O PLP 109 mantém o acesso da ANP às NF-e, NFC-e e CT-e como voluntário, atendendo ao sigilo fiscal defendido por Fazenda e Receita, mas reduzindo a velocidade e a cobertura da fiscalização de combustíveis. Operações Carbono Oculto e Poço de Lobato indicam fraudes como bionotas, triangulação e desvio de metanol. Hoje, a ANP cruza documentos, telemetria e rotas, porém depende de convênios e dados parciais. Na Câmara, CME e CFT ainda podem alterar o texto, enquanto a possível saída de Otto Alencar Filho ao TCE-BA afeta relatoria e calendário. Medidas discutidas incluem acordos setoriais, lotes diários de dados, logs, criptografia e auditoria independente para equilibrar combate a fraudes e proteção de dados.
PLP 109 virou peça-chave no tabuleiro: o relator manteve o acesso da ANP às notas fiscais como opcional — e a fiscalização pode sentir o baque. Quer entender o que mudou, quem pressionou e o que vem agora?
O que mudou no parecer do PLP 109 e por quê
O parecer do PLP 109 trocou o acesso da ANP por um modelo voluntário. As distribuidoras e postos passam a decidir se compartilham suas notas fiscais eletrônicas. Antes, a proposta discutia um fluxo amplo e automático de dados de NF-e, NFC-e e CT-e.
Como ficou o acesso a dados
- Compartilhamento é opcional e formalizado por acordo específico com a ANP.
- Sem obrigação de enviar NF-e, NFC-e e CT-e em tempo real.
- A Receita sustenta o sigilo fiscal, proteção legal dos dados tributários.
- A ANP usa bases públicas e informações enviadas de forma espontânea.
Na prática, a agência perde velocidade para rastrear rotas e cadeias de combustíveis. Fraudes ficam mais difíceis de detectar sem base completa e padronizada.
Por que o relator fez a mudança
- Segurança jurídica e respeito ao sigilo fiscal previsto no CTN (Código Tributário Nacional).
- Risco de judicialização por suposto acesso amplo e contínuo a dados sensíveis.
- Custo tecnológico alto para integrar sistemas estaduais e federais em tempo real.
- Pressão de setores do mercado, receosos de vazamentos e uso indevido de dados.
O Ministério da Fazenda defendia um modelo obrigatório com salvaguardas técnicas e legais. O relator rejeitou o acordo e manteve o compartilhamento como voluntário.
Impactos imediatos para fiscalização
- Operações como Carbono Oculto podem perder alcance e rapidez nas apurações.
- Rastreamento de caminhões-tanque depende mais de denúncias e auditorias locais.
- Empresas que cooperam ganham previsibilidade e melhor relação com o regulador.
- Sem base unificada, cresce o risco de sonegação e de “bionotas” (notas falsas em biocombustíveis).
O setor acompanha os próximos passos na Câmara e possíveis ajustes no texto. A disputa sobre dados de notas fiscais segue no centro do debate regulatório.
Acesso às NF-e: voluntário x obrigatório na prática
Na prática, o acesso às NF-e (nota fiscal eletrônica) pode ser voluntário ou realmente obrigatório. Cada modelo muda custos, prazos e responsabilidades na fiscalização diária de combustíveis.
Diferenças principais
- Voluntário: empresas decidem compartilhar dados e assinam acordo específico com a ANP.
- Obrigatório: envio automático de notas fiscais eletrônicas em tempo real, com padrão técnico definido.
- Voluntário: cobertura parcial, dados chegam atrasados e podem falhar em momentos críticos.
- Obrigatório: base unificada amplia rastreio e cruza rotas, volumes e tributos devidos.
- Voluntário: reduz risco jurídico, por respeitar estritamente o sigilo fiscal previsto em lei.
- Obrigatório: exige salvaguardas técnicas, auditoria e trilhas de acesso para evitar abusos.
Efeitos no dia a dia
Para empresas, o modelo define rotinas, integrações e custos de tecnologia mensais. Para a fiscalização, muda a velocidade das análises e a confiabilidade dos alertas.
- Postos e distribuidoras: com voluntário, enviam lotes periódicos; com obrigatório, fluxos contínuos.
- ANP: com dados completos, identifica rotas suspeitas e “bionotas” com rapidez maior.
