O mercado que ainda aposta em geração eólica no mar no Brasil perdeu fôlego nesta primeira quinzena de outubro. A decisão do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), no início do mês, de abrir um grupo de trabalho com prazo de 270 dias para tratar da regulamentação afasta a hipótese de um leilão de áreas ocorrer até o fim do atual mandato. O Ministério de Minas e Energia (MME) confirmou que os ritos do certame só avançam depois do decreto, estimado para o primeiro semestre de 2026, o que empurra o cronograma para uma fase sensível do calendário político.
Empresas que permaneciam no país relatam frustração e reavaliam prioridades. Grupos estrangeiros que já haviam interrompido atividades por falta de previsibilidade, como Copenhagen Infrastructure Partners (CIP) e Corio Generation, reforçam a leitura de que a janela brasileira ficou menos competitiva. O movimento redireciona capital e times técnicos para vizinhos latino-americanos e para mercados asiáticos, onde há datas, regras e metas mais definidas.
O que foi decidido e por que isso muda o roteiro
O CNPE abriu um grupo de trabalho com duração de 270 dias no início de outubro de 2025. A tarefa é consolidar regras de cessão de áreas, balizas para o pré-ofertar blocos no mar e diretrizes para o relacionamento com demais órgãos federais. O MME informou que a sequência de atos preparatórios para o leilão dependerá da publicação do decreto. A estimativa oficial é que esse decreto saia no primeiro semestre de 2026, com impacto direto no planejamento das empresas, que precisam reservar equipamentos, negociar financiamento e travar contratos logísticos com muita antecedência.
Na prática, a criação do grupo de trabalho adia decisões-chave: definição de polígonos ofertáveis, critérios objetivos de habilitação, desenho de pagamentos (bônus de assinatura e taxas periódicas) e regras de convivência com usos já existentes, como navegação e exploração de óleo e gás. Sem esses elementos, investidores não conseguem quantificar risco, organizar consórcios nem batalhar espaço nas filas globais de fornecedores de turbinas, cabos submarinos e embarcações especializadas.
Linha do tempo: sete anos de debates até a sanção de janeiro
As discussões sobre eólicas no mar ganharam corpo por volta de 2018, com propostas de disciplinar o uso de áreas marítimas e integrá-las ao planejamento do setor elétrico. Desde então, diferentes versões de projetos e textos infralegais circularam. Grupos técnicos foram formados em mais de uma ocasião para atacar o tema, mas o cronograma de um leilão inaugural seguiu indefinido. O período acumulou estudos sobre ventos, impactos na rede e viabilidade de portos para montagem de aerogeradores de grande porte.
Um marco político-regulatório foi sancionado em janeiro de 2025, estabelecendo a base jurídica para a cessão de áreas e organizando papéis institucionais. Depois disso, o governo abriu consulta pública para a metodologia de cessão, indicando como pretende precificar blocos marítimos e como será a competição. Em paralelo, o Ibama concedeu Licença Prévia para um projeto piloto de 24,5 MW do Senai no Rio Grande do Norte, um passo que mostra capacidade de análise do órgão e cria referência técnica sobre avaliações e condicionantes em projetos no mar.
Eleições de 2026: o que a lei permite durante a campanha
O intervalo estimado para publicação do decreto coincide com o período de campanha das eleições de 2026. A legislação impõe restrições a atos de comunicação institucional e a medidas que possam ser interpretadas como promoção de gestão, além de estabelecer cautelas para decisões que tenham impacto financeiro relevante. Em tese, é possível realizar um leilão nesse período se os procedimentos já estiverem desenhados e se a publicidade for estritamente técnica e compulsória, mas o risco jurídico e operacional aumenta.
Para investidores, o calendário eleitoral não é, por si só, um impeditivo. O problema central é a imprevisibilidade. Leilões com regras maduras podem acontecer em ano de eleição sem sobressaltos; o complicador aparece quando etapas críticas, como a escolha de áreas e a modelagem de pagamentos, ainda estão em revisão. Nesses casos, a chance de contestação cresce, e as empresas tendem a alocar recursos onde a probabilidade de atraso é menor.
