As cotações do suíno reagiram em agosto de 2025 e voltaram a subir no Brasil, mesmo após o recuo pontual das exportações em julho e o anúncio de uma sobretaxa de 50% pelos Estados Unidos sobre produtos do país. A retomada dos preços ocorre em um ambiente de produção em alta no segundo trimestre, ajustes de oferta nas granjas e sinais de normalização no mercado de proteínas, que foi afetado por problemas na avicultura e por incertezas na bovinocultura ao longo do trimestre.
Dados preliminares do IBGE divulgados em 13 de agosto apontam que o abate de suínos somou 14,87 milhões de cabeças no 2º trimestre de 2025, avanço de 1,64% na comparação anual e de 3,78% frente ao trimestre anterior. As carcaças alcançaram 1,40 milhão de toneladas, alta de 4,72% ante o 2º trimestre de 2024 e de 6,10% na comparação com o 1º trimestre, reforçando que a oferta se manteve firme. Mesmo assim, indicadores do CEPEA/ESALQ e de bolsas estaduais mostram que o preço pago ao produtor reagiu ao longo de agosto, com viés de continuidade nas próximas semanas.
Agosto em alta: o que explica a reação das cotações
O mês de agosto trouxe virada de humor ao mercado de suínos. Após quedas importantes em julho, as referências de suíno vivo e de carcaça especial voltaram a subir, segundo os indicadores acompanhados pelo CEPEA/ESALQ e pelas bolsas regionais. No caso de São Paulo, a carcaça especial mostra recuperação consistente ao longo do mês, enquanto Minas Gerais, Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina registraram melhora nas médias do vivo. Essa reação acontece apesar do recuo dos embarques de carne suína em julho na comparação anual, um movimento que, de acordo com dados parciais até 15 de agosto, tende a ser pontual, com ritmo de embarque diário em agosto próximo de 6 mil toneladas.
A leitura do setor é que houve um ajuste fino entre oferta e demanda. No começo do inverno, a procura doméstica costuma arrefecer com as férias escolares de julho, o que contribuiu para a pressão baixista naquele mês. Passado esse período, os frigoríficos voltaram às compras com maior regularidade, e parte dos suinocultores reduziu o ritmo de abate para normalizar o peso médio após uma fase de retenção em maio e junho. O alinhamento entre abate, peso e escalas de produção devolveu fôlego às cotações, ainda que o ambiente externo siga desafiador em algumas frentes.
Pelos números do indicador diário do SUÍNO VIVO – CEPEA/ESALQ, a curva de preços mostra inflexão positiva ao longo de agosto, depois da sequência de baixas observadas entre junho e julho. Essa mudança também aparece nas negociações semanais da Bolsa de Suínos de Belo Horizonte (BESEMG), que voltaram a apontar reajustes para o produtor. A leitura combinada desses dois termômetros sugere melhora no poder de barganha das granjas e maior disciplina de compra por parte da indústria.
No atacado paulista, a CARCAÇA SUÍNA ESPECIAL – CEPEA/ESALQ aponta recuperação nas médias mensais em agosto, quando comparadas a julho, com melhora de giro em centrais de abastecimento e atacadistas. Esse movimento costuma levar alguns dias para se transmitir integralmente ao varejo, mas já há relatos de maior regularidade nos pedidos de cortes, sobretudo pernil, paleta e produtos processados, que ganham espaço na transição para a primavera.
Produção em alta: dados do IBGE mostram avanço no 2º trimestre
Os números do IBGE divulgados em 13 de agosto ajudam a entender a base de oferta que o mercado precisou administrar. No 2º trimestre de 2025, o abate de suínos atingiu 14,87 milhões de cabeças, 1,64% acima do mesmo período de 2024, ou 240.527 cabeças a mais. Na comparação com o 1º trimestre de 2025, o crescimento foi de 3,78%. Essa trajetória confirma uma retomada tímida, porém contínua, da produção nacional, com reforço de carcaças que totalizaram 1,40 milhão de toneladas, 4,72% superiores às do 2º trimestre de 2024 e 6,10% acima do 1º trimestre deste ano.
