por unidade movimentada. O importante é manter o foco no essencial: reduzir desperdício, ampliar o valor extraído de cada material e garantir que o retorno chegue ao associado. Quando isso acontece, a circularidade deixa de ser iniciativa pontual e se torna parte natural da estratégia de negócios.
Última atualização em 10 de setembro de 2025