Novo Plano Safra traz juros altos, redução no subsídio e menor investimento impactando o agronegócio brasileiro

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Juro mais alto, subsídio menor e menos investimentos: o novo Plano Safra na visão de analistas

O anúncio do Plano Safra 2025/2026 trouxe mais uma vez números expressivos, com um volume recorde de recursos disponibilizados para o setor agrícola brasileiro. Foram destacados R$ 516,2 bilhões destinados à agricultura empresarial e R$ 89 bilhões para a agricultura familiar. No entanto, ao analisar os detalhes, especialistas apontam que esse “aumento” apresenta limitações importantes, colocando em xeque os ganhos efetivos para os produtores rurais.

As medidas divulgadas pelo governo suscitam questionamentos sobre o real impacto financeiro do plano, a elevação das taxas de juros, a redução do subsídio público e a diminuição dos investimentos em setores estratégicos. Os analistas ressaltam que, apesar do anúncio de mais recursos, a inflação e as condições econômicas atuais reduzem o poder de compra e dificultam a contratação de crédito rural.

Volume de recursos: aumento nominal versus inflação

Um dos pontos centrais da crítica ao Plano Safra 2025/2026 é a interpretação do aumento no volume de recursos destinados à agricultura empresarial. Embora o montante anunciado tenha subido em termos nominais, com um incremento de cerca de 1,5% em relação ao plano anterior, esse valor está muito abaixo da inflação registrada no mesmo período, que acumulou 5,2% segundo o IPCA.

Isso significa que, na prática, o poder real dos recursos disponíveis para os agricultores diminuiu. Como explica Antônio da Luz, economista chefe da Farsul, a inflação corrói o poder de compra dos valores oferecidos, evidenciando que o suposto “aumento” não representa um ganho real para o setor. Além disso, grande parte dos recursos anunciados são classificados como recursos livres de mercado, sem subsídio do governo, o que diminui ainda mais o impacto positivo esperado para os produtores.

Redução significativa no subsídio para taxas de juros

Outro aspecto que preocupa os especialistas é o corte no montante que o Tesouro Nacional destinará para subsidiar as taxas de juros do crédito rural. Conforme o consultor Carlos Cogo, a verba para subvenção financeira terá uma redução de 17,5% em relação ao aporte anterior, totalizando R$ 13,5 bilhões no plano atual.

Esse recuo no subsídio encarece o custo do crédito para os produtores, que já enfrentam taxas mais elevadas em comparação à safra anterior. O aumento médio das taxas de juros varia entre 1,5 a 2 pontos percentuais, com linhas para médios e grandes agricultores apresentando taxas de até 14% ao ano. Essa elevação representa um desafio adicional à viabilidade econômica das atividades agrícolas, especialmente num cenário marcado por condições climáticas adversas e preços menos favoráveis aos produtores.

Dificuldades crescentes para contratação de crédito rural

Dados oficiais do Banco Central indicam uma redução efetiva nos volumes contratados pelo crédito rural para a safra 2024/2025, reflexo direto das dificuldades enfrentadas pelos produtores na obtenção de financiamento. Segundo Ivan Wedekin, ex-secretário de política agrícola do Mapa, houve uma queda de 14,3% no total financiado em comparação à safra anterior, chegando a R$ 360,7 bilhões.

Essa retração é ainda mais acentuada quando se considera apenas as linhas de custeio para a agricultura empresarial, que recuaram 18%. As razões para essa dificuldade incluem o aumento dos custos financeiros, o endurecimento das políticas de crédito e a pressão dos eventos climáticos que dificultam a produção agrícola. A tendência é que esses problemas se agravem com o incremento das taxas de juros e a menor disponibilidade de recursos públicos para subsídio.

Pontos positivos do novo Plano Safra

Apesar dos desafios apontados, há medidas no Plano Safra 2025/2026 que merecem destaque positivo. Uma delas é o aumento da capacidade de armazenagem financiada pelo Programa de Construção e Ampliação de Armazéns (PCA), que dobrou de 6 mil para 12 mil toneladas, atendendo a antigas demandas do setor para melhorar a gestão e a conservação da produção.

Além disso, foi ampliado o limite de renda anual para enquadramento no Pronamp, de R$ 3 milhões para R$ 3,5 milhões, possibilitando que um número maior de produtores médios tenha acesso a crédito com condições especiais. Outra iniciativa importante é a redução em 0,5 ponto percentual nas taxas para produtores que adotem práticas sustentáveis e o incentivo a programas como o RenovAgro Ambiental, que incluem ações de reflorestamento, cobertura do solo e prevenção de incêndios.

Desafios e preocupações para 2025/2026

O uso obrigatório do Zoneamento Agrícola de Risco Climático (Zarc) para operações de custeio acima de R$ 200 mil, embora seja uma medida técnica necessária para mitigar riscos, pode acarretar dificuldades operacionais, especialmente em regiões onde o zoneamento ainda é incipiente ou defasado.

Outros pontos críticos destacam a pouca evolução nas linhas de financiamento para tecnologias digitais e adaptação climática, setores fundamentais para a modernização do campo. As taxas elevadas impactam diretamente linhas importantes como Moderfrota e Prodecoop, peças-chave para a aquisição de máquinas e infraestrutura por cooperativas e produtores, limitando a capacidade de investimentos futuros.

Futuras perspectivas

A análise conjunta dos especialistas indica que o Plano Safra 2025/2026, apesar de volumoso em números, apresenta avanços discretos frente ao cenário econômico e às demandas do setor agrícola. A elevação das taxas de juros aliada à diminuição dos subsídios pode levar a uma redução do acesso ao crédito, afetando diretamente a produção e a competitividade dos agricultores brasileiros.

Além disso, há um apelo para que políticas de seguro rural recebam atenção maior, uma vez que o corte de recursos para subvenção ao seguro compromete a proteção dos produtores em momentos de adversidade. O cenário exige uma atuação focada em ampliar os mecanismos de apoio, melhorar o financiamento a tecnologias inovadoras e garantir condições efetivas para investimentos que contribuam com a sustentabilidade e a resiliência do agronegócio.


Última atualização em 2 de julho de 2025

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