Aumento da mistura de biodiesel promete energia mais sustentável e redução de custos no setor automotivo

Cenário Atual da Mistura de Biodiesel no Brasil

Em março de 2025, o Brasil manteve a mistura de biodiesel ao óleo diesel comum em 14%, sem avanço para o B15. Esta decisão contrariou as expectativas do setor, que contava com um aumento na porcentagem de biodiesel na mistura. O governo justificou a manutenção do B14 principalmente pela preocupação com os impactos nos preços e na inflação, especialmente pelo alto custo do óleo de soja até dezembro de 2024.

Apesar dessa estagnação, a produção de biodiesel no país registrou crescimento. De acordo com dados da Abiove (Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais), a manufatura do combustível aumentou 8,2% no primeiro trimestre de 2025 e cresceu 10,1% apenas em março, comparado ao mesmo período do ano anterior. Esses números revelam um cenário produtivo favorável, mesmo com a restrição no aumento da mistura exigida.

Redução de Preços e Seu Impacto no Setor

O preço do biodiesel apresentou uma queda significativa de cerca de 15% desde dezembro de 2024, conforme dados semanais da ANP (Agência Nacional do Petróleo). Essa redução é um fator positivo que contribui para facilitar a adoção de maiores misturas de biodiesel no diesel comum, reverberando uma diminuição de custos para o setor e a cadeia produtiva ligada ao biocombustível.

Da mesma forma, o preço do óleo de soja, insumo principal para produção do biodiesel, caiu 5,7% entre janeiro e abril deste ano. A combinação da queda nos preços do biodiesel e da matéria-prima cria um cenário propício para ampliar a mistura atual para B15, ou seja, 15% de biodiesel, conforme avalia Daniel Furlan, diretor de economia e assuntos regulatórios da Abiove. Ele considera que a oportunidade para tal avanço está “ainda mais clara” graças a esses fatores de mercado.

Investimentos e Produção – Respostas das Indústrias

Apesar da falta de aumento imediato na mistura de biodiesel, as indústrias do setor têm mantido investimentos significativos, especialmente em esmagadoras de soja. Havia expectativa de que a estagnação no percentual de mistura pudesse gerar uma “sobra” de biodiesel, afetando a produção e o mercado, mas isso não se confirmou. Pelo contrário, a indústria tem conseguido produzir mais e a custos menores, sustentando um crescimento saudável no primeiro trimestre de 2025.

Esse aumento na capacidade produtiva também está alinhado à previsão da Abiove para o processamento de soja, cujo volume previsto para 2025 permanece em alta, com expectativa de atingir 57,5 milhões de toneladas, frente a 55,8 milhões em 2024. A continuidade desse ritmo pode levar a reajustes futuros para cima, fortalecendo ainda mais a cadeia produtiva do biodiesel no país.

Desafios Regulatórios e Expectativas do Setor

A decisão sobre o aumento da mistura de biodiesel – do B14 para o B15 – depende exclusivamente do CNPE (Conselho Nacional de Política Energética), cuja próxima reunião ordinária está marcada apenas para dezembro. Isso mantém o setor em uma situação de espera, já que não houve, até o momento, convocação de reuniões extraordinárias para discutir a alteração, algo que ocorre habitualmente quando há vontade política de aprovação.

O setor tem tentado agendar encontros com ministérios responsáveis para pressionar pela implementação gradual da lei “Combustível do Futuro”, que prevê o aumento do uso de biocombustíveis. A indefinição no calendário regulatório cria apreensão, sobretudo diante de uma safra recorde de soja e biodiesel, alta oferta de óleo e a necessidade de descarbonização da economia brasileira.

Demanda Crescente e Pressão para Aumento da Mistura

Outro aspecto que impulsiona a discussão sobre o aumento do percentual de biodiesel é o crescimento do consumo total de óleo diesel no Brasil, que subiu 1,9% no primeiro trimestre de 2025 em relação ao mesmo período do ano anterior. Esse aumento está relacionado à safra recorde de grãos, especialmente milho, que eleva a demanda por transporte rodoviário, criando maior necessidade para o diesel e biodiesel.

Mesmo mantida a mistura em 14%, essa maior demanda tem pressionado o consumo de biodiesel. Caso o B15 tivesse sido implementado, a demanda pelo combustível teria ampliado em cerca de 650 milhões de litros, necessitando aproximadamente 700 mil toneladas adicionais de óleo de soja. Esse dado reforça o potencial econômico e ambiental do aumento da mistura para atender essa demanda crescente.

Futuras Perspectivas para o Setor e Exportações

Para a safra 2024/2025, a Abiove mantém a produção de soja estável em 169,7 milhões de toneladas, com uma leve alta nos estoques finais – de 5,4 milhões para 5,8 milhões de toneladas. As exportações continuam em patamar elevado, com previsão de 108,2 milhões de toneladas, número superior ao registrado no ano anterior, que foi de 98,8 milhões.

Embora haja fatores externos, como negociações comerciais entre Estados Unidos e China, que possam influenciar o mercado internacional, o setor brasileiro permanece estável, com leve ajuste nas projeções. Enquanto isso, permanece a expectativa de que aumentos futuros na mistura de biodiesel incentivem a indústria a produzir mais e contratem mais pessoas, ajudando tanto a economia quanto as metas ambientais do país.