Com estimativa inicial de 354 milhões de toneladas, safra 25/26 de grãos pode ser a maior da história, por Marcos Fava Neves
O Brasil entrou na temporada 2025/2026 com uma projeção que chama atenção: 353,8 milhões de toneladas de grãos na primeira leitura oficial. Se confirmada, a safra pode superar a marca anterior e estabelecer um novo recorde histórico. A leitura inicial foi divulgada em 18 de setembro e aponta avanço de área e leve ajuste de produtividade, num ambiente de juros altos no país, corte de juros nos Estados Unidos e câmbio mais apreciado no fim de setembro. Para produtores, tradings, cooperativas e indústrias, o recado é direto: decisões de plantio, financiamento e comercialização precisam considerar esse novo quadro já em outubro.
A projeção considera aumento de 3,1% na área cultivada, para 84,2 milhões de hectares, e retração de 2% na produtividade média, para 4.199 kg/ha. A composição por culturas indica soja e algodão com crescimento e milho ligeiramente menor. Ao mesmo tempo, os números finais de 2024/2025, fechados em setembro, reforçam o piso alto a partir do qual a nova temporada começa: 350,2 milhões de toneladas e ganhos relevantes de produtividade nas principais culturas.
Recorde no radar: o que mostra a primeira estimativa da Conab
O primeiro boletim de grãos 2025/2026 indica produção de 353,8 milhões de toneladas, ligeiramente acima do ciclo 2024/2025. O avanço vem do aumento de área semeada, projetada em 84,2 milhões de hectares, o equivalente a cerca de 2,5 milhões de hectares adicionais na comparação anual. É uma expansão relevante, que tende a ocorrer sobretudo sobre áreas já consolidadas, com ajustes de rotação, intensificação do uso de insumos e reequilíbrio entre primeira e segunda safra em estados do Centro-Oeste e do Matopiba.
A produtividade média cai 2% nessa leitura inicial. Essa combinação — área maior e rendimento um pouco menor — sugere que o recorde passará mais pelo ritmo de plantio e pelas janelas climáticas do que por aumentos expressivos de produtividade. A distribuição por culturas reforça esse ponto: soja avança 3,6%, algodão cresce 0,7% e o milho recua 1,0% em volume, efeito de ajustes na segunda safra e da cautela nos custos de implantação. O comportamento dos preços internacionais e o câmbio nas próximas semanas terão peso na confirmação do número consolidado.
Como terminou 2024/2025: base elevada para a nova temporada
O ciclo 2024/2025 encerrou com 350,2 milhões de toneladas, após nova revisão positiva em setembro. Foi 16,3% acima de 2023/2024, com crescimento de 2,3% na área e salto de 13,7% na produtividade. Nos três carros-chefe — milho, soja e algodão — o desempenho foi consistente, estabelecendo novas marcas históricas e elevando a base de comparação para 2025/2026. A mensagem é clara: a capacidade instalada do setor está alta, e a logística precisará acompanhar o volume projetado já a partir de janeiro, com pico entre o fim do primeiro trimestre e o início do segundo.
No milho 2024/2025, a produção final atingiu 139,7 milhões de toneladas, distribuídas entre 24,9 milhões na primeira safra, 112 milhões na segunda e 2,7 milhões na terceira. A produtividade média chegou a 6.391 kg/ha, 16,5% acima do ciclo anterior, sobre 21,9 milhões de hectares (+3,8%). Desde 1976/1977, a série histórica confirma esse ciclo como o mais produtivo, superando os recordes de 2021/2022. Na soja, foram 171,5 milhões de toneladas, 13,3% a mais que no ciclo anterior, com produtividade de 3.621 kg/ha (+10,3%) e área de 47,3 milhões de hectares (+2,7%). No algodão, a colheita de 4,1 milhões de toneladas de pluma marcou avanço de 9,7%, com produtividade de 1.947 kg/ha (+2,3%) e área de 2,1 milhões de hectares (+7,3%).
Soja: plantio começa lento e projeções seguem firmes
O plantio da soja 2025/2026 começou com ritmo moderado em 20 de setembro, com 0,6% de progresso frente a 1,0% na média de cinco anos. Estados como Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Paraná deram a largada, priorizando áreas com umidade adequada. Essa desaceleração inicial tende a se dissipar conforme as precipitações se regularizam ao longo de outubro, abrindo espaço para acelerar semeadura e manter cronogramas de manejo e controle de pragas no padrão esperado para a região.