Quem saiu, quem ficou e como o capital está se movendo
CIP e Corio suspenderam atividades no Brasil ao longo dos últimos meses. As duas casas vinham avaliando projetos de grande porte e explorando acordos locais de cadeia de suprimentos. A decisão de interromper operação decorre da leitura de que o país ainda não oferece previsibilidade suficiente para compromissos de múltiplos bilhões de reais e de que a disputa global por equipamentos se intensificou. Em termos práticos, significou realocar equipes e recursos para países onde há datas definidas de oferta de áreas e onde os arranjos portuários e logísticos já contam com investimentos públicos e privados em execução.
Apesar da saída desses grupos, há empresas que permanecem de olho, incluindo companhias com experiência no mar, desenvolvedoras com histórico em geração no Nordeste e players de óleo e gás com operações offshore. Esses agentes acompanham o andamento do decreto, os estudos de conexão com a rede e os projetos de ampliação de infraestrutura portuária. O apetite, porém, é condicionado a uma equação clara de risco, receita e cronograma. Sem isso, a tendência é manter equipes enxutas, priorizando mercados que estejam com certames marcados para 2025 e 2026.
Curtailment no onshore e o papel possível do offshore na matriz
O momento de cortes de geração em parques eólicos e solares em terra pressiona o planejamento. O Operador Nacional do Sistema tem sinalizado limites de escoamento em alguns corredores de transmissão. Esse contexto reforça a necessidade de coordenar novas fontes com reforços na malha elétrica. A geração no mar pode funcionar como um novo eixo para o suprimento, com perfil de vento diferente do onshore em certas faixas do litoral e potência instalada elevada por unidade de projeto. Mas sem novos leilões de transmissão e sem investimentos em conexões, o benefício fica travado.
Há uma vantagem comparativa a explorar: o Brasil tem indústria e serviços offshore maduros por causa do óleo e gás. Isso inclui estaleiros, embarcações, portos com pátios amplos e mão de obra treinada para operações no mar. A sinergia pode reduzir custos de instalação e operação dos aerogeradores marítimos. Para virar realidade, porém, é preciso previsibilidade para contratos de longo prazo, algo que depende da definição do modelo de leilão e dos incentivos corretos para destravar investimentos privados e financiamentos de bancos de fomento.
Como deve ser o primeiro leilão de áreas: passos prováveis
Embora o texto final ainda precise do decreto, há um roteiro esperado pelos agentes. Primeiro, o governo delimita polígonos marítimos aptos à oferta, com base em estudos de vento, rotas de navegação, zonas de exploração de óleo e gás e proximidade de pontos de conexão à rede elétrica. Em seguida, publica as diretrizes do certame com a lista de áreas, os critérios de seleção e a estrutura de pagamentos. O desenho precisa esclarecer a forma de competição (por maior oferta financeira, pelo menor preço de energia em eventual contrato associado ou por combinação de fatores) e as garantias exigidas em cada etapa.
Depois, ocorre a fase de cadastramento e habilitação técnica e econômico-financeira. Nela, empresas apresentam comprovação de experiência, capital e compromissos com prazos de execução. A etapa seguinte é a sessão pública de oferta. Concluída a disputa, os vencedores assinam os contratos de cessão de área, pagam os valores devidos e avançam para estudos detalhados. Aí entram medições em campo, campanhas geofísicas e geotécnicas, engenharia conceitual, pedidos de conexão à rede e a sequência de licenças junto aos órgãos competentes. Em paralelo, os projetos negociam acordos de fornecimento com fabricantes, o que requer data de início das obras relativamente firme para reservar a fila de equipamentos.
O que investidores vão querer ver no decreto
Quatro pontos tendem a ser decisivos. O primeiro é a lógica de precificação da área: valores de entrada e taxa de ocupação precisam ser proporcionais ao estágio do mercado e à competição global pelos mesmos recursos. O segundo é a clareza de prazos para cada fase, com gatilhos que evitem retenção especulativa de blocos. O terceiro são regras de transição para projetos que já vinham sendo estudados e que realizaram campanhas de vento. O quarto é a coordenação com a expansão da transmissão, garantindo pontos de conexão com cronograma compatível ao de implantação dos parques no mar.
