A guerra acabou? Escalada de tensão em conflito no Oriente Médio tem impacto limitado, mas alerta governo e exportadores
O recente agravamento do conflito no Oriente Médio entre Irã e Israel, que ganhou nova intensidade com a participação dos Estados Unidos, gerou preocupações imediatas para o comércio do agronegócio brasileiro. Apesar do cessar-fogo anunciado pelo então presidente Donald Trump, a tensão na região continua em evidência, despertando alerta em setores governamentais e privados sobre possíveis consequências para o fluxo comercial, especialmente para países que são destinos estratégicos das exportações brasileiras.
Embora o impacto prático até o momento seja considerado limitado, o cenário geopolítico delicado neste importante corredor comercial coloca em xeque a estabilidade de cadeias produtivas e logísticas, com reflexos diretos e indiretos para a agricultura e indústria de proteína animal no Brasil.
Importância do Oriente Médio para o agronegócio brasileiro
Os países do Oriente Médio representam um mercado em expansão para o agronegócio brasileiro, especialmente para produtos como milho, carnes bovina e de frango. A região já responde por aproximadamente 7% do total das exportações brasileiras do setor, sendo um dos destinos que mais crescem. Essa importância comercial faz com que qualquer instabilidade regional seja acompanhada de perto pelo governo e pelo setor exportador.
De acordo com a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), caso a instabilidade persista, a indústria brasileira de frangos poderia enfrentar dificuldades para exportar cerca de 28 mil toneladas mensais para países como Iraque, Bahrein e Kuwait. Apesar dessas dificuldades, o setor sinaliza a busca por alternativas para manter o fluxo exportador, evidenciando a complexidade do cenário para empresas e governo.
Impactos logísticos e comerciais do conflito
O fechamento do Estreito de Ormuz, principal canal de navegação para o Golfo de Omã, é uma das maiores ameaças ao comércio brasileiro na região. O parlamento iraniano aprovou essa possibilidade como resposta ao conflito, o que poderia comprometer significativamente a entrega de proteínas animais e outros produtos no Oriente Médio. No entanto, especialistas apontam que historicamente os navios encontram rotas alternativas para driblar bloqueios, o que pode amenizar o impacto imediato.
Além dos desafios logísticos, o conflito pode provocar elevação nos custos de produção devido ao aumento do preço do petróleo e do diesel, essenciais para o transporte e produção agrícola. O Brasil, embora pouco dependente do Irã para fertilizantes, sofre impacto indireto caso haja aumento nos preços internacionais da ureia — matéria-prima crítica para insumos agrícolas. A Nigéria e a Rússia aparecem como fornecedores alternativos no cenário de conflito.
Reações e medidas do governo brasileiro
O governo brasileiro, por meio do Ministério da Agricultura e de representantes como o secretário Luis Rua, adota uma postura de monitoramento rigoroso diante da situação. Embora reconheça o “ineditismo” do conflito tripartite, a avaliação é de que o Brasil pode superar as dificuldades logísticas, desde que haja estabilidade diplomática e manutenção do fluxo comercial.
A política externa brasileira mantém o foco em uma posição neutra e favorável ao diálogo, buscando preservar mercados no Oriente Médio e garantir a continuidade das exportações. Essa postura diplomática é vista como estratégica para minimizar impactos e ampliar a atuação do Brasil em mercados sensíveis a conflitos políticos e militares.
Desafios enfrentados pelo setor privado
O presidente da ABPA, Ricardo Santin, destaca que o setor privado está em constante alerta devido à sobreposição de crises, como o conflito no Oriente Médio e problemas sanitários, como a influenza aviária. Embora a exportação mensal de mais de 400 mil toneladas de proteína animal ao Oriente Médio não tenha sua rentabilidade comprometida diretamente pelo conflito, as alternativas logísticas para manter esse volume seriam “custosas e complexas”.
Empresas ligadas à Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec) acompanham tecnicamente o desdobramento da situação e ainda não se pronunciaram formalmente, o que demonstra a cautela diante de um cenário dinâmico e sujeito a mudanças rápidas que podem afetar o desempenho das vendas externas ao longo dos próximos meses.
Futuras Perspectivas e Cenários para o Agronegócio Brasileiro
Especialistas em contratos internacionais de agronegócio advertiram que a escalada do conflito no Oriente Médio pode provocar impactos negativos adicionais no custo da produção, elevando despesas com petróleo, fertilizantes e logística. Esses fatores podem esticar trajetos comerciais e reduzir a competitividade dos produtos brasileiros, especialmente em países muçulmanos que demandam carne halal, um nicho em crescimento na região.
A diplomacia e as decisões políticas do Brasil terão papel fundamental na gestão dos riscos comerciais decorrentes do conflito. O equilíbrio entre manter uma postura neutra, evitar envolvimento direto e favorecer acordos diplomáticos poderá garantir maior sustentabilidade nas relações comerciais, preservando o fortalecimento do agronegócio brasileiro no mercado internacional em um momento de incerteza global.
Última atualização em 26 de junho de 2025