- Receita e estados: mantêm o sigilo fiscal, proteção legal sobre dados tributários.
- Empresas pequenas: evitam alto custo de integração, mas perdem previsibilidade regulatória plena.
Riscos e salvaguardas
Sigilo fiscal é a proteção legal dos dados tributários das empresas brasileiras. Compartilhamento amplo sem controles pode gerar vazamentos e litígios, com grande impacto.
- Criptografia, perfis de acesso e logs detalhados reduzem riscos de uso indevido.
- Acordos de cooperação definem finalidades, prazos, e responsabilidades por incidentes de dados.
- Auditorias externas testam controles e validam o cumprimento das regras acordadas periodicamente.
- Anonimização em análises reduz exposição, mantendo indicadores úteis para a fiscalização diária.
Exemplos práticos
Em cenário voluntário, uma distribuidora envia dados semanais de NF-e e CT-e. CT-e é o documento eletrônico do transporte de cargas no Brasil atual.
Auditor cruza volumes com postos e investiga só quando surgem sinais fortes. Em cenário obrigatório, o sistema alerta divergências de volumes quase em tempo real.
A ANP prioriza rotas suspeitas e age antes de grandes perdas fiscais.
A posição da Fazenda e da Receita sobre o sigilo fiscal
A Fazenda e a Receita Federal defendem o sigilo fiscal como regra clara. O acesso a NF-e por outros órgãos precisa de base legal, finalidade definida e controles fortes.
Base legal e limites
- O CTN, Código Tributário Nacional, protege dados tributários e limita o uso.
- Compartilhamento só ocorre quando a lei autoriza e descreve o propósito.
- A LGPD exige minimização, necessidade e segurança em todo o processo.
- Não vale “pesca probatória”, isto é, buscas amplas sem causa específica.
Como o compartilhamento pode ocorrer
- Convênios e acordos definem dados, prazos, e responsabilidades de cada parte.
- Preferência por dados agregados e indicadores; detalhe só quando for essencial.
- Envio pode ser em lotes ou quase em tempo real, conforme risco e custo.
- Pseudonimização remove identificadores diretos, mantendo padrões para análise.
Controles e transparência
- Criptografia em trânsito e em repouso protege as notas fiscais eletrônicas.
- Perfis de acesso, autenticação forte e múltiplos fatores reduzem abusos.
- Trilhas de auditoria registram quem acessou, quando, e com qual motivo.
- Avaliação de impacto mapeia riscos antes de criar novos fluxos de dados.
- Planos de resposta tratam incidentes e notificam autoridades quando preciso.
Posição no PLP 109
- A Fazenda aceitaria um modelo obrigatório com salvaguardas técnicas e legais.
- A Receita alerta para risco jurídico em acesso amplo e contínuo sem base.
- O relator manteve o compartilhamento voluntário no texto do PLP 109.
- O objetivo segue claro: combater fraudes sem violar o sigilo fiscal.
Por que a ANP quer dados de NF-e, NFC-e e CT-e
A ANP quer dados de NF-e, NFC-e e CT-e para mapear combustíveis. Com eles, detecta fraudes cedo e direciona fiscalizações com mais precisão.
Para que servem esses dados
- Rastrear origem, rota e destino dos combustíveis em todo o país.
- Cruzar volumes vendidos, transportados e recebidos, reduzindo brechas de sonegação.
- Sinalizar bionotas e triangulação entre estados com imposto menor.
- Apontar desvio de metanol e possíveis adulterações em misturas.
- Verificar cumprimento de regras de biodiesel e qualidade na bomba.
O que cada documento traz
- NF-e: venda entre empresas. Mostra produto, volume, valores e impostos.
- NFC-e: venda ao consumidor. Indica quanto saiu na bomba do posto.
- CT-e: transporte de carga. Registra rota, placa, remetente e destinatário.
Casos práticos de uso
- Volume na NF-e não bate com a NFC-e do mesmo posto.
- CT-e indica rota incomum por estados com tributação mais leve.
- Série histórica mostra picos atípicos em bases específicas de distribuição.
- Cruzamento com laudos de qualidade revela risco alto de adulteração.
- Operações como Carbono Oculto ganham prioridade com painéis de risco.
Benefícios esperados
- Alertas quase em tempo real reduzem perdas tributárias e ambientais.