Outro ponto relevante é o comportamento do peso médio das carcaças. Em maio e junho de 2025, ele avançou de forma significativa, chegando a 95 kg em junho. Esse aumento reflete retenção de animais nas granjas, estratégia adotada por produtores quando a relação de troca não está favorável no curto prazo. A consequência imediata desse movimento foi a intensificação da pressão sobre os preços do vivo no fim do semestre. Passada a fase de retenção, o equilíbrio entre peso, idade e escalas contribuiu para a recomposição das margens na virada para agosto.
Os dados, ainda preliminares para o trimestre, indicam que a cadeia segue expandindo de forma seletiva, priorizando regiões com melhor disponibilidade de grãos e logística integrada com a indústria. O mapeamento por estados também sinaliza deslocamento gradual de parte da produção para áreas com custos de frete mais competitivos, mantendo, porém, a relevância dos polos tradicionais do Sul e do Sudeste no fornecimento de animais e carcaças para os grandes centros consumidores.
Para o produtor, o avanço trimestral tem duas leituras. Por um lado, a escala maior tende a diluir custos fixos e melhorar a eficiência de abate. Por outro, reforça a necessidade de planejamento mais rigoroso de fluxo de caixa e de compra de insumos, dado que momentos de ajuste de preço, como os vividos em julho, podem apertar margens. A reação de agosto ajuda a recompor parte desse espaço, sobretudo em granjas que conseguiram negociar milho com antecedência e segurar o custo alimentar em patamar inferior ao de 2023 e 2024.
Exportações: recuo em julho e sinais de retomada em agosto
Julho foi o primeiro mês de 2025 com queda das exportações de carne suína in natura em relação a julho de 2024. O recuo ocorreu após uma sequência positiva no primeiro semestre. Mesmo com a baixa mensal, o acumulado do ano até julho seguia em alta superior a 14%. Dados parciais coletados até 15 de agosto indicavam média diária de embarque próxima a 6 mil toneladas, apontando para retomada dos volumes e sugerindo que a queda de julho foi pontual.
A base de comparação elevada e ajustes pontuais de demanda em alguns mercados contribuíram para a oscilação. Em agosto, a normalização de fluxos logísticos e a recomposição de pedidos por parte de importadores tradicionais tendem a recompor a curva. A competitividade brasileira permanece como trunfo, apoiada por disponibilidade de animais, indústria com capacidade ociosa moderada e câmbio que, apesar de volátil, favorece contratos de exportação em relação ao mercado doméstico em determinados cortes e apresentações.
A paridade entre preços externos e internos continua sendo monitorada de perto. Quando o atacado doméstico ganha fôlego, como ocorreu em agosto, parte da produção volta-se para o mercado interno, reduzindo a pressão por embarques a qualquer preço. Essa alternância faz parte da dinâmica do setor e pode ser observada no comportamento recente dos contratos, que valorizam carne com maior processamento e cortes de maior valor agregado para atender redes varejistas e food service.
No radar do exportador, permanece a necessidade de diversificação de destinos e de adequação de portfólios. A estratégia passa por combinar mercados que pagam prêmio por qualidade e certificações com destinos que compram volumes regulares de cortes específicos. A leitura de agosto é positiva: a recomposição do ritmo de embarques e a melhora dos preços internos ajudam a diluir o impacto do tombo de julho no resultado acumulado de 2025.
Frango e boi: efeitos cruzados que mexeram com o suíno
O mercado de suínos não andou sozinho no trimestre. A avicultura enfrentou, em maio, foco de gripe aviária no Rio Grande do Sul, o que afetou exportações de frango e ajudou a derrubar o preço do frango resfriado no mercado doméstico. Com maior disponibilidade interna, o frango disputou espaço na gôndola com o suíno, pressionando margens no atacado de suínos entre junho e julho. Setores que operam com substituição entre proteínas sentiram a mudança, reduzindo temporariamente pedidos de suínos em algumas praças.