No quadro global para 2025/2026, a estimativa mais recente projeta 425,9 milhões de toneladas, ligeiro recuo frente à leitura anterior, mas ainda 0,4% acima da safra 2024/2025. Entre os três maiores produtores, apenas o Brasil tem previsão de expansão: 175 milhões de toneladas (+3,5%). Os Estados Unidos devem colher 117 milhões (-1,5%), e a Argentina permanece com 48,5 milhões (-4,7%). Os estoques globais projetados sobem 1,7% frente ao ciclo anterior, sinal de oferta confortável. Na bolsa de Chicago, o contrato novembro/2025 fechou em 26 de setembro em US$ 10,12/bushel, cerca de 0,4% abaixo do mês anterior, refletindo colheita americana em andamento e custos logísticos ainda estáveis para o período.
Milho: colheita nos EUA acelera; no Brasil, 2ª safra perto do fim e 1ª safra avança no Sul
O cenário global de milho para 2025/2026 foi ajustado para 1,287 bilhão de toneladas, 4,7% acima do ciclo anterior. Os Estados Unidos ampliaram a projeção para 427,1 milhões, enquanto a União Europeia recuou para 55,3 milhões. China, Brasil e Argentina mantiveram a leitura de produção em setembro, com destaque para o Brasil em 131 milhões. Os estoques finais estimados caem 1,0%, sugerindo um mercado ainda sensível ao andamento da colheita americana e ao consumo para etanol nos EUA, que segue em alta e dá suporte às cotações futuras.
Até 21 de setembro, 11% das lavouras de milho nos EUA estavam colhidas, em linha com a média de cinco anos. As condições de lavoura eram avaliadas como boas em 49% e excelentes em 17%, ligeiramente melhores do que em 2024. No Brasil, a colheita da segunda safra 2024/2025 alcançou 99,6% da área estimada até 20 de setembro, acima da média quinquenal. O plantio da primeira safra 2025/2026 começou com 20,8% de avanço, com destaque para Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina, em 50%, 48% e 40%, respectivamente. Em Chicago, o contrato dezembro/2025 foi cotado a US$ 4,219/bushel no dia 26 de setembro, praticamente estável no mês, acompanhando o ritmo de entrada de oferta nos EUA e o mapa de chuvas no Meio-Oeste.
Algodão: Brasil amplia participação e fecha ciclo com marcas históricas
O algodão brasileiro encerrou 2024/2025 com 4,1 milhões de toneladas de pluma, crescimento de 9,7% sobre a temporada anterior. A produtividade avançou 2,3% e alcançou 1.947 kg/ha, com área de 2,1 milhões de hectares (+7,3%). É a terceira grande cultura a anotar recordes na série desde 1976/1977, reforçando o papel do país como um dos principais fornecedores mundiais, em especial para mercados asiáticos e para fiações que valorizam previsibilidade de entrega e padronização de fibra.
Para 2025/2026, a leitura global foi elevada para 25,6 milhões de toneladas de pluma. Se confirmada, ainda ficará 1,5% abaixo do ciclo anterior. A China deve ofertar 7,1 milhões de toneladas, a Índia 5,2 milhões e o Brasil 4,0 milhões, apontando novo ganho relativo de participação brasileira. Nos EUA, a produção estimada ficou em 2,9 milhões de toneladas. As condições de lavoura americanas até 21 de setembro eram favoráveis, com 37% boas e 10% excelentes. Em Nova York, o contrato dezembro/2025 encerrou 26 de setembro em 66,37 centavos de dólar por libra-peso, praticamente no mesmo patamar do mês anterior, refletindo balanço confortável entre oferta e demanda no curto prazo.
Trigo e demais culturas de inverno: área menor, mas com ganhos pontuais de produtividade
O total de grãos de inverno alcançou 9,6 milhões de toneladas em 2024/2025. O trigo ficou estimado em 7,54 milhões de toneladas, queda de 4,5% frente ao ciclo anterior. Embora a produtividade tenha mostrado reação em parte das lavouras, a redução de área não foi compensada integralmente. Em mercados regionais, os preços responderam a essa dinâmica, com importações e custos logísticos compondo o quadro de margens das indústrias moageiras e dos moinhos independentes.