- Equipes de campo focam em alvos com maior risco comprovado.
- Concorrência mais justa para empresas que cumprem regras fiscais.
- Indicadores setoriais mais confiáveis para planejar inspeções e rotas.
- No PLP 109, acesso voluntário limita alcance e velocidade das análises.
Cuidados com sigilo e segurança
- Coleta mínima, finalidade clara e registro de todos os acessos.
- Criptografia e autenticação forte protegem notas fiscais eletrônicas.
- Anonimização em relatórios públicos reduz exposição de dados sensíveis.
- Convênios definem prazos, perfis de acesso e responsabilidades legais.
Operações Carbono Oculto e Poço de Lobato: sinais do mercado
As operações Carbono Oculto e Poço de Lobato revelam sinais claros do mercado. A fiscalização encontrou padrões de fraude, sonegação e rotas suspeitas. A ANP cruzou NF-e, NFC-e e CT-e com inspeções em campo.
Principais achados
- Divergências entre NF-e, NFC-e e CT-e em volumes, destinos declarados e reais.
- Triangulação interestadual para aproveitar imposto menor e confundir o rastreamento fiscal de rotas.
- Uso de bionotas para acobertar volumes e criar créditos fiscais indevidos relevantes.
- Desvio de metanol e solventes para mistura fora da especificação legal da ANP.
- Empresas de fachada e redes de postos com administração compartilhada oculta entre grupos.
- Cancelamentos em série de notas fiscais eletrônicas próximos de operações suspeitas logísticas.
Como funcionam as investigações
- Cruzamento massivo de dados financeiros, rotas, placas e horários de entrega registrados.
- Painéis de risco destacam outliers, picos e margens negativas persistentes de preço.
- Coleta de amostras em tanques, com lacres e cadeia de custódia garantida.
- Integração com secretarias fazendárias e forças policiais para ações conjuntas rápidas.
- Auditorias em sistemas de faturamento e estoque, buscando registros inconsistentes, repetidos ou ausentes.
Sinais de alerta para o mercado
- Margens abaixo do mercado por longos períodos sem justificativa plausível comercial.
- Crescimento súbito de volume sem aumento de capacidade logística visível local.
- Oscilações de estoque incompatíveis com entradas e saídas registradas no sistema fiscal.
- CT-e sem lastro físico confirmado ou com rotas desnecessariamente extensas e custosas.
- Cancelamentos frequentes de NF-e perto do fechamento de período fiscal mensal.
- Teor de biodiesel no diesel B fora do padrão esperado local.
- Vendas ao varejo que não batem com compras declaradas na NF-e mensal.
Efeitos regulatórios e econômicos
- Pressão por padronização de dados e acesso claro para a ANP nacional.
- Debate no PLP 109 sobre compartilhamento voluntário versus obrigatório setorial e jurídico.
- Empresas ajustam compliance e controles internos para reduzir risco regulatório e penalidades.
- Custos de integração tecnológica e auditoria crescem em ambientes mais exigentes de dados.
- Concorrência desleal cai quando fraudes ficam caras e arriscadas para operar.
Boas práticas de compliance
- Conciliação diária entre NF-e, NFC-e e CT-e, com alertas automáticos de divergência.
- Monitoramento de rotas e lacres com telemetria e fotos de entrega validadas.
- Segregação de funções em compra, venda e faturamento para evitar fraudes internas.
- Testes de qualidade constantes e guarda de amostras por prazo definido regulatório.
- Política de terceiros com due diligence, cláusulas anticorrupção e rastreabilidade contratual.
- Simulações de fiscalização e resposta a incidentes com planos claros testados.
Como a ANP rastreia rotas e caminhões-tanque hoje
Hoje, a ANP rastreia rotas e caminhões-tanque com dados e campo. O foco é cruzar documentos, telemetria e sinais de rota quase em tempo real.
Fontes de dados atuais
- NF-e e NFC-e: notas fiscais eletrônicas de vendas entre empresas e ao consumidor.
- CT-e: documento do transporte. Mostra rota, placa, remetente e destinatário.
- GPS e telemetria de transportadoras, com localização e velocidade do veículo.
- Praças de pedágio e câmeras OCR que leem placas nas principais vias.