Outro elemento é a definição de responsabilidades entre órgãos federais. Em mercados consolidados, há uma instância única que conduz o processo e faz a interface com demais entidades. Quando essa coordenação não existe, desencontros de cronograma acontecem. O decreto pode sinalizar como será a relação com autorizações em mar, a interação com a Marinha e com a autoridade portuária e como se dará o acesso às informações públicas essenciais para os estudos de viabilidade.
Comparações com Colômbia, Chile e Taiwan: o que atraiu capital
A Colômbia avançou com cronogramas e janelas de seleção de áreas que dão previsibilidade de médio prazo, mesmo ainda em fase inicial de projetos. O Chile organizou passos para colocar ativos marítimos em disputa ao mesmo tempo em que discute reforços de transmissão. Taiwan criou um pipeline escalonado, permitindo construção de cadeia local e sinalização de volumes para fabricantes, o que reduz custo unitário ao longo das rodadas. Em comum, esses mercados trataram a competição por fornecedores como eixo central do desenho dos leilões.
Nenhuma dessas experiências é copiável sem ajustes. As condições de vento, a profundidade da costa, a distância a portos e a topologia da rede elétrica variam bastante. Ainda assim, há lições úteis: comunicar datas com antecedência, publicar guias detalhados de requisitos, fixar critérios simples de habilitação e prever mecanismos de resolução de conflitos. Com isso, investidores conseguem precificar risco e travar contratos com mais segurança.
No radar: decisões e números que mexem com o setor nesta semana
A quarta-feira, 8 de outubro de 2025, foi marcada por reveses e anúncios. A Câmara dos Deputados retirou de pauta a Medida Provisória do IOF (MP 1303/2025). A não votação até o fim do dia fez a MP perder a validade, o que, segundo estimativas do governo, abre um buraco de R$ 35 bilhões na arrecadação de 2026. O resultado reforçou o ambiente de disputa entre o Palácio do Planalto e o governo paulista, com repercussões políticas que tendem a se estender para a largada oficial da campanha do ano que vem.
No mesmo dia, o MME informou que enviará novas projeções de receitas para o leilão das participações da União em áreas não contratadas do pré-sal em Atapu, Mero e Tupi. A meta aventada de R$ 14,78 bilhões pressupõe ágio de 45% sobre o lance mínimo de R$ 10,2 bilhões. A calibragem final vai depender de apetite das empresas e dos preços do petróleo, que oscilaram ao longo da semana. O Brent de dezembro fechou a US$ 66,25 por barril na quarta-feira (8/10), alta de 1,22% no dia, em meio a preocupações sobre oferta e estoques nos Estados Unidos.
Repetro em debate na Alerj e efeito sobre o gás natural
No Rio de Janeiro, um projeto de lei em discussão na Assembleia Legislativa (PL 6034/2025) propõe aumentar a alíquota do Fundo Orçamentário Temporário (FOT), instrumento que condiciona benefícios de ICMS a depósitos feitos por empresas. Entidades do setor afirmam que, se aprovado, o texto reduz a atratividade do regime especial conhecido como Repetro e encarece a venda de gás natural, com impacto em contratos e planejamento tributário de fornecedores e consumidores industriais.
A discussão no Legislativo fluminense se soma a outras pressões sobre o custo do gás. Transportadoras aguardam a revisão tarifária conduzida pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). A diretora Symone Araújo indicou que a autarquia pretende tocar a revisão de tarifas em paralelo à atualização da norma que define critérios de cálculo. Para o mercado, a previsibilidade dessa revisão é chave para grandes consumidores e distribuidoras estaduais.
Luz do Povo, mercado livre e efeitos para a classe média
O governo sancionou a lei que cria o programa Luz do Povo, voltado a dar gratuidade no consumo para famílias de baixa renda. Durante o evento de sanção, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, voltou a defender a abertura do mercado livre de energia para mais consumidores. Na visão do ministro, a medida reduziria concentração na venda ao cliente final e poderia beneficiar a classe média com mais opções de contratação.