À medida que mercados internacionais foram reabrindo para a carne de frango, o fluxo de exportações começou a se recompor, reduzindo a pressão sobre o mercado interno no início de agosto. A exceção mais relevante continua sendo a China, que manteve suspensão completa às importações de frango brasileiro por um período mais longo. Ainda assim, a recomposição parcial de destinos ajudou a reequilibrar a disputa por espaço nas redes varejistas e no food service, beneficiando indiretamente os preços do suíno na reta final do mês.
Com a queda temporária dos embarques, junho registrou o menor volume de exportação de carne de frango in natura do período iniciado em janeiro de 2024. Esse vale na curva apareceu quase em sincronia com a perda de preço do frango resfriado em São Paulo, ampliando a competição com cortes suínos de entrada, como bisteca e costela. Foi um choque de curto prazo, mas suficiente para retardar a reação do mercado de suínos que começava a se desenhar no fim de junho.
Na bovinocultura, o anúncio de sobretaxa de 50% por parte dos EUA sobre importações do Brasil elevou a incerteza. Mesmo assim, julho marcou recorde de exportação de carne bovina brasileira, perto de 280 mil toneladas embarcadas. Apenas 12,6 mil toneladas, ou 4,57%, tiveram os Estados Unidos como destino, mostrando que as vendas externas de bovinos estavam menos dependentes daquele mercado no período. Ainda assim, o boi gordo em São Paulo recuou ao menor patamar do ano em julho, reflexo de abate surpreendentemente maior do que o de 2024 até aqui e de um ciclo que ainda não entregou a alta esperada.
O encarecimento súbito de riscos na carne bovina ajudou a reforçar a sensibilidade de preço no varejo, que buscou promoções em cortes de frango e suínos para manter tráfego e ticket médio. Esse ajuste de prateleira, comum em momentos de pressão de custos ou de incerteza regulatória, intensificou o efeito cruzado entre as proteínas no começo do trimestre e também explica parte da retomada do suíno quando a dinâmica do frango e do boi começou a se acomodar em agosto.
Somando os fatores, o ambiente de julho foi de preços deprimidos para o suíno, mas a melhora na margem do atacado, a volta gradual de exportações avícolas e a estabilidade maior na bovinocultura criaram as condições para a recuperação de agosto. O setor de suínos, por sua vez, mostrou disciplina de oferta ao reduzir o peso médio e ajustar escalas, o que acelerou a recomposição dos preços pagos ao produtor na segunda metade do mês.
O que sustentou a alta: oferta ajustada e demanda com melhor ritmo
Três vetores explicam a alta das cotações de suínos em agosto. O primeiro é o ajuste na oferta efetiva, com redução do peso médio das carcaças depois do pico de 95 kg em junho. Com menos retenção e maior giro, a indústria equalizou escalas e houve menor pressão de animais prontos no mercado spot. O segundo é a melhora gradual da demanda doméstica, em linha com o fim das férias escolares e com ações promocionais no varejo que ajudaram a escoar cortes de maior valor. O terceiro é a reacomodação do mix entre mercado interno e externo, após a queda pontual de julho nas exportações e a retomada do ritmo de embarques em agosto.
Esses elementos se somaram à percepção de custos mais previsíveis na alimentação animal, sobretudo no milho, que representa a maior parcela da ração. Com expectativa de safra robusta no Brasil e colheita histórica nos Estados Unidos, as referências internacionais sinalizaram estabilidade nos preços em dólar, enquanto, internamente, a demanda firme de indústrias de etanol de milho e da pecuária manteve os negócios aquecidos no Centro-Oeste, dando um piso ao grão. Para as granjas, a combinação de custo de ração mais estável e preços do suíno em recuperação trouxe alívio às margens no fim de agosto.