- Registros de terminais e bases, com saídas, chegadas e volumes carregados.
- Convênios estaduais e dados enviados de forma espontânea por empresas.
Ferramentas e métodos
- Geofences, áreas virtuais que disparam alerta ao sair da rota prevista.
- Janela de entrega definida. Atrasos grandes acendem alerta de desvio.
- Conferência de lacres e volumes na origem e no destino do caminhão.
- Cruzamento entre CT-e e NF-e para validar quantidades e destinos.
- Análise de rotas, tempo de viagem e paradas incomuns no percurso.
Indicadores de risco
- Rotas mais longas sem motivo logístico claro ou econômico válido.
- Paradas longas em locais não cadastrados pela cadeia de suprimento.
- Divergência entre NF-e, NFC-e e CT-e em volumes e datas.
- Cancelamentos repetidos de notas fiscais próximos de operações sensíveis.
- Margar negativas persistentes que sugerem mistura ou sonegação de tributos.
Quando um alerta aparece
- A equipe contata a empresa e pede documentos e registros logísticos.
- Auditores analisam rota, lacres, comprovantes e fotos de entrega.
- Fiscais vão a campo, coletam amostras e comparam densidade e teor.
- Órgãos parceiros, como Receita e secretarias fazendárias, são acionados.
- Em caso grave, pode haver interdição preventiva até a checagem final.
Limitações do modelo atual
- Compartilhamento voluntário cria lacunas de cobertura e atrasos de dados.
- Padrões diferentes entre estados dificultam integração rápida de informações.
- Sigilo fiscal limita acesso amplo e exige finalidade bem definida.
- Dependência maior de denúncias e de auditorias locais em áreas críticas.
O impacto da decisão na fiscalização e no combate a fraudes
A decisão de manter o acesso voluntário muda o jogo da fiscalização. No PLP 109, a ANP perde velocidade e cobertura de dados. Sem NF-e em tempo real, alertas chegam tarde e perdem precisão. Operações como Carbono Oculto podem ficar mais curtas e menos profundas.
Como muda a fiscalização
- Menos dados unificados atrasam cruzamentos entre NF-e, NFC-e e CT-e.
- Rastreamento de rotas fica mais dependente de denúncias e auditorias locais.
- Equipes gastam mais tempo pedindo documentos e validando lacres.
- Ações com Receita e estados exigem mais convênios e prazos alinhados.
Efeitos na detecção de fraudes
- Aumenta o risco de falsos negativos, quando a fraude passa despercebida.
- Bionotas e triangulação ficam mais difíceis de flagrar sem base completa.
- Desvios de metanol surgem só após testes e coletas em campo.
- Cancelamentos em série passam sem alerta rápido e geram perdas fiscais.
Custos e compliance para empresas
- Menos integração obrigatória reduz custo imediato de tecnologia e suporte.
- Sem padrão comum, cada acordo cria exigências e prazos diferentes.
- Quem coopera ganha previsibilidade e menor chance de autos de infração.
- Controles internos fortes viram vantagem competitiva em fiscalizações frequentes.
Risco jurídico e segurança de dados
- Sigilo fiscal segue protegido, com acesso ligado a finalidade clara.
- Menos litígios por coleta ampla sem base legal explícita e válida.
- Trilhas de acesso e auditorias continuam obrigatórias em todo convênio.
- Criptografia e perfis de acesso reduzem vazamentos e usos indevidos.
Medidas mitigadoras possíveis
- Acordos setoriais com escopo mínimo e metas de cobertura por segmento.
- Envio em lotes diários de NF-e e CT-e para eventos críticos.
- Dashboards de risco com dados agregados e anonimização consistente.
- Pilotos regionais com envio quase em tempo real em áreas sensíveis.
- KPIs públicos: tempo de resposta e taxa de acerto em operações.
Indicadores e métricas afetados
- Cobertura de dados: percentual de notas recebidas por período definido.
- Lead time de detecção: dias entre a emissão e o primeiro alerta.
- Taxa de achados: auditorias com evidência clara de irregularidade.
- Valor recuperado por ação: tributos e multas pagos após autuação.
- Falsos positivos e negativos: alertas errados e fraudes não detectadas.