Outras culturas de inverno mostraram expansão de área: aveia (+7,9%), canola (+43,2%) e cevada (+8,4%). A produção ficou em 1,22 milhão de toneladas para aveia (+17,6%), 516,5 mil toneladas para cevada (+17,8%) e 309,2 mil toneladas para canola (+58,2%). A área total de inverno somou 3,33 milhões de hectares, 13,1% abaixo de 2023/2024, puxada por retração em centeio, trigo e triticale. Para quem planeja a safrinha, a recomposição de perfil nutricional do solo após culturas de inverno segue determinante para manter a estabilidade de produtividade no milho e na soja de segunda ocupação.
Cenário externo: preços de alimentos sobem; milho firme com etanol e óleos vegetais em alta
O índice de preços de alimentos medido por referência internacional alcançou 131,4 pontos em setembro, 1% acima de agosto e 7,8% superior ao mesmo mês de 2024. Entre os grupos, cereais recuaram 0,6%, influenciados pelo trigo, que segue pressionado por ampla oferta mundial e demanda moderada. No milho, o suporte veio das incertezas de produtividade na União Europeia e da demanda aquecida por etanol nos EUA, fator que ajuda a sustentar as cotações internacionais no limite inferior do intervalo observado no ano.
Óleos vegetais subiram 2,9% e atingiram o maior patamar em dois anos, impulsionados principalmente pelo óleo de palma, em meio a produção menor no Sudeste Asiático e procura firme para biocombustíveis. O óleo de soja teve oscilação limitada, refletindo a perspectiva positiva para a oferta 2025/2026 no Brasil. Laticínios recuaram 0,9% pelo terceiro mês seguido, com quedas em manteiga, queijo e leite em pó integral. Carnes avançaram 1,1% e atingiram nova máxima, com destaque para a bovina, puxada por compras da China e dos Estados Unidos. O índice do açúcar ficou praticamente estável, com leve alta de 0,1%.
Macro e crédito: Focus corta inflação, câmbio recua e juros seguem altos no Brasil
O Boletim Focus de 29 de setembro trouxe nova queda nas expectativas de inflação e câmbio para este ano e o próximo. A projeção para o IPCA foi ajustada para 4,81% em 2025 e 4,28% em 2026. Para o PIB, as medianas indicam crescimento de 2,16% em 2025 e 1,8% em 2026. O câmbio esperado ficou em R$ 5,48 no fim deste ano e R$ 5,58 no fim do próximo. O ponto sensível permanece na taxa básica: o mercado trabalha com Selic de 15% ao término de 2025 e 12,25% ao fim de 2026, níveis que mantêm o crédito caro para custeio, comercialização e investimento em tecnologia de campo e armazenagem.
Nos Estados Unidos, o Federal Reserve cortou juros pela primeira vez em nove meses, enquanto no Brasil o Copom manteve a Selic em 15% ao ano. Essa combinação mexe com as variáveis do agro: pode fortalecer o real, pressionando a competitividade via câmbio das exportações, ao mesmo tempo em que alivia custos de importados como defensivos e fertilizantes. No fechamento de 26 de setembro, o dólar encostou em R$ 5,28, menor nível em mais de um ano. O desafio para o produtor é equilibrar o ganho em insumos mais baratos com o risco de preços menores em reais na hora de vender a safra.
Exportações e VBP: faturamento robusto e mudança no mix setorial
Em agosto, as exportações do agro somaram US$ 14,3 bilhões, alta de 1,5% frente ao mesmo mês de 2024. O volume embarcado cresceu 5,1% e compensou a queda de 3,4% nos preços médios. O setor respondeu por 48% das vendas externas do país. As importações ficaram em US$ 1,6 bilhão, avanço leve de 1,2%. Cinco cadeias responderam por 80,8% do total: complexo soja (US$ 4,7 bilhões), carnes (US$ 2,6 bilhões), sucroalcooleiro (US$ 1,6 bilhão), cereais, farinhas e preparações (US$ 1,5 bilhão) e produtos florestais (US$ 1,1 bilhão). É um retrato de concentração em bens com forte escala e integração logística internacional.