No curto prazo, o foco dos produtores permanece em três frentes: qualidade do lote para capturar bonificações no abate, negociação semanal com frigoríficos para não descasar preços do vivo com o atacado, e monitoramento do câmbio para avaliar oportunidades de contratos de exportação quando a paridade for favorável. O desenho das escalas para setembro leva em conta a proximidade de datas sazonais que geralmente elevam o consumo de processados, um segmento que absorve volume e estabiliza a demanda por cortes suínos específicos.
A leitura dos principais indicadores de mercado reforça esse cenário. No indicador diário do CEPEA/ESALQ, o suíno vivo deixou para trás a sequência de baixas e passou a acumular ganhos em agosto. Na referência de carcaça especial em São Paulo, as médias do mês superam as de julho, sinal de que a ponta do atacado validou reajustes e de que as redes repassaram parte dessa alta em prazos compatíveis com o giro de estoque.
Milho em foco: custos mais previsíveis e estratégias de compra
A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) publicou, em 14 de agosto, o 11º levantamento da safra 2024/25 com acréscimo de 5 milhões de toneladas na projeção de milho em relação ao relatório anterior. Só a segunda safra (safrinha) foi estimada em 109 milhões de toneladas, levando o total acima de 137 milhões de toneladas na soma das três safras do ciclo 2024/25. O quadro amplia a sensação de disponibilidade doméstica e ajuda a ancorar decisões de compra de ração nos polos de suinocultura.
No exterior, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) elevou recentemente a estimativa de colheita de milho para algo em torno de 425 milhões de toneladas, com colheita prevista para outubro. Essa perspectiva tem pressionado as cotações em Chicago, ao mesmo tempo em que, no Brasil, a demanda interna firme — liderada pela indústria de etanol de milho e pela pecuária — mantém os preços sustentados no Centro-Oeste. O resultado prático é um descolamento parcial entre as curvas interna e externa: a referência internacional cede em dólar, enquanto o mercado doméstico equilibra preço com base na logística, no câmbio e no ritmo de embarques do cereal brasileiro.
Segundo análises de mercado, o piso de preços do milho no Brasil parece ter ficado para trás em meados do inverno. A orientação para quem produz suínos é manter disciplina na formação de estoque de ração, escalonando compras e aproveitando janelas de oportunidade ao longo de agosto e setembro. Em regiões com acesso a contratos vinculados a paridades de exportação, a recomendação é acompanhar de perto o avanço dos embarques, o comportamento do câmbio e possíveis ajustes de prêmio nos portos, fatores que podem abrir hedge natural para o custo da ração.
No front financeiro, granjas com maior exposição ao milho podem avaliar, junto a seus parceiros comerciais, instrumentos de travas parciais de preço quando houver sinal de alongamento de tendência. Já para operações menores, a disciplina de caixa e a análise de frete costumam trazer mais resultado do que a tentativa de acertar o fundo do mercado. Com a safrinha praticamente concluída e o escoamento ganhando tração em agosto, a formação de preço tende a refletir de forma mais clara o balanço entre armazenagem, demanda industrial e janelas de exportação.
Leituras por indicador: como interpretar CEPEA, BESEMG e IBGE
Os indicadores citados ao longo desta reportagem oferecem pistas para decisões do dia a dia. O CEPEA/ESALQ calcula a média de negócios em diferentes praças para o suíno vivo e para a carcaça especial, sendo referência tanto para produtores quanto para frigoríficos e atacadistas. Em agosto, as curvas de ambos os indicadores mostram recuperação, o que respalda negociações semanais e ajuda o mercado a definir patamares de preço com menor assimetria de informação.
A Bolsa de Suínos de Belo Horizonte (BESEMG), por sua vez, captura a dinâmica da negociação regional em Minas Gerais e serve como termômetro complementar. Quando BESEMG e CEPEA apontam na mesma direção, a leitura de tendência ganha força. O IBGE, com seu levantamento trimestral de abates e carcaças, oferece a fotografia da oferta física, essencial para entender por que momentos de pressão ou de alívio nos preços acontecem. Em 13 de agosto, os dados preliminares do 2º trimestre mostraram produção maior que a do ano anterior, o que explica parte do esforço que o mercado precisou fazer para reequilibrar preços na virada para agosto.
É importante considerar as janelas de atualização de cada indicador ao cruzar informações. As médias do CEPEA para agosto, por exemplo, foram citadas até o dia 18/08/2025 nas séries divulgadas, enquanto o IBGE trabalha com consolidação por trimestre e, no caso do 2º trimestre de 2025, ainda com caráter preliminar. Essa diferença temporal exige cautela na leitura de curto prazo: movimentos diários e semanais podem sinalizar uma tendência que só aparecerá no consolidado de produção meses depois.
Da mesma forma, séries de exportação mensais e médias diárias parciais — como as observadas até 15 de agosto — são úteis para aferir mudança de ritmo, mas estão sujeitas a ruídos logísticos e administrativos. Ao contextualizar julho como uma queda pontual nas exportações, a leitura correta é observar o acúmulo do ano e, principalmente, o retorno do ritmo de embarque nas semanas seguintes.
Impacto do “tarifaço” dos EUA: o que muda para a carne suína
O anúncio de uma sobretaxa de 50% pelos Estados Unidos sobre importações do Brasil trouxe incerteza e ruído para todo o agronegócio. No curto prazo, os efeitos foram mais sentidos na bovinocultura, já que os EUA respondiam por parcela relevante, porém variável, dos embarques de carne bovina brasileira. Em julho, mesmo com a medida no radar, o Brasil exportou volume recorde de bovinos, com pequena fatia dirigida aos Estados Unidos. Para a carne suína, a repercussão direta é limitada, mas o enc encadeamento do setor de proteínas pode influenciar preços relativos, decisões de abate e estratégias de venda.
No médio prazo, a indústria suinícola tende a olhar o “tarifaço” como parte do ambiente de risco comercial, monitorando possíveis efeitos indiretos sobre câmbio, apetite de importadores em outros mercados e alterações de fluxo do mix de proteínas no comércio global. Caso ocorra redirecionamento de oferta bovina brasileira para mercados que também compram suínos, pode haver competição adicional por espaço em gôndola e nas tabelas de preços de grandes redes. Por ora, os sinais de agosto para o suíno são positivos e a cadeia segue operando com foco em eficiência, qualidade de carcaça e disciplina na formação de preço.
Executivos do setor avaliam que a prioridade é preservar previsibilidade nas operações. Isso passa por contratos com cláusulas de flexibilidade para ajuste de volume, por reforço de certificações que abram portas em mercados com maior valor agregado e por maior sinergia entre produtores e frigoríficos na gestão de escalas. Com a demanda interna estabilizada e os embarques de suínos voltando ao eixo em agosto, a leitura predominante é que o episódio aumentou a volatilidade, mas não alterou o fundamento de curto prazo da suinocultura.
Como o produtor pode aproveitar o momento: práticas de manejo e negociação
Com preços em recuperação, o produtor encontra espaço para organizar o planejamento de setembro. Um ponto central é o manejo de peso ao abate. Depois do pico de 95 kg em junho, o objetivo é manter o padrão de carcaça alinhado às especificações do frigorífico. Lotes homogêneos tendem a capturar bonificações e reduzir descontos. A programação de saída deve considerar o calendário de manutenção de equipamentos, a disponibilidade de transporte e o giro de ração, para evitar novas retenções e perdas por conversão alimentar desfavorável.
Na negociação, vale reforçar a consulta diária a referências públicas. O cruzamento do indicador CEPEA com os fechamentos semanais das bolsas estaduais, como a BESEMG, diminui a assimetria e dá respaldo ao produtor para discutir preços com base em volume, qualidade e regularidade de entrega. Em períodos de volatilidade, pequenas travas de preço por lote podem reduzir o risco de caixa, principalmente em granjas com menor capacidade de armazenagem de insumos.