Especialistas lembram que a expansão do mercado livre exige aprimoramentos de medição, aperfeiçoamento de garantias de pagamento e mecanismos de proteção aos consumidores que optarem por migrar. Em paralelo, pedem que os sinais de preço no curto prazo se tornem mais transparentes para orientar decisões de contratação. O debate vai avançar com regulações infralegais e com as respostas das distribuidoras à nova realidade concorrencial.
Bahia no foco: estaleiro, embarcações e fábrica de fertilizantes
Na quinta-feira, 9 de outubro de 2025, a Petrobras detalhou investimentos de R$ 2,6 bilhões na Bahia. O anúncio ocorreu durante visita presidencial ao estaleiro Enseada. O pacote inclui a contratação de seis barcos de apoio e a reabertura da fábrica de fertilizantes no estado. A decisão reforça o papel do polo baiano em logística offshore e na cadeia de insumos para a indústria química, com potencial de gerar encomendas e empregos ao longo de 2026 e 2027.
Com mais embarcações, o parque de serviços offshore tende a ganhar densidade. Para a agenda de eólicas no mar, isso importa porque parte da infraestrutura — pátios, guindastes, cais e pessoal — é a mesma usada para montagem e transporte de componentes de aerogeradores e subestações marítimas. Ganhos de escala nessa base podem reduzir custos de mobilização e ampliar a competitividade de eventuais projetos brasileiros quando o leilão de áreas acontecer.
No exterior: discussões técnicas em Lisboa e metas de certificação de energia
Em Lisboa, o encontro ibero-americano EVEX reuniu players para discutir segurança das redes com maior participação de renováveis e como preparar o mercado para biometano e hidrogênio de baixa emissão. O Operador do Mercado Ibérico (OMI) destacou que armazenamento e interconexões com países vizinhos ajudam a suavizar variações de preço e picos de geração. A experiência europeia reforça a importância de flexibilidade e de mecanismos de resposta da demanda para manter o sistema estável em momentos de grande produção eólica e solar.
A Cemig, representada por seu CEO, Reynaldo Passanezi, vê com bons olhos discussões da MP 1304/2025 sobre subsídios do setor elétrico. Já a Itaipu Binacional se prepara para lançar, na conferência de novembro em Belém, certificados internacionais de energia renovável (I-RECs), com início de comercialização previsto para o primeiro trimestre de 2026. Distribuidoras como a Potigás mapeiam projetos de biometano e avaliam adaptações de dutos para misturas com hidrogênio, de olho em novos mercados industriais e metas de descarbonização corporativa.
Fiscalização em mineração e riscos de governança
No Congresso, a “Operação Rejeito” trouxe à tona preocupações sobre a estrutura da Agência Nacional de Mineração (ANM). Em audiência em 8 de outubro de 2025, o secretário de Controle Externo de Energia e Comunicações do TCU, Alexandre Carlos Figueiredo, afirmou que fragilidades institucionais elevam a suscetibilidade a fraudes. O alerta tem efeito transversal sobre setores intensivos em recursos naturais, que dependem de decisões técnicas estáveis e de transparência nos processos.
O tema força uma reflexão sobre capacidade do Estado em conduzir agendas complexas como a da energia no mar. Sem quadros, sistemas e orçamento adequados, mesmo marcos legais modernos demoram a virar projetos de engenharia. Por isso, o desenho do decreto para eólicas offshore também será analisado sob a ótica de governança, fluxos de análise e prazos máximos para deliberações administrativas.
Dólar, petróleo e o apetite em leilões: o caixa manda
Projetos no mar são intensivos em capital e dolarizados. A conta inclui turbinas de grande porte, cabos de exportação, subestações marítimas, fundações e embarcações de instalação. Preços do petróleo, taxa de juros e câmbio afetam o custo de capital de grandes grupos. Em 8 de outubro de 2025, o Brent para dezembro fechou a US$ 66,25, com alta no dia. A leitura de mercado é de estoques americanos em alta e discussões dentro da aliança de produtores sobre oferta. Esse pano de fundo influencia a prioridade de investimentos de empresas que também atuam no upstream de óleo e gás.