Nos destaques, soja em grãos voltou a liderar com recorde para meses de agosto: 9,3 milhões de toneladas embarcadas (+16,2%), gerando US$ 3,9 bilhões (+11,0%) apesar de preços 4,4% menores. Carne bovina in natura foi o segundo destaque, com US$ 1,5 bilhão (+56%) e 268,6 mil toneladas (+23,5%), ambos recordes para o mês. O milho somou US$ 1,4 bilhão (+17,1%) em 6,8 milhões de toneladas (+12,9%), puxado por melhora nos preços e demanda da União Europeia. Itens como sebo bovino, sementes oleaginosas, feijões secos e rações para pet registraram os melhores resultados da série, mostrando diversificação de mercados. Em contrapartida, açúcar bruto (US$ 1,31 bilhão, -16,5%), farelo de soja (US$ 643,6 milhões, -24,1%) e carne de frango in natura (US$ 630,5 milhões, -15,7%) recuaram. No Valor Bruto da Produção, a leitura de agosto apontou R$ 1,406 trilhão em 2025, alta de 11,3% contra o ano anterior, com R$ 928,1 bilhões nas lavouras (+10,8%) e R$ 478,1 bilhões na pecuária (+12,3%).
Laranja: reestimativa aponta menos frutos e colheita mais lenta em SP e MG
A primeira reestimativa para 2025/2026 indicou 306,7 milhões de caixas no cinturão citrícola de São Paulo e Minas Gerais, 2,5% abaixo do número de maio. A revisão considerou maior taxa de queda de frutos e atraso de maturação, o que alonga a colheita e muda o cronograma de processamento industrial. Para o produtor, efeitos secundários surgem no planejamento de mão de obra e na negociação com as fábricas, sobretudo quando há contratos indexados ao volume efetivamente entregue por janela.
A incidência de problemas fitossanitários cresceu na região e impôs perdas de produtividade em pomares mais sensíveis, exigindo redirecionamento de tratos culturais, manejo rigoroso de controle e reavaliação de idade média do pomar. Em paralelo, o calendário de colheita mais espaçado altera fluxos logísticos de curta distância, com impacto em fretes e uso de equipamentos na movimentação da fruta até as unidades de processamento.
Preços internos: como fechar a conta com câmbio mais baixo e Chicago lateralizado
No fim de setembro, o milho físico em cooperativas do interior paulista era negociado a R$ 61,00 por saca, enquanto o contrato julho/2026 na B3 marcava R$ 69,26. Na soja, a referência spot estava em R$ 129,00 por saca (FOB) e a entrega para março/2026 em R$ 120,50 por saca (FOB), sinal de curva levemente invertida frente ao padrão de risco, refletindo oferta local confortável e câmbio mais apreciado. O algodão, na base de referência Esalq, era cotado a R$ 121,16 por libra-peso. No trigo, a marca estava em R$ 1.150,00 por tonelada (FOB), com variações regionais por qualidade e distância de moagens.
Entre outras referências, o café arábica registrou R$ 2.124,03 por saca, queda de 8,6% no mês. A laranja destinada à indústria foi negociada a R$ 50 por caixa de 40,8 kg, alta de 4,7%. O boi gordo encerrou em R$ 302,95 por arroba, recuo de 2,4% no mês. A combinação de dólar mais baixo e safra local volumosa pressiona preços internos em reais, mas reduz custos de importados. Para equilibrar margens, a tática passa por avançar no travamento de insumos quando os prêmios permitem e escalonar vendas em janelas de prêmios positivos na exportação.
Cinco pontos de atenção para outubro
Com a publicidade da primeira estimativa para 2025/2026, o principal vetor de incerteza é a aderência da expansão de área ao ritmo de plantio de soja e milho. O endividamento do setor e o custo elevado do crédito limitam a velocidade de implantação em algumas regiões. A produtividade média tende a cair 2% nesta leitura, o que torna a janela de semeadura ainda mais decisiva. A recomendação prática é reforçar a conferência de umidade no solo e priorizar talhões com histórico de resposta melhor a adubação de base, reduzindo riscos de replantio.
Outro ponto é o comportamento do clima ao longo de outubro. Caso se confirme um padrão de chuvas mais regulares a partir de novembro no Centro-Oeste e no Matopiba, janelas de semeadura podem se alongar, favorecendo a instalação de cultivos de primeira safra. No Sul, períodos mais secos exigem atenção a escalonamento e variedades com boa tolerância a veranicos. No front internacional, a colheita de milho e soja nos EUA avança com lavouras em condições levemente superiores a 2024, o que tende a manter Chicago em faixa de preços apertada, com viés de curto prazo ajustado ao fluxo de colheita. Um pacote tarifário americano sobre insumos e produtos agrícolas também está no radar, com potenciais efeitos sobre custos internos nos EUA e redirecionamento de fluxos comerciais, abrindo espaço para o Brasil em nichos específicos. Por fim, o câmbio: o dólar tocou R$ 5,28 em 26 de setembro. Janelas favoráveis para fixar preços estão mais curtas, pedindo disciplina comercial.