Outro cuidado é acompanhar a evolução das exportações de milho, o comportamento do câmbio e os relatórios de colheita nos Estados Unidos. Esses três fatores formam a tríade que direciona o custo da ração no curto prazo. Em regiões com acesso a plataformas de barter ou a contratos indexados, pode ser interessante travar parte do custo quando as janelas de preço se mostrarem favoráveis. O restante pode ficar a mercado, desde que haja disciplina no fluxo de caixa e resiliência logística para evitar compras emergenciais em períodos de alta.
Por fim, a comunicação com o frigorífico segue determinante. Informar com antecedência a disponibilidade de lotes, ajustar diárias de abate e discutir mix de cortes aumentam a chance de capturar preços melhores no atacado. A indústria tem dado sinais de maior apetite por carcaças de padrão estável e peso dentro da janela ideal, o que contribui para que a curva de preços se mantenha mais firme na virada de mês.
Perguntas e respostas: dúvidas comuns do momento
Por que as cotações caíram em julho e subiram em agosto? Julho combinou férias escolares, maior disputa com o frango no varejo e aumento do peso médio dos animais, o que elevou a oferta efetiva. Em agosto, com normalização da demanda, redução do peso e melhor giro no atacado, os preços reagiram. As exportações de suínos também deram sinais de retomada, reforçando a recuperação.
O recuo das exportações em julho compromete o ano? Até julho, o acumulado seguia com alta superior a 14%. Dados parciais até 15 de agosto indicaram retomada do ritmo, com média diária próxima a 6 mil toneladas. A interpretação dominante no setor é que julho foi uma oscilação pontual, não uma inversão de tendência.
O “tarifaço” dos EUA muda o jogo para o suíno? O efeito direto sobre a carne suína é limitado. O maior impacto imediato se deu na bovinocultura, mas o ambiente de risco comercial pode afetar câmbio e estratégias de importadores. Por enquanto, agosto mostrou que os fundamentos do suíno — oferta ajustada e demanda em recomposição — foram suficientes para sustentar a alta de preços.
Como ficam os custos de ração? A Conab elevou a projeção de milho da safra 2024/25 e o USDA aponta colheita histórica nos EUA em outubro. Isso tende a estabilizar preços internacionais. No Brasil, a demanda firme sustenta cotações no Centro-Oeste, mas o cenário geral é de maior previsibilidade. Estratégias de compra escalonada e eventuais travas parciais seguem recomendadas.
Sinais para setembro: o que acompanhar no curto prazo
Com o mês de agosto chegando ao fim, o mercado de suínos entra em setembro com três indicadores-chave no radar. O primeiro é a continuidade do ritmo de embarques de carne suína. Se as médias diárias de meados de agosto se confirmarem no fechamento do mês, a leitura de recomposição ficará mais clara e deve sustentar preços no vivo e na carcaça. O segundo é o comportamento do atacado, especialmente em São Paulo, que costuma antecipar tendências para outras praças. O terceiro é a evolução do custo da ração, com ênfase no milho, à medida que a logística de escoamento da safrinha define os diferenciais regionais.
Também merecem atenção os desdobramentos na cadeia do frango, que impactam diretamente o espaço do suíno no varejo. Reaberturas de mercados externos, eventuais ajustes na oferta interna e políticas promocionais podem alterar a dinâmica de prateleira. Na bovinocultura, o comportamento do boi gordo e a sensibilidade do varejo a movimentos de preço seguem como fatores de influência indireta. Em um cenário de custos mais estáveis e demanda em recomposição, a estratégia vencedora para o suinocultor tende a ser disciplina de oferta, foco em qualidade de carcaça e uso de referências confiáveis nas negociações semanais.
Última atualização em 31 de agosto de 2025