Quando as grandes casas ajustam portfólios globais, projetos sem data e sem régua clara de retorno tendem a perder espaço. Por isso, a combinação de decreto com prazos definidos, regras simples e pipeline de transmissão em execução é o que destrava o ciclo. Sem esses pré-requisitos, fornecedoras mantêm a fila focada em mercados com leilões já marcados, e os times técnicos migram para onde a probabilidade de obra é maior.
Checklist prático para quem ainda estuda o Brasil
Enquanto o decreto não sai, desenvolvedores podem avançar em frentes de baixo risco: consolidar bancos de vento de fontes públicas e privadas, revisar rotas de cabos até pontos de conexão existentes ou planejados, mapear portos com calado e pátios adequados e organizar memorandos com fornecedores locais de serviços marítimos. É útil também atualizar matrizes de risco regulatório, com cenários de taxas de ocupação, garantias e prazos de execução, além de simulações de CAPEX e OPEX com diferentes tecnologias de fundação (monopiles, jackets ou plataformas flutuantes em águas profundas).
Do lado societário, vale organizar estruturas de consórcio e governança, com cláusulas de saída e ingresso de parceiros, definindo quem lidera frente a autoridades e quem fica responsável por engenharia, licenças, financiamento e construção. A experiência internacional mostra que arranjos equilibrados reduzem conflitos e aceleram decisões. Também é recomendável manter diálogo com instituições financeiras para testar apetite por prazos, seguros e garantias exigidas em contratos marítimos.
Perguntas que o decreto precisa responder sem ambiguidades
Como será a forma de disputa? Só lance financeiro pela área ou haverá algum mecanismo acoplado de contratação de energia? Quais são os critérios objetivos de desempate? Qual o valor mínimo aceitável de bônus e como se calcula a taxa de ocupação? O decreto deve trazer respostas ou, ao menos, a diretriz que será detalhada em portarias subsequentes. Sem isso, o preço de risco sobe e parte dos interessados prefere esperar outras rodadas.
Outra questão é a convivência com outros usos do mar. O texto precisa deixar claro como funcionará a interface com navegação, pesca, cabos de telecomunicação e ativos de óleo e gás, bem como os processos para liberar campanhas geofísicas antes mesmo da cessão definitiva. Por fim, o governo precisará indicar como evitar retenção especulativa de áreas: metas de progresso, prazos intermediários e penalidades proporcionais compõem o conjunto de incentivos para que projetos avancem do papel ao canteiro.
Imagens do dia e marcas em destaque
Os movimentos do setor e dos investidores se refletem também na presença de entidades e empresas em eventos e comunicados. Logotipos de associações e peças visuais circulam em coletivas, reforçando posicionamentos sobre gás, óleo e geração elétrica. A seguir, os registros gráficos ligados às agendas corporativas e institucionais citadas ao longo da semana, que ajudam a contextualizar quem está influente no debate e quais polos industriais estão em evidência neste momento.
Os materiais abaixo foram publicados em canais oficiais e trazem elementos da comunicação recente do segmento. Em destaque, associações de gás e imagens de campanhas informativas. As ilustrações evidenciam a disputa por atenção em meio ao calendário legislativo e às discussões sobre tarifas, investimentos e novos mercados de energia.
Pontos de atenção para 2025 e 2026 no planejamento elétrico
Há temas que, se bem endereçados nos próximos meses, podem recolocar o Brasil na trilha de um mercado de eólicas no mar. A primeira frente é a coordenação entre a publicação do decreto e a definição dos polígonos ofertáveis, com prazos firmes. A segunda é alinhar o cronograma de reforços de transmissão a potenciais datas de entrada em operação dos primeiros parques. A terceira é a integração com a política industrial, mirando componentes de maior conteúdo tecnológico que o país possa produzir competitivamente em parceria com fabricantes globais.
Outro ponto é a janela internacional. Em 2026 haverá leilões e decisões de investimento em diferentes mercados. Se o Brasil publicar regras claras, pode disputar parte dessa capacidade de fabricantes e instaladores. Se atrasar, a fila global tende a se alongar, o que encarece projetos e empurra cronogramas. O tempo, aqui, tem peso real de dinheiro: cada semestre conta para travar contratos e garantir navios de instalação e equipes especializadas.