Otto Alencar Filho: saída para o TCE-BA e efeitos na Câmara
A possível ida de Otto Alencar Filho ao TCE-BA mexe nas peças. Na Câmara, abre vaga, muda comissões e pode trocar a relatoria do PLP 109. O TCE-BA é o tribunal que fiscaliza gastos do estado da Bahia.
O que muda com a saída
- A relatoria do PLP 109 pode ser redistribuída pela Presidência da comissão.
- Prazos podem reabrir para emendas, ajustes técnicos e pedidos de vista.
- Agenda de leitura e votação tende a atrasar por algumas sessões.
- Negociações com bancadas recomeçam, com foco em pontos sensíveis de dados.
Efeitos nas comissões
- Composição da CME e da CFT pode mudar com o suplente.
- Maiorias apertadas ficam incertas em votações de destaques-chave.
- Calendário de audiências públicas pode ser revisto pela nova relatoria.
- Relatório pode ganhar ajustes sobre ANP e acesso a NF-e.
Votos e alinhamentos
- O suplente do partido pode ter posição diferente sobre o texto.
- Empresas e entidades retomam conversas para apresentar evidências e dados.
- Bancadas regionais buscam garantir equilíbrio entre fiscalização e sigilo.
- Pressões por salvaguardas crescem, como trilhas de acesso e auditoria.
Impacto no cronograma
- Designação de novo relator pode levar dias ou algumas semanas.
- Relatório pode sair em versão enxuta, priorizando consenso mínimo.
- Se houver mudanças, o Plenário pode ficar para outro ciclo.
- O governo revisa as prioridades para garantir quórum e apoio.
Pontos sensíveis no texto
- Modelo de compartilhamento de dados: voluntário ou obrigatório com salvaguardas.
- Definição de finalidade clara para uso de NF-e, NFC-e e CT-e.
- Cláusulas sobre sigilo fiscal e proteção sob a LGPD.
- Mecanismos de auditoria, logs e punição por uso indevido.
Sinais para o mercado
- A incerteza aumenta, e planos de compliance ganham prioridade imediata.
- Empresas mantêm trilhas de evidências e conciliação diária de notas.
- Investidores olham prazos, risco regulatório e previsibilidade de regras.
- Debate segue vivo: eficiência da fiscalização versus proteção de dados.
A tramitação: CME, CFT, mudanças de relatores e próximos capítulos
A tramitação do PLP 109 passa pela CME e pela CFT. O texto pode mudar com novos relatores e negociações em curso entre bancadas.
Fluxo e etapas
- A CME discute o mérito setorial e impacto regulatório sobre a ANP.
- Há leitura do parecer, debate, e votação de emendas e destaques.
- Pedido de vista suspende a análise por duas sessões, atrasando o calendário.
- Aprovado na CME, segue para a CFT avaliar impactos fiscais e orçamentários.
- Na CFT, o relator pode propor substitutivo ou ajustes pontuais ao relatório.
- Depois das comissões, pode ir ao Plenário por urgência ou rito normal.
Mudanças de relatoria
- Podem ocorrer por saída de membro, acordo político ou conflito de agenda.
- Nova relatoria reabre negociações e pode reescrever trechos sensíveis do texto.
- Prazo para emendas pode reiniciar, com novas sugestões de ajustes finos.
- Votos mudam, e a correlação de forças nas comissões fica mais incerta.
Pontos em disputa
- Acesso da ANP a NF-e, NFC-e e CT-e: voluntário ou obrigatório.
- Sigilo fiscal e LGPD: finalidade clara, minimização e segurança dos dados.
- Salvaguardas: logs de acesso, auditoria independente e criptografia ponta a ponta.
- Convênios: escopo mínimo, prazos de retenção e canais para incidentes de dados.
Próximos capítulos possíveis
- Acordo setorial mantendo modelo voluntário com metas de cobertura por segmento.
- Regime de urgência para levar o projeto ao Plenário ainda neste ciclo.
- Substitutivo de consenso com salvaguardas técnicas e legais mais explícitas.
- Novas audiências públicas para ouvir ANP, Receita e representantes do setor.
- Retirada de pauta para ajustes finais e alinhamento entre lideranças.
Calendário e sinais
- Inclusão em pauta da CME é o primeiro termômetro do avanço real.
- Relatório da CFT indica a leitura fiscal e possíveis travas orçamentárias.