- Aderência da expansão de área: acompanhar ritmo real de plantio versus intenção por cultura e região.
- Mapa de chuvas e janelas de semeadura: ajustar calendário e posicionar insumos críticos por talhão.
- Colheita nos EUA e Chicago: monitorar basis e spreads para decidir entre venda spot e alongamento.
- Tarifas e fluxos de comércio: avaliar oportunidades em destinos hoje atendidos pelos EUA.
- Câmbio: usar momentos de real forte para insumos e aproveitar repiques do dólar para fixar vendas.
Passo a passo para o produtor: do plantio à comercialização
– Na semana do plantio: confirmar umidade de profundidade e prever janela de 10 a 14 dias sem estresse hídrico. Revisar densidade e distribuição de sementes, com atenção a calagem e fósforo de base em áreas com histórico de resposta. Em regiões com risco de replantio, preparar plano B com sementes de ciclo ligeiramente mais curto para evitar janela tardia da safrinha.
– No crédito: simular custo efetivo total com taxas próximas a 15% ao ano, comparando modalidades de custeio, barter e adiantamento de contrato. Em operações dolarizadas, considerar hedge cambial parcial quando o real estiver próximo dos menores níveis recentes. Em barter, conferir relação de troca sacas/insumo e prazo de entrega, buscando reduzir exposição à variação de base local.
- Plantio: priorizar talhões com melhor estrutura física de solo para capturar ganho de produtividade.
- Insumos: escalonar compras em três lotes (pré-plantio, meio do ciclo e pré-colheita de segunda safra).
- Hedge: usar contratos futuros e opções para travar margens ao atingir 30% a 50% da produção esperada.
- Logística: reservar janelas de frete com antecedência em regiões de pico de colheita do vizinho.
- Seguro rural: revisar coberturas para falhas de estabelecimento e eventos climáticos críticos.
Como as indústrias e cooperativas podem se posicionar
Para esmagadoras, fábricas de ração e fiações, a leitura de oferta confortável pede disciplina em estoques e compras fracionadas. Em soja, a estratégia passa por alongar posições físicas apenas quando prêmios e câmbio somarem pontos a favor. Em milho, a proximidade da colheita nos EUA e os embarques brasileiros firmes pedem atenção ao basis portuário e ao custo de transporte do interior. Em algodão, o foco recai em qualidade e padronização, prêmio por fibra e alongamento de contratos com clientes externos que valorizam previsibilidade de entrega no início de 2026.
Cooperativas podem atuar como âncoras de preço e crédito, escalonando compras, oferecendo mecanismos de proteção de margem a associados e reforçando assistência técnica no arranque do plantio. Em regiões com maior pressão de caixa, antecipações de contrato com travas de preço em percentuais moderados ajudam a reduzir o risco de liquidez sem comprometer a captura de altas eventuais no mercado.
Ferramentas e indicadores para acompanhar ao longo do mês
Boletins periódicos e indicadores operacionais ajudam a calibrar decisões no dia a dia. Os relatórios de oferta e demanda de grãos, os acompanhamentos semanais de condição de lavouras nos EUA e os boletins de colheita e plantio no Brasil formam o conjunto mínimo para avaliação de direção de preços. Os índices de preços ao produtor e as referências de mercado físico regionais completam o quadro com a leitura do basis local, decisiva para a tomada de decisão entre venda imediata e alongamento.
Outros dados úteis para o acompanhamento em outubro incluem: indicadores diários de câmbio comercial, curva de juros e expectativas do Focus; cotações futuras nas bolsas internacionais para soja, milho e algodão; curvas da B3 para contratos agrícolas; e referências semanais de custos de frete rodoviário. Para quem exporta, prêmios nos portos e fila de embarque ajudam a antecipar gargalos e negociar janelas mais vantajosas, principalmente entre o fim do primeiro trimestre e o segundo trimestre de 2026, quando o fluxo de escoamento tende a ser mais intenso.
Riscos e oportunidades por cultura: o que pode mexer com as cotações
Na soja, uma aceleração do plantio a partir da segunda quinzena de outubro tende a reduzir riscos de replantio e preservar janelas para segunda safra, o que sustenta custos mais baixos de manejo. Eventuais atrasos prolongados podem elevar risco de janela curta para o milho safrinha e, por consequência, afetar a intenção de área da segunda safra. A demanda externa segue robusta, com destaque para compras asiáticas e retomada gradual de consumo de óleo para biocombustíveis em alguns mercados, elemento que sustenta parte da cadeia de óleos vegetais.