Para o leitor: perguntas e respostas rápidas
Quando pode sair o leilão? A confirmação de datas depende do decreto, previsto para o primeiro semestre de 2026. Sem o decreto, o governo não inicia a etapa de seleção de áreas. É tecnicamente viável realizar o certame durante a campanha? Em tese, sim, se os atos forem estritamente técnicos e se as regras já estiverem consolidadas. Na prática, o risco de judicialização aumenta em períodos eleitorais, o que costuma levar investidores a exigir prêmios maiores ou a migrar recursos para certames sem esse componente de risco.
Quem saiu do Brasil? CIP e Corio suspenderam atividades. O que isso significa? Que equipes e capital foram redirecionados e que o apetite para voltar depende da previsibilidade do processo regulatório. Quais são os passos de um projeto no mar? Vencer a disputa pela área, realizar campanhas geofísicas e de vento, fechar contratos de fornecimento, obter autorizações, negociar conexão à rede e financiar a obra. O que pode reduzir custo? Pipeline de leilões, escala em portos e pátios, coordenação com transmissão e adoção de padrões técnicos já consolidados no mundo.
Análise: por que investidores falam em “postergação” e não em “derrota”
A leitura predominante no setor não é de abandono do tema, e sim de alongamento de prazo. Há avanços: marco jurídico aprovado em janeiro, consulta sobre metodologia de cessão e uma Licença Prévia pioneira. O gargalo é a transição desses atos para um programa efetivo de oferta de áreas com data, regras e garantias. Enquanto isso, outros países correm. Em mercados de capital intensivo, cada semestre sem clareza custa atenção dos conselhos de administração e desloca o foco das diretorias de projetos.
O Brasil tem atributos sólidos: ventos competitivos, indústria offshore instalada e demanda crescente por energia elétrica. O que falta é previsibilidade. Investidores não pedem incentivos indefinidos, mas regras estáveis e processos lineares, com uma “régua” que premie execução e puna retenção de área. Se isso vier com um pipeline crível de transmissão, a equação muda rapidamente: o país volta ao mapa de decisões globais e retoma conversas com fabricantes para reservar capacidade entre 2026 e 2028.
Opiniões e tributos: debates que atravessam o setor elétrico
Especialistas tributários analisam como o tratamento de PIS e Cofins nas tarifas de uso de sistemas de distribuição (TUSD) e transmissão (TUST) pode afetar a carga tributária das empresas. Dependendo da interpretação, há espaço para otimização nos créditos, com impacto direto na competitividade. Esse tipo de discussão, embora técnica, influencia decisões de migração para o mercado livre e a precificação de contratos bilaterais, sobretudo para grandes consumidores com perfil de carga estável.
No curto prazo, a evolução desses temas regulatórios e tributários tende a pesar mais no caixa do que as discussões setoriais de longo prazo. Empresas olham para 2026 avaliando onde conseguir previsibilidade em impostos, tarifas de transporte de gás e regras de contratação de energia. Projetos na fronteira tecnológica, como parques no mar, entram nesse tabuleiro apoiados por uma visão de portfólio: ganham espaço quando há clareza jurídica, previsibilidade de obras de rede e sinais de preço estáveis.
No fim do dia: o que falta para o Brasil virar “case” de eólicas no mar
Faltam três entregas. A primeira é o decreto, com diretrizes de competição simples, cronograma factível e governança que evite gargalos. A segunda é o casamento desses prazos com a expansão da transmissão, incluindo definições claras de acesso à rede. A terceira é a preparação de portos e estaleiros com base em uma carteira de projetos suficientemente grande para justificar investimentos privados. Com isso, o país deixa a fase da promessa e entra na fase do canteiro.
Até lá, investidores vão continuar comparando Brasil com Colômbia, Chile e mercados asiáticos. A vantagem competitiva brasileira — indústria offshore madura e ventos de qualidade — permanece. Quem decidir o cronograma e a regra do jogo decide também onde a próxima leva de navios de instalação, turbinas e cabos vai atracar. O relógio corre: 270 dias de grupo técnico significam decisões que, se vierem com clareza, ainda podem colocar o país na rota de grandes projetos a partir de 2026.
Última atualização em 13 de outubro de 2025