- Número de emendas e destaques mostra onde está a resistência maior.
- Orientações de liderança e quórum sinalizam chance de votação imediata.
O que acompanhar
- Versões do parecer, com comparativo entre regimes voluntário e obrigatório.
- Cláusulas de finalidade para uso de notas fiscais eletrônicas.
- Regras de auditoria, trilhas de acesso e punição por uso indevido.
- Calendário de votação e eventuais mudanças de relatoria na última hora.
Biodiesel, bionotas e desvio de metanol: o nó regulatório
O tema junta três dores: biodiesel, bionotas e metanol. Fraudes fiscais afetam preço, qualidade e receita pública. Isso pressiona a ANP, o fisco e toda a cadeia de combustíveis.
Como as bionotas operam
- Notas fiscais frias simulam compras de biocombustível para gerar créditos.
- Rotas passam por estados com imposto menor para mascarar tributos devidos.
- Divergências entre NF-e, NFC-e e CT-e revelam volumes incompatíveis.
- Cancelamentos em série ocorrem perto de datas sensíveis de apuração.
Desvio de metanol
- Compra como solvente e uso irregular em mistura de combustíveis.
- Preço muito baixo pode indicar diluição fora da especificação da ANP.
- Rotas longas e paradas estranhas sugerem transbordo não autorizado.
- Laudos de qualidade mostram teor anormal e densidade fora do padrão.
Impacto no biodiesel
- O percentual obrigatório perde efetividade quando há diluição irregular.
- Veículos sofrem com desgaste e falhas de desempenho na frota.
- Empresas corretas enfrentam concorrência desleal e margem comprimida.
- Arrecadação cai e reduz recursos para políticas públicas essenciais.
O que a ANP precisa
- Acesso a NF-e, NFC-e e CT-e com finalidade definida.
- Painéis de risco que cruzem rotas, volumes e preços de mercado.
- Amostras em campo com cadeia de custódia e testes repetidos.
- Convênios com Receita e estados para respostas rápidas e coordenadas.
Salvaguardas de sigilo fiscal
- Coleta mínima e uso restrito ao combate a fraudes comprovadas.
- Criptografia, perfis de acesso e logs auditáveis por órgão independente.
- Anonimização em relatórios públicos para evitar exposição desnecessária.
- Prazos de retenção claros e descarte seguro ao final.
Medidas práticas nas empresas
- Conciliação diária entre notas e estoque com alertas automáticos.
- Due diligence de fornecedores e rastreio de origem do biocombustível.
- Balanço de massa por base e por rota, com tolerâncias transparentes.
- Telemetria, lacres numerados e fotos de entrega com geolocalização.
- Treinamento constante de times e procedimentos de resposta a incidentes.
Métricas de risco a monitorar
- Margens negativas persistentes sem causa de mercado plausível.
- Oscilações de estoque que não batem com entradas e saídas.
- Cancelamentos de NF-e concentrados em janelas recorrentes.
- Teor de biodiesel no diesel B abaixo do esperado em laudos.
- CT-e com rotas longas e sem justificativa logística documentada.
Conclusão
O debate do PLP 109 expõe um dilema conhecido e sensível. O acesso voluntário a NF-e, NFC-e e CT-e dá segurança jurídica. Mas reduz alcance e velocidade da fiscalização em combustíveis pela ANP. Sem base unificada, cruzamentos atrasam e alertas chegam tarde nas operações.
Existe um caminho do meio que já mostra resultados plausíveis. Convênios claros definem finalidade, escopo mínimo e responsabilidades de cada parte. Logs, criptografia e auditorias independentes mantêm o sigilo fiscal protegido. Envio em lotes diários reduz atrasos; pilotos quase em tempo real validam riscos. Assim, a ANP enfrenta bionotas e desvio de metanol com mais foco.
No Congresso, CME e CFT ainda podem ajustar trechos sensíveis do texto. A possível saída de Otto Alencar Filho mexe na relatoria e no calendário. Empresas não devem esperar; reforcem compliance, conciliação de notas e controle de rotas. Monitorem margens, estoques e cancelamentos, e guardem evidências para auditorias. Quem coopera tende a ganhar previsibilidade, menos risco e melhor relação regulatória.
Última atualização em 13 de dezembro de 2025