No milho, a colheita americana em ritmo acima da média por algumas semanas pode pressionar Chicago, mas repiques são prováveis com surpresas nos volumes finais e no mix da indústria de etanol. No Brasil, a boa base de estoques e a proximidade de implantação da primeira safra controlam altas mais abruptas no curto prazo. Já no algodão, a disputa por área com grãos em algumas regiões e o apetite por fibra de qualidade superior podem provocar diferenciais de prêmio por micrômetro e resistência, com benefícios para quem investe em padronização e colheita bem regulada.
Calendário de outubro: datas e marcos para não perder de vista
– Primeira quinzena: aceleração do plantio de soja e milho primeira safra no Sul e avanço mais tímido no Centro-Oeste, condicionados por chuvas. Monitorar janelas de umidade e temperaturas para definir reentradas de máquinas por talhão. Avaliar travas parciais de insumos com dólar mais baixo, priorizando itens com risco de ruptura de oferta.
– Segunda quinzena: colheita americana de soja e milho entra no pico. A volatilidade em Chicago tende a aumentar, com impacto nos prêmios de exportação no Brasil. É momento de revisar posições de venda, checar contratos de frete já reservados e, se possível, garantir janelas de carregamento nos portos com antecedência. Em algodão, as operações para 2025/2026 começam a ganhar corpo no planejamento de campo e compras técnicas.
Comercialização: disciplina para travar margens em janelas curtas
Com câmbio na casa de R$ 5,28 no fim de setembro e Chicago lateralizado, as janelas de oportunidade para fixar preços tendem a ser mais curtas. Um protocolo simples ajuda a organizar as decisões: estabelecer metas de comercialização por degraus (ex.: 20%, 35%, 50%, 65%, 80%) e travar cada degrau quando preço futuro mais basis local e câmbio entregarem margem-alvo. Se o mercado acelerar contra as metas, reduzir o intervalo entre degraus e usar opções para manter participação em altas sem perder o piso.
Para quem opera barter, a conta é de relação de troca: quantas sacas por hectare são necessárias para quitar o pacote. Ao identificar melhora na troca em relação à média dos últimos doze meses, vale antecipar uma parte do contrato. Em regiões com logística pressionada, como corredores que atendem exportação de milho e soja simultaneamente, antecipar contratação de frete evita prêmio de última hora que pode corroer margens.
O que observar nos custos: insumos, frete e capital de giro
Insumos importados tendem a ficar mais baratos com o real valorizado, mas o benefício só chega à ponta quando há estoque nos distribuidores e indústrias disposto a girar mais rápido. Vale mapear fornecedores com níveis de estoque mais altos, que costumam repassar quedas primeiro. No frete, a disputa entre grãos e outras cargas cresce a partir de janeiro; por isso, é prudente reservar parte da capacidade com antecedência, principalmente em regiões dependentes de rotas longas até portos do Arco Norte ou Sudeste.
No capital de giro, taxas altas exigem rodar estoques com disciplina e encurtar o ciclo financeiro. Para tanto, a prioridade é alinhar cronograma de colheita e recebimento com janelas de pagamento de insumos e serviços. Em contratos com entrega futura, combinar cláusulas de flexibilidade de data ajuda a evitar descontos por atraso quando houver imprevistos operacionais, como paradas de colheita e filas em armazéns.
Sinais de mercado para a próxima leitura oficial
A próxima rodada de números tende a recalibrar área e produtividade conforme o avanço do plantio e a confirmação das condições de campo. Três variáveis merecem atenção: velocidade de semeadura nas regiões de maior peso, distribuição de chuvas na transição outubro–novembro e comportamento do câmbio. Uma aceleração consistente nessas frentes é suficiente para manter a projeção de 353,8 milhões de toneladas no radar e, eventualmente, levá-la acima da marca psicológica de 354 milhões de toneladas.
No curto prazo, o foco permanece em executar bem o plantio e proteger margens. Na soma de fatores — oferta global confortável, câmbio mais apreciado, crédito caro e janelas de Chicago mais curtas — o ganho virá da eficiência na implantação, da disciplina comercial e da boa leitura dos sinais de mercado. Se esses elementos caminharem na mesma direção, a safra 2025/2026 tem espaço para confirmar a projeção de maior da história.
Última atualização em 13 de outubro de